Estes robôs incríveis vão competir para explorar os segredos do fundo do mar
Sabemos muito pouco sobre o fundo do mar do nosso planeta, mas isso vai mudar conforme a tecnologia de observação submarina autônoma ficar cada vez melhor. Para esse fim, quase duas dúzias de times estão competindo para desenvolver robôs que podem investigar, mapear e conduzir experimentos nas profundidades extremas, sob severas restrições de tempo. Eles também estão competindo por um prêmio em dinheiro de US$ 7 milhões.
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Ainda neste ano, 21 equipes vão competir em dois rounds de testes pelo Shell Ocean Discovery XPRIZE, que vai pedir para que eles lancem dispositivos robóticos autônomos a partir da costa ou do ar, para que explorem uma área do solo marinho escolhida (ainda a ser anunciada), com o mínimo de intervenção humana, e eles precisam fazer isso em menos de um dia. Os times vão usar tudo, de enxames de robôs e drones híbridos até submarinos autônomos e sondas marinhas de sonar.
Até agora, mapeamos apenas cerca de 5% do solo marinho do nosso planeta. Ainda há muito a descobrir sobre o que acontece lá embaixo, incluindo dados geográficos, vida marinha das profundezas e até relíquias arqueológicas não descobertas. Essa mais recente disputa XPRIZE, co-financiada pela Royal Dutch Shell e National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), pretende incentivar desenvolvimentos tecnológicos nessa área.
É importante notar também que essa disputa é co-financiada por uma empresa de petróleo. Para a Shell, existe um claro aspecto de utilidade nisso tudo. A exploração do solo marinho é uma parte indelével da descoberta de combustível fóssil, e parece que a companhia de energia está pedindo para outras pessoas fazerem a pesquisa para eles. O solo marinho também contém metais preciosos e outros recursos que ainda não estamos prontos para explorar. No final das contas, essa disputa permitiria a eventual exploração de recursos do solo marinho, e inevitavelmente causar algum dano ecológico.
Um painel de juízes escolheu os 21 semifinalistas de 32 competidores iniciais que se inscreveram em 2015. Os times vêm de 25 países diferentes e são formados por quase 350 participantes (incluindo 170 estudantes). Para cumprir as demandas da disputa, os competidores vão apresentar uma gama impressionantemente variada de soluções, incluindo planadores, drones aéreos e submersos, veículos submarinos autônomos, inteligência artificial e grandes plataformas de computação. Só aqueles que cumprirem as exigências da primeira fase poderão seguir para a segunda (e final) fase.
Para o primeiro round, as equipes vão precisar operar seus dispositivos a uma profundidade de dois mil metros. Nenhum cabo ou intervenção humana será permitido, mas os operadores vão poder controlar seus dispositivos de uma base remota. Quando os dispositivos forem lançados, os times vão competir para mapear mais rapidamente pelo menos 20% de uma área designada de 500 quilômetros quadrados (cerca de dez vezes o tamanho da ilha de Manhattan).
As sondas vão precisar produzir mapas topográficos com pelo menos cinco metros de resolução horizontal e meio metro de resolução vertical. Os times também vão precisar identificar e produzir imagens de pelo menos cinco objetos arqueológicos, biológicos ou geológicos em qualquer profundidade, como navios afundados, criaturas aquáticas ou montanhas submarinas. As equipes terão apenas 16 horas para cumprir essas tarefas.
Não vai ser fácil. Nessas profundidades, a comunicação com os dispositivos aquáticos será difícil. A dois mil metros, o ambiente é escuro e frio, e a pressão da água é de 2.800 psi.
Dos 21 semifinalistas, apenas dez times vão avançar para o segundo round e dividir um prêmio preliminar de U$ 1 milhão. O segundo round é bem parecido, exceto pelo fato de os desafios serem duas vezes mais difíceis; a profundidade vai aumentar para dois mil metros, pelo menos 50% do solo marinho precisa ser mapeado, e dez dados científicos, documentados. Os times terão 24 horas nesse round.
O time que mais se aproximar desses objetivos irá receber o grande prêmio de US$ 4 milhões. O segundo lugar vai ganhar US$ 1 milhão. A pontuação será feita com base em quem conseguir mapear com maior resolução o solo marinho, mantendo os requisitos mínimos de velocidade, autonomia e profundidade.
Para realizar essas tarefas, os times mostraram ideias bem interessantes. A equipe SubUAS, da Universidade Rutgers, desenvolveu um drone híbrido capaz de voar por cima da superfície do oceano e então mergulhar até o solo marinho. Essa tecnologia vai permitir ao grupo lançar o veículo e rapidamente chegar ao local do teste.
Inspirado por abelhas operárias e pelo seu comportamento, o time francês Eauligo vai lançar um enxame de insetos nadadores de uma “colmeia” central. Esses micro-submarinos vão dividir o trabalho, o que deve ajudar muito na restrição do tempo. De forma semelhante, a equipe do Reino Unido Team Tao também vai usar tecnologia de enxame, mas sua solução é baseada no comportamento de formigas. Inspirados pelo antigo conceito chinês do ‘Tao’, o time diz que está trabalhando com as forças naturais ao invés de contra elas.
A equipe Blue Devil Ocean Engineering, da Pratt School da Universidade de Duke e da Nicholas School of the Environment, veio com uma ideia completamente diferente. O grupo vai lançar um Veículo Aéreo Não-pilotado (UAV, na sigla em inglês) que vai arremessar e espalhar sondas com sonar. Quando elas afundarem até o fundo do oceano, vão criar mapas 3D do solo marinho. Os dispositivos vão emergir eventualmente e serão resgatados por drones.
Outros semifinalistas incluem os Arggonauts, da Alemanha, que vão lançar um enxame de veículos submarinos autônomos, o Exocetus, com seus “planadores subaquáticos altamente eficientes”, e o Kuroshio, do Japão, que planeja usar robôs submarinos.
Como bônus, o NOAA vai dar US$ 1 milhão adicional ao time com maior capacidade de “farejar” um objeto específico no oceano ao seguir os sinais biológicos e químicos até sua origem. Essa forma de tecnologia poderia, por exemplo, permitir que salvadores encontrem rapidamente o local em que um avião tenha caído no oceano, ou permitir que biólogos marinhos estudem áreas quentes no fundo do mar (como fontes termais). Uma dúzia de times vai competir por esse prêmio.
Dadas as demandas do concurso, é inteiramente possível que nenhuma equipe alcance os objetivos. De acordo com Jyotika Virmani, diretora-sênior do XPRIZE, isso não é necessariamente um problema.
“Quando projetamos um concurso, tentamos torná-lo o mais alcançável possível”, ela disse ao Gizmodo. “Mas pode não existir um vencedor.” Independentemente do resultado, Virmani diz que muitos dos times vão entrar em contato entre si, e a pesquisa e o desenvolvimento nessa área vão continuar além da competição.
Deve ser uma disputa interessante! O primeiro round começa no segundo semestre.