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Centenas de rios glaciais estão fluindo por cavernas de gelo na Groenlândia

O estudo tem implicações importantes para a compreensão sobre a camada de gelo da Groenlândia e a rapidez com que partes dela se quebram. 

Captura de tela: NASA Goddard no Youtube

Uma nova pesquisa publicada na Geophysical Research Letters nesta segunda-feira (5) mostra que as geleiras da Groenlândia podem estar se movendo mais rapidamente do que pensávamos. E tudo devido ao fluxo dos rios em sua superfície.

Em 2015, um grupo de cientistas fez uma expedição financiada pela Nasa à geleira Russell, no oeste da Groenlândia. Lá, eles acamparam e observaram a superfície gélida, bem como os processos complicados que ocorrem sob a camada de gelo, que ditam a velocidade com que as geleiras escorregam para o oceano. Controlar o que está acontecendo é vital, uma vez que mais gelo no oceano significa maior aumento do nível do mar, ameaçando as costas em todos os lugares.

Segundo o documento, a equipe examinou como a água flui através das rachaduras no gelo que formam os rios. Observando as imagens de satélite da camada de gelo, eles perceberam que grandes quantidades de água fluem por essas lacunas. Mas a principal surpresa foi a descoberta de que o volume de água que passa por eles ultrapassa o volume de água dos lagos glaciais.

“Assim como a superfície terrestre, os lagos chamam a atenção porque são muito grandes, mas a ação real, o fluxo real, é através desses rios”, explicou Laurence Smith, coautor do estudo e professor de estudos ambientais da Brown University. O vídeo explicativo você pode conferir abaixo:

Os autores prestaram muita atenção em como esses rios de água derretida que correm pelo gelo formam cavernas, chamadas de moulins, quando encontram fendas ou outras partes fracas da geleira e descem pelo gelo, criando buracos. Os autores mapearam 539 desses grandes fluxos de água derretida e descobriram que 100% deles terminam em uma dessas cavidades. “Nesse ponto, o rio é capturado e para de fluir sobre a superfície do manto de gelo e, em vez disso, despenca para o interior”, disse Smith no vídeo.

Para medir a rapidez com que esses rios se movem, eles enviaram drifters autônomos por três rios que fizeram medições de GPS para revelar a velocidade com que a água estava fluindo. Eles também trabalharam em turnos para medir constantemente o fluxo de água por 72 horas seguidas. Para isso, eles usaram feixes sônicos para medir a profundidade da água e a velocidade da corrente. O instrumento foi preso a uma prancha daquelas de brincar na piscina (sério).

Como ficou claro, era um trabalho perigoso. Como esses rios se movem rapidamente, os pesquisadores tiveram que tomar cuidado para não caírem e serem arrastados para dentro de uma das cavernas. Com essas medições, a equipe buscou saber como os volumes crescentes de água aumentavam a pressão nas cavernas, levando a velocidades mais altas de fluxo para dentro delas.

Segundo os autores, essa combinação de pressão da água e fluxo rápido do seu derretimento está tornando o gelo mais frágil e fazendo com que partes da lâmina se desprendam mais rapidamente. E isso vale para cavernas de todos os tamanhos, desde 60 quilômetros quadrados a 2.800 quilômetros quadrados. O estudo marca a primeira vez que observações de campo demonstram esse fenômeno. As descobertas também mostram que quando a água aumento sob a geleira, mais gelo deslizou para o oceano apenas algumas horas depois.

Essa não foi a única relação estranha que eles descobriram. Uma nova viagem à Groenlândia em 2016 revelou que parte da água derretida estava se acumulando logo abaixo da superfície do gelo, formando uma espécie de lama meio congelada. Até agora, os cientistas presumiram que podiam medir a rapidez com que o gelo está derretendo examinando o quanto dessa água derretida está no topo das geleiras e se acumulando nos moulins. Contudo, as novas descobertas indicam que esse método pode não funcionar.

O estudo tem implicações importantes para a compreensão dos cientistas sobre a camada de gelo da Groenlândia e a rapidez com que partes dela se quebram. Ele adiciona um novo componente para melhorar os projetos sobre o que poderia acontecer com o manto de gelo que retém água suficiente para elevar o nível do mar em 6,1 metros se derreter.

“Essas descobertas ajudarão a refinar os modelos de deslizamento de gelo, que são extremamente importantes para prever futuras contribuições da camada de gelo para o aumento global do nível do mar”, disse Smith em um e-mail.

As novas descobertas significam problemas para uma região que já está em perigo. Na semana passada, outro estudo descobriu que o frio do inverno não é suficiente para impedir que pelo menos alguns dos lagos da Groenlândia vazem para o manto de gelo. E nos últimos anos, a ilha também viu um aumento nos incêndios florestais, temperaturas mais altas no verão e muito mais sol. Cada um desses produtos da crise climática está acelerando o derretimento do gelo.

Esta também é uma notícia nada agradável para as 56.000 pessoas que vivem na ilha da Groenlândia, a maioria delas indígenas. As comunidades locais dependem do gelo para viagens e caça. Claro, o derretimento do gelo na Groenlândia também é ruim para o resto de nós, porque contribui para o aumento do nível do mar, que pode prejudicar as comunidades costeiras em todo o mundo. Para desacelerar esse processo o máximo possível, nossa única opção é controlar as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.

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