Será que dentro de alguns anos os espelhos estarão extintos?
Me arrisco a dizer que em um futuro próximo, viveremos sem espelhos. Eu sei, soa absurdo, mas entenda meu raciocínio.
Quando eu mudo de faixas enquanto dirijo, eu não olho mais para os retrovisores para checar se vou bater em algum carro. Na maioria das vezes, eu sequer olho para a janela, eu olho apenas para o painel sem nem pensar duas vezes. E me dê o benefício da dúvida antes de pensar que eu não deveria dirigir — o visor central do painel do meu carro é ligado à uma câmera que vê a pista muito melhor do que qualquer espelho.
Ainda não acredita em mim? Veja por você mesmo:
Este é o sistema LaneWatch da Honda, que me conta exatamente quando é seguro mudar de faixas. Além do visor de 7 polegadas me dar uma visão maior e muito mais clara da pista do que o espelho retrovisor — eliminando por completo o ponto cego — o marcador vermelho presente na tela me diz quão próximo meu carro está de outros veículos.
Veja: esse carro está atrás da linha vermelha, o que significa que é seguro mudar de faixa.
Na frente da linha vermelha? A não ser que eu queria bater, é melhor eu não virar o volante.
Eu ainda mantenho a visão da pista a minha frente enquanto olho a tela. Não preciso mais virar a cabeça para o lado, para ter uma breve visão da pista pelo retrovisor enquanto deixo de ver o que acontece em minha frente.
Outra coisa: não preciso mais olhar para trás quando dou marcha à ré, já que a traseira do carro também conta com uma câmera de ampla visão e marcadores auxiliares no visor que viram conforme eu ajusto o volante do veículo. Consigo fazer balizas sem nem olhar para trás ou brigar com o volante porque os gráficos na tela me dizem exatamente como estacionar.
Talvez isso não seja novidade para você. Talvez você já tenha dirigido um carro moderno. Mas o carro que eu dirijo é um Honda Fit EX de 18 mil dólares. Um carro de custo tão baixo com uma tecnologia tão moderna me faz perguntar quanto tempo vai levar para isto se tornar padrão em todo carro, como os airbags e os cintos de segurança.
Comecei a pensar nisso pensando nos espelhos dos carros, enquanto dirigia o meu. Mas aí comecei a pensar nos outros espelhos no mundo.
As mulheres usam pequenos espelhos para checar a maquiagem e o cabelo (tá bom, alguns homens usam também). Ou usavam, porque já estamos usando a câmera frontal de nossos celulares para checar estas coisas — tirar restos de comida dos dentes, por exemplo. Quanto tempo vai levar até que essas câmeras sejam boas o suficiente para que sejam usadas para aplicar maquiagem? Quanto tempo vai levar até que elas ajudem a colocar maquiagem com gráficos auxiliares, como os marcadores vermelhos do visor do meu carro?
Não tem muito tempo, comprei um espelho com alça em sanfona baratinho da IKEA para me barbear melhor. E se eu não precisasse desse tipo de coisa porque o espelho do meu banheiro aproximaria a imagem para mim?
Em espelhos grandes, aqueles que usamos para trocar de roupa, trarão mais dificuldade para incorporar essa tecnologia. De qualquer forma, quando um espelho se torna uma tela conectada a uma câmera, um mundo de possibilidades se abre.
Crédito: Intel
Imagine testar roupas que você ainda não comprou, fazendo combinações com itens que você já possui. E tudo sem precisar procurar no fundo do seu armário. E ainda: se você decidisse ir buscar alguma peça, o espelho/tela lhe contaria exatamente onde você a pendurou. Algumas lojas de sapato já testam estes espelhos virtuais há alguns anos, e aposto que é apenas uma questão de tempo (e preço) até eles estarem em nossas casas.
Mas acredito que até seus filhos e netos instalarem um destes “espelhos”, a ideia já não será tão futurista. Porque uma das coisas mais estranhas que um espelho faz — e para a qual não damos muita atenção — é mostrar as coisas ao contrário. O rosto que você vê refletido no espelho não é o mesmo que as pessoas veem: ele está ao contrário, como você já deve saber. Em algum momento da sua vida, você viu uma foto sua e percebeu que tinha algo estranho. Se eu não estiver maluco, acho que futuras gerações não vão tolerar isso. Eles estarão acostumados com a ideia de uma tela mostrar a eles a verdadeira face com o apertar de um botão.
É difícil imaginar a vida inteiramente sem espelhos, é claro. Existem espelhos pequenos dentro de projetores e lasers. Eles são úteis demais rebatendo a luz para serem extintos. Mas aos seus netos, é possível que a ideia de usar uma vidraça banhada em prata para ver objetos refletidos soe retrô e até excêntrico — lembre-se de que algumas pessoas já acham esquisito usar uma pulseira analógica para saber que horas são em pleno 2015.
Ilustração de Tara Jacoby