É hora do robô inútil da Honda, o Asimo, descansar em paz
A Honda acaba de anunciar que irá cessar o desenvolvimento do Asimo, aquele humanoide fofo que viaja pelo mundo em nome do marketing da companhia. O Asimo tinha 18 anos de idade e já foi anunciado por aí como um exemplo do futuro da robótica. No final das contas, ele não chegou nem à idade necessária para comprar uma cerveja nos EUA – mas se ele viesse para o Brasil, estaria liberado.
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Não me leve a mal, o Asimo era bacana. O andróide está conosco desde o início do século 21 e sempre pareceu ser um vislumbre do futuro, nos fazendo imaginar quando robôs iriam até a cozinha e nos preparariam sanduíches meio tortos.
Talvez essa é uma funcionalidade que não vai se materializar nem tão cedo, pelo menos não da maneira que imaginamos na virada do século. Isso porque a Honda, que é uma empresa que fabrica principalmente carros e motocicletas, nunca se interessou em tornar o Asimo disponível no mercado. Ele sempre foi uma jogada de marketing. O logotipo da Honda sempre estava estampado no peito e nos ombros de Asimo, o que o parecia ter acabado de sair de uma corrida da NASCAR.
Isso sempre me incomodou e, com o tempo, eu passei a desdenhar a Honda por deixar que o seu robô interessante se parecesse apenas um anunciante ambulante.
Asimo é um acrônimo para “Advanced Step in Innovative Mobility” (Passo Avançado na Inovação de Mobilidade, em tradução livre), uma expressão vaga de uma inovação inconclusiva, já que nunca vimos de fato. Com pouco mais de dois metros de altura e pesando 119 quilos, Asimo foi descrito como “o robô humanoide mais avançado do mundo”. A propósito, a Honda é quem escreve essa descrição.
Embora Asimo tenha sido, de fato, o primeiro robô a andar sobre duas pernas, não foram muitas (se houve alguma) de suas tecnologias que fizeram sucesso entre seus pares. Apesar disso, o Nikkei Asian Review noticia que seus avanços ajudaram no desenvolvimento de um cortador de grama inteligente da Honda que custa cerca de US$ 2.500 (pouco mais de R$ 9.500, em conversão direta). Não é nem preciso dizer que eu esperava mais depois de 18 anos e sete gerações do Asimo.
Pelo menos temos muitas fotos do andróide. Ao ler os destaques da biografia de Asimo, parecia que estava passeando por uma caverna dos sonhos esquecidos. Teve a vez que ele abriu a bolsa de valores de Nova York (NYSE) em 2002, e a ocasião em que ele andou pelo tapete vermelho na premiere do filme Robôs, estrelado por Amanda Bynes. Nesse mesmo ano, Asimo apareceu na Disneylândia.
Três anos depois, Asimo conduziu a Orquestra Sinfônica de Detroit em uma impressionante versão de “The Impossible Dream”, uma canção sobre as ambições grandiosas de um louco que luta contra moinhos de vento. Avançando alguns anos, vimos Asimo jogar futebol com o ex-presidente dos EUA Barack Obama.
E nada disso quer dizer que o Asimo foi um mau robô. É impressionante vê-lo andar por aí e falar, conduzir orquestras e coisas assim! Eu também não quero subestimar o valor de se ter um exemplo de robótica moderna com a qual as pessoas possam se relacionar e se sentirem conectadas.
O robô tem um ar divertido que muita gente adora. Também faço um elogio a Honda por enviá-lo a muitas excursões educacionais e animais jovens interessados em robótica, além de ter se reunido com chefes de estado e até mesmo com realezas.
O que me irritou um pouco foi o fato da Honda não ter avançado com o Asimo. Seria muito legal se ele pudesse dirigir um carro para você, ou se ele tivesse se tornado assistente em lares de idosos e hospitais infantis. Seria incrível se a Honda fizesse uma versão do Asimo para os consumidores, talvez um mordomo ciborgue ou apenas um pequeno amigo como o Jibo, o primeiro robô familiar do mundo.
As descobertas obtidas a partir do desenvolvimento do Asimo, sem dúvidas, ajudou a Honda a desenvolver outros projetos. A empresa até já anunciou alguns deles, como o dispositivo de mobilidade pessoal Uni-Cub e o exoesqueleto Walking Assist. A companhia também demonstrou uma nova linha de novos robôs na CES este ano, embora todos esses produtos ainda pareçam estar na fase de conceito ou protótipo.
O Asimo, na minha opinião, parte deste mundo como a personificação de uma enganação biônica da Honda. Ele se junta a outros robôs amigáveis com câmeras, como Atlas e Sophia, da Boston Dynamics, o autômato artificialmente inteligente que, na verdade, é bem burro.
Cada um deles representa sua própria versão do progresso na criação de um verdadeiro robô humanóide, mas, do ponto de vista de uma pessoa comum, todos eles servem apenas para vídeos divertidos no YouTube e uns virais pela internet.
Então, se você se lembrar do Asimo por acaso, tente pensar nas coisas legais que ele fez.
Imagem do topo: Getty