A empresa de táxis autônomos Cruise encerrou suas atividades nos EUA após diversos incidentes colocarem em risco a segurança de passageiros e pedestres. Dentre os problemas está a falta de um sistema de segurança que detecte a presença de crianças no entorno do veículo, conforme revelado pelo site Intercept.
Isso se soma a outros problemas graves que vieram à tona recentemente. Segundo uma reportagem do jornal The New York Times, os funcionários da empresa eram constantemente acionados para controlar o carro remotamente para resolver falhas no sistema autônomo.
Em sua defesa, o CEO da Cruise, Kyle Vogt, alegou que a taxa de intervenção é de apenas 2% a 4% do total das viagens. Convertendo em distância, isso daria uma intervenção humana em cada quatro a oito quilômetros.
Isso levantou questões também com relação às condições de trabalho dos operadores remotos. Por exemplo, o que acontece quando um funcionário está ocupado e recebe uma solicitação para intervir? Vogt respondeu ao site Hacker News que 98% dos casos envolvem confirmar operações simples ou identificar objetos, que costumam ser respondidos em poucos segundos.
Mesmo assim, um caso grave fez com que o estado da Califórnia cassasse a licença do Cruise após mais de um ano de operações. No começo de outubro, uma pedestre foi atropelada por um motorista e arremessada em direção à pista contrária. Logo em seguida, um veículo autônomo da Cruise passou por cima da mulher e a arrastou por cerca de seis metros antes de parar.
Logo após o cancelamento da licença na Califórnia, no final de outubro, a própria Cruise decidiu suspender as atividades para avaliar as falhas de segurança. Só que alguns problemas já haviam sido detectados pela empresa, segundo o site Intercept, mas não está claro se eles foram resolvidos.
Em testes feitos internamente, o veículo autônomo teve dificuldades para identificar crianças pequenas. Em uma simulação, o carro até conseguiu detectar um boneco do tamanho de um bebê, mas mesmo assim ele acabou sendo atingido pelo espelho retrovisor. Em resposta à reportagem, a Cruise alegou que a falha na detecção de crianças foi corrigida em uma atualização de software.
Porém, a National Highway Traffic Safety Administration (Administração Nacional de Segurança Rodoviária) lançou uma investigação em outubro que levantou diversos casos de acidentes envolvendo os carros da Cruise. A empresa diz que vai trabalhar em conjunto com o órgão para aprimorar a qualidade do software.
O que é a Cruise?
Fundada em 2013 por Kyle Vogt e Dan Kan, a Cruise surgiu como uma startup de desenvolvimento de carros autônomos. Em 2016, General Motors adquiriu a empresa em um negócio estimado em US$ 1 bilhão.
Em setembro de 2021, o estado da Califórnia emitiu uma licença de operação em caráter experimental para os táxis autônomos para a Cruise. Em julho de 2022, a empresa conseguiu uma licença de funcionamento, permitindo cobrar pelas viagens. Em setembro de 2022, a empresa tinha uma frota de 100 robotáxis espalhada por San Francisco e tinha planos de aumentar para até 5 mil.
Antes de suspender suas operações, a Cruise também operava nos estados do Arizona, no Texas e na Flórida. Ainda não está claro se a empresa voltará às ruas algum dia, já que a concorrente Google Waymo, que também oferece viagens em carros autônomos, continua operando normalmente.