O primeiro teste bem-sucedido com uma arma antissatélite realizado pela Índia produziu um campo de detritos em órbita com pelo menos 400 pedaços, segundo o administrador da NASA, Jim Bridenstine. Esses destroços agora ameaçam a EEI (Estação Espacial Internacional, ou ISS), disse ele. Bridenstine também disse que as ações da Índia não são “compatíveis com o futuro dos voos espaciais humanos”.
O administrador fez os comentários ontem enquanto conversava com funcionários da NASA em uma reunião na prefeitura, relata o site Space. A agência espacial identificou aproximadamente 400 pedaços do satélite destruído, dos quais 60 têm mais de 10 centímetros de largura — grandes o suficiente para serem rastreadas pelos radares terrestres dos EUA, de acordo com o site SpaceNews. De maneira preocupante, algumas dessas peças teriam entrado em órbitas iguais ou mais altas que as da Estação Espacial Internacional, o que pode colocar a base em risco.
O campo de destroços foi criado em 27 de março, quando a Índia destruiu seu próprio Microsat-R com uma arma antissatélite (ASAT) lançada do solo. A Índia é agora o quarto país a ter testado ASATs — os outros são os EUA, a antiga União Soviética e a China. O inusitado teste, chamado Mission Shakti, foi uma demonstração da capacidade recém-conquistada da Índia no espaço, e um aviso para as nações rivais ficarem longe da frota de satélites da Índia.
Família indiana assiste a pronunciamento do primeiro-ministro Narendra Modi em 27 de março de 2019. Imagem: AP
O satélite condenado estava a uma altitude de aproximadamente 300 quilômetros quando foi destruído, uma altura baixa o suficiente para que os detritos “caiam e voltem à Terra dentro de semanas”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Índia após o teste. Testes anteriores, no entanto, sugerem que poderia demorar muito mais do que isso. Em 2008, os EUA destruíram um satélite extinto a uma altitude de 250 quilômetros, e demorou cerca de 18 meses para que todo o material voltasse para a Terra, de acordo com a SpaceflightNow.
De forma perturbadora, a NASA diz que cerca de duas dúzias de peças do satélite indiano destruído foram lançadas a órbitas mais altas que a EEI, que atualmente está a uma altitude de 410 km.
“Isso é terrível, terrível. Criar uma situação que manda fragmentos para um apogeu que vai além da Estação Espacial Internacional”, disse Bridenstine na prefeitura. “Esse tipo de atividade não é compatível com o futuro dos voos espaciais humanos. É inaceitável, e a NASA precisa ser muito clara sobre o impacto para nós.”
O medo é que um fragmento do satélite destruído possa atingir e danificar a ISS. Mesmo o objeto mais lento na órbita terrestre baixa se move a velocidades de aproximada 7,8 quilômetros por segundo, ou 28 mil quilômetros por hora, então um impacto com a estação espacial pode ser catastrófico.
Bridenstine continuou: “Somos encarregados de comercializar a órbita baixa da Terra. Somos encarregados de ativar mais atividades no espaço do que jamais vimos antes, com o objetivo de beneficiar a condição humana, seja com produtos farmacêuticos, ou imprimindo órgãos humanos em 3D para salvar vidas aqui na Terra, ou fazendo coisas no espaço que não são possíveis aqui em baixo, com a gravidade da Terra.”
Tais atividades entram em risco por esses tipos de eventos, disse ele, e “quando um país faz isso, então outros países sentem a necessidade de fazer o mesmo”, disse ele. O chefe da NASA está preocupado com um efeito cascata, no qual outros países agora se sentirão obrigados a demonstrar sua própria capacidade antissatélite. (Claro, a NASA testou sua própria arma antissatélite em 2008.)
A NASA, junto com o Centro de Operações Espaciais Combinadas das forças armadas americanas, estimou que o risco para a EEI aumentou 44% em um período de 10 dias. Bridenstine assegurou ao público presente na audiência na prefeitura que as seis pessoas atualmente a bordo da Estação não estão em perigo imediato. A EEI ainda está segura, disse ele, acrescentando que ela pode ser manobrada caso seja necessário, uma situação de probabilidade “baixa”, nas palavras do administrador.
Laura Grego, da Union of Concerned Scientists, disse que os quase 2.000 satélites atualmente em órbita estão em risco por esses testes.
“Destruir satélites em órbita em faixas de altitude que são usadas para satélites civis e militares também pode ter efeitos cascata, produzindo nuvens perigosas de detritos que poderiam permanecer em órbita por décadas ou séculos, desabilitando ou destruindo quaisquer satélites que colidam com elas”, disse Grego em um comunicado. “Os Estados Unidos e outros países precisam encontrar uma maneira de manter o espaço seguro para todos usarem e não criar novos riscos de conflitos na Terra.”