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Shane MacGowan (1957-2023): 10 momentos do anti-astro dos The Pogues

Vocalista que misturou punk rock com música folk irlandesa, construiu imagem com dentes tortos, look desgrenhado, sensibilidade e atitude. Confira grandes momentos de Shane MacGowan
Imagem: Reprodução

Shane MacGowan, morto nesta quarta-feira (30/11) aos 65 anos, foi um anti-astro. Seria impensável no mundo cheio de brilhos e esterilizado da música atual que um vocalista de banda chegasse a algum lugar com a pior dentição da história do pop, roupas quase sempre desgrenhadas e um estado de embriaguez alcoólica em tempo integral.

Mas o líder da banda anglo-irlandesa The Pogues chegou a algum lugar. Porque, se o visual não ajudava (e ele raramente fazia algum esforço para ficar mais “bonitinho”), o talento sobrava. 

Shane tinha a sensibilidade de escrever letras boas sobre um monte de temas. Questões irlandesas, Guerra Civil Espanhola, bebedeiras ou o clima natalino – sua “Fairytale in New York” é, desde seu lançamento em 1987, uma das canções mais tocadas no Reino Unido na época de festas de fim de ano.

E, irlandês em tudo menos no local de nascimento (Pembury, Inglaterra, em 25 de dezembro de 1957), percebeu que nada impedia unir a energia e o ruído do punk rock aos instrumentos e melodias típicas da música folclórica da Irlanda. Esse folk-punk distinguia The Pogues no cenário com pencas de bandas da Grã-Bretanha.

A cerveja era combustível para Shane, mas causou danos. Ele foi expulso em 1991 da banda que fundou em Londres nove anos antes. The Pogues prosseguiram sem MacGowan até 1996 e se separaram. Ele agregou a banda The Popes ao seu trabalho, em vez de ser apenas artista solo.

Com Shane “perdoado”, a banda foi retomada para turnês em 2001 e assim foi até a separação definitiva em 2014. Essa segunda fase não teve álbuns de músicas inéditas.

Para prestar tributo a Shane MacGowan, destacamos abaixo alguns bons momentos de sua trajetória.

1- The Pogues: ‘Dark Streets of London”

Shane MacGowan tinha 24 anos quando fundou em Londres a banda Pogue Mahone (uma forma fonética da expressão em gaélico que significa “kiss my arse” – em tradução literal, “beije minha bunda”; em sentido figurado, “que se dane!”). 

Em 1983, o grupo que já tinha uma identidade irlandesa a serviço do punk rock quando lançou um compacto totalmente independente com a música “Dark Streets of London”. Logo foi contratado pelo selo independente Stiff e abriu shows para The Clash. 

Mas a banda de MacGowan teve de mudar de nome porque pessoas que entendiam gaélico ficavam ofendidas ao ouvir no rádio o locutor dizer Pogue Mahone. Adaptando parte do primeiro nome, virou The Pogues. Refez “Dark Streets of London” para estrear na Stiff Records em 1984. O single foi incluído no primeiro álbum, “Red Roses for Me”, do mesmo ano.

2- The Pogues: “And The Band Played Waltzing Matilda” (ao vivo, 1985)

A música anti-guerra que foi lado B do primeiro compacto pela Stiff Records, em 1984.

3- The Pogues: “Sally MacLennane” (ao vivo, 1985)

Uma apresentação dos Pogues no programa pop da emissora britânica ITV em 1985. A música fez parte do álbum “Rum, Sodomy & The Lash”, produzido pelo já famoso cantor-compositor Elvis Costello.

4- The Pogues – “Dirty Old Town” (1985)

Clipe da faixa de destaque do álbum “Rum, Sodomy & The Lash”.

5- The Dubliners & The Pogues: “The Irish Rover” (1987)

Nas comemorações dos 25 anos de The Dubliners, o maior grupo de música tradicional irlandesa, The Pogues foram chamados para participar do álbum tocando e cantando junto aos veteranos na música “The Irish Rover”. Nesta apresentação no programa “The Late Late Show: Tribute to The Dubliners”, em março de 1987, Shane MacGowan está a caráter, com copinho na mão e tudo.

6- The Pogues feat. Kirsty MacColl: “Fairytale of New York” (1987)

O clipe do maior sucesso dos Pogues, com participação da cantora inglesa Kirsty MacColl (1959-2000). Uma canção natalina lançada no fim de 1987 composta por Shane MacGowan com Jem Finer, multi-instrumentista e co-fundador dos Pogues. O single vendeu 3 milhões de cópias no Reino Unido. E ainda é uma das músicas mais tocadas na época de Natal na ilha britânica. Por exemplo, em 2021 foi a 86ª música mais tocada/vendida de todo o ano.

7- The Pogues: “Streets of Sorrow / Birmingham Six” (1988)

Uma faixa com nome duplo e duas partes distintas inspirada nos conflitos político-religiosos e atos terroristas na Irlanda do Norte, que pertence ao Reino Unido, mas fica na mesma ilha que a independente República da Irlanda. A primeira parte (“Streets of Sorrow”) foi composta e cantada pelo guitarrista da banda, Terry Woods. A segunda parte, que presta solidariedade a grupos de ativistas irlandeses presos, tem a assinatura e a voz de MacGowan. A faixa foi censurada quando estava no meio no programa de TV “Friday Night Live”, da emissora Channel 4, em abril de 1988.

8- The Pogues: “Fiesta” (1988)

Um divertido clipe que brinca com o hábito de muitos britânicos de passar férias na ensolarada Espanha – ou em qualquer outro lugar “caliente” onde se fala castelhano.

9- The Pogues: “Yeah Yeah Yeah Yeah Yeah” (1989)

Clipes em que uma banda atual aparece como se estivesse num programa pop antigo não é exatamente tão inusitado – basta lembrar de “In Bloom”, do Nirvana, “Buddy Holly”, do Weezer, ou “Hey Ya”, do OutKast. Só que os Pogues fizeram isso um pouquinho antes, em 1989.

10- Shane MacGowan + The Popes: “Lonesome Highway” (1997)

Para provar que The Pogues não foi tudo na vida de Shane MacGowan, um clipe de 1997 do trabalho dele com a banda de apoio The Popes.

***

BÔNUS 1- Jesus & Mary Chain feat. Shane MacGowan: “God Help Me” (1994)

Nesta música do álbum calminho “Stoned & Dethroned” da banda escocesa Jesus & Mary Chain, os vocais tortos desta prece de um cara no fundo do poço são de Shane do começo ao fim.

BÔNUS 2- Shane MacGowan & Sinéad O’Connor: “Haunted” (1995)

Um dueto de Shane MacGowan com a cantora irlandesa Sinéad O’Connor, que morreu em julho passado aos 56 anos. É uma apresentação no programa britânico “The White Room”.

BÔNUS 3- The Pogues live at the Town and Country Club (1988)

Para quem tiver tempo sobrando, um vídeo de 58 minutos da apresentação dos Pogues numa casa de shows de Londres, em 1988.

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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