Serviço de assinatura para criadores do Facebook quer ficar com 30% da receita, seis vezes mais do que o Patreon
O Facebook está mirando no mercado de serviços de assinatura para criadores, no estilo do Patreon e do brasileiro Padrim – mas os termos da rede social são bem menos generosos.
De acordo com o TechCrunch, um “documento de política” mostra que a funcionalidade de Assinatura de Fãs, que até agora foi disponibilizado para um pequeno número de criadores, mostra que o Facebook quer uma fatia de 30% das receitas de assinatura (sem contas as taxas de processamento do pagamento). O número é bem menos generoso do que aquele cobrado pelo Patreon, que fica com 5% da receita.
Além disso, os pagamentos ainda seriam reduzidos pelos “15% ou 30% de taxa que a Apple e o Google cobram nas compras feitas dentro dos aplicativos no iOS e Android, respectivamente”.
E não acabou: o Facebook quer os direitos de todos os trabalhos dos criadores caso eles entrem para as Assinaturas de Fãs:
O Facebook também reserva o direito de oferecer testes gratuitos a assinaturas que não compensarão os criadores. E o Facebook demanda uma “licença mundial, não-exclusiva, transferível, sub-licenciável e livre de royalties” para usar o conteúdo dos criadores e exige que “essa licença permanece mesmo se o criador parar de usar as Assinaturas de Fãs”.
Como aponta o Verge, o Facebook ofereceu anteriormente o serviço para “apenas dez criadores nos Estados Unidos e Reino Unido”, mas começou a enviar ofertas via e-mail para a criação de um serviço de assinatura de US$ 4,99 por mês para mais criadores selecionados na última segunda-feira (25).
Por enquanto, o Facebook está abrindo mão de sua fatia – provavelmente como um plano para que os criadores entrem nessa –, mas os termos permitem que a companhia comece a cobrar 30% de todas as receitas de assinatura após um aviso prévio de 30 dias.
Patreon e serviços similares também pedem licenças para utilizar o trabalho dos criadores, mas geralmente para propósitos promocionais. Além disso, as licenças expiram quando o serviço não é mais utilizado.
O Facebook disse ao TechCrunch que, embora a licença inclua todo o conteúdo do criador, seu propósito é permitir a criação de coisas como figurinhas, que poderiam ser integradas às publicações dos assinantes. No final das contas, no entanto, a licença garante ao Facebook o poder de fazer praticamente qualquer coisa que quiser.
De acordo com os termos, que foram obtidos pelo Gizmodo com o fundador do The Hard Times, Matt Saincome, o Facebook também quer o direito de oferecer assinaturas de testes gratuitas ou com desconto para os usuários a seu exclusivo critério, e a receita perdida não seria paga aos criadores.
Saincome, dono de um site satírico afetado pelas mudanças no algoritmo do Feed de Notícias do Facebook que diminuíram drasticamente o tráfego de muitas páginas, disse ao Verge que acredita que a empresa atrairá os criadores de conteúdo e, em seguida, aumentará sua fatia.
“Parece que eles não têm ideia de quanto os editores desconfiam deles. Eles nos queimaram! Por que construiríamos público por lá, especialmente com algo que envolve dinheiro?”, acrescentou.
O Facebook disse ao TechCrunch que não finalizou os termos do serviço e afirmou que os 30% são como um teto de cobrança. Isso significa que os criadores de conteúdo começariam a gerar receita na plataforma, mas não teriam nenhuma garantia ou expectativa clara sobre qual valor seria cobrado posteriormente.
Algumas grandes plataformas cobram fatias maiores do que o Patreon. O YouTube fica com 30%, mas não inclui taxas de processamento, e o serviço de streaming Twitch.tv fica com absurdos 50% da receita gerada. O Facebook tem bilhões de usuários em sua plataforma, o que poderia permitir que os criadores atingissem públicos muito maiores. Ainda assim, parece ser um negócio complicado, especialmente considerando que, como o Outline noticiou em 2017, já é difícil para muitos criadores ganharem muito dinheiro, mesmo com os termos mais generosos do Patreon.
O Facebook não é a única plataforma de tecnologia que exige uma fatia enorme da receita gerada pelos criadores. A Apple recentemente ofereceu a diversos jornais importantes termos onerosos em um suposto serviço de assinatura de notícias. Para vender assinaturas ilimitadas de vários jornais para os usuários do Apple News a US$ 10 por mês, a Apple supostamente queria metade da receita. Os jornais dividiriam o restante com base no número de leitores.
O próprio Patreon enfureceu sua comunidade em 2017, quando anunciou mudanças em seu modelo de pagamento. A medida foi revertida rapidamente após a pressão dos usuários.