Usar muito o smartphone me causou um doloroso problema neurológico
Há alguns meses, comecei a ter estranhas dores de cabeça. Era algo mais intenso que uma ressaca: eu descreveria as dores que tive como pungentes, como se alguém tivesse me acertado na cabeça com um bastão de aço quente, enviando rastros de dor por todo o meu crânio.
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Eu finalmente marquei consulta com uma neurologista, achando que a morte estava próxima. Estou sendo dramático, mas não estou exagerando: há alguns anos, um primo meu foi diagnosticado com câncer cerebral depois de uma série de dores de cabeças que foram causadas por um tumor. Desde então, nossa família inteira se preocupa com qualquer coisinha relacionada ao cérebro.
Parecia improvável que minhas dores de cabeça indicassem algo mais sério, mas estava com as mãos tremendo na sala de espera de um consultório médico da Universidade de Nova York há algumas semanas, preparado para o pior.
“Acho que sei o que está acontecendo”, diz casualmente a Dra. Myrna Cardiel, depois me examinar por 20 minutos. Após eu descrever minhas dores de cabeça, ela jogou luzes em meus olhos, testou minha coordenação motora, me observou andar e me fez uma série de perguntas. Então, ela foi ao Google e digitou uma frase estranha e meio aparentemente assustadora: “nevralgia occipital”.
Usando o Google Imagens para ilustrar a explicação, a Dra. Cardiel me mostrou como os nervos occipitais emergem da coluna vertebral do seu pescoço e se dispersam como galhos por todo o couro cabeludo. A nevralgia occipital é um problema que ocorre quando a base destes nervos se comprime ou se danifica. Isso resulta em dores de cabeça crônicas, que geralmente se localizam na parte de trás ou nos lados da cabeça, ou ainda, no meu caso, no topo do crânio. Enquanto ela me mostrava imagens dos nervos se esticando por toda a cabeça e fotos de médicos inserindo agulhas no couro cabeludo de pacientes, minhas mãos voltaram a tremer.
“O que causa isso?”, perguntei com um certo sufoco. E a Dra. Cardiel imediatamente me perguntou se eu trabalhava em um laptop ou desktop (eu geralmente trabalho em um desktop, com um monitor adequado). Conversamos sobre as posições em que eu durmo e postura (sempre me esforço para deixar a minha postura ereta!). Qualquer coisa que eu estivesse fazendo que pudesse causar tensão nos músculos do meu pescoço poderia aparentemente ser a causa do meu problema de saúde. E então, chegamos ao óbvio.
“E quanto ao uso de smartphones?”, eu perguntei. “Eu estou constantemente entornando o meu pescoço para olhar para baixo e enxergar a tela do meu celular. Talvez tenha algo a ver com isso”.
“Quer saber”, disse Dra. Cardiel, concordando com a cabeça. “Pratico neurologia há dez anos, e vi casos disso aumentarem consideravelmente desde que os smartphones se popularizaram. Eu deveria escrever sobre isso”.
Alguém deveria. Uma busca rápida por “nevralgia occipital smartphones” mostra um artigo recente do Sioux City Journal que alerta sobre as tensões que o uso desse celular faz nos pescoços. Ele cita um estudo explicando que inclinar a cabeça para baixo em 60˚ aplica o equivalente a 27 kg de pressão extra na coluna e nos músculos nos arredores. E não é surpresa que isso causa dores:
“Pessoas que liam muito tinham tendências a desenvolver estes sintomas”, diz ao jornal o Dr. Jeremy Poulsen, especialista em dores. “Se estes nervos sofrem constantemente com os espasmos e puxadas dos músculos, isso leva a problemas como a nevralgia occipital — que é basicamente uma dor de cabeça insuportável.”
E eu posso confirmar que essas dores de cabeça são insuportáveis mesmo! Mas o que eu poderia fazer? Eu leio de forma voraz no meu celular, e a grande maioria dessas leituras fazem parte do meu trabalho. Eu também gosto de jogar SimCity BuildIt, um jogo de celular ruim, mas viciante. Eu consigo parar de jogar, mas eu realmente preciso responder alguns e-mails enquanto estou longe do computador. Então isso significa que eu deveria usar meu celular com ele bem à frente do meu rosto?
Por sorte, existe um tratamento para nevralgia occipital – mas não é uma cura. Depois de nossa conversa esclarecedora e de compartilhar buscas no Google, a Dra. Cardiel preencheu meia dúzia de seringas com um coquetel de esteroides e anestésicos. Ela calmamente explicou que injetaria a solução nos nervos do meu pescoço, fazendo com que a parte de trás da minha cabeça ficasse dormente. Entretanto, a solução viajaria pelos meus nervos, impedindo-os de enviar os sinais que causavam as minhas dores.
Doeu. Eu acho que a doutora me deu umas 20 injeções separadas, que quase me fizeram desmaiar. Depois de recuperar minha compostura, ouvi da Dra. Cardiel que eu me sentiria melhor dentro de um dia, o que aconteceu. No entanto, para fazer as dores de cabeça pararem por completo, eu precisaria manter minha cabeça reta. Ela me indicou alguns livros que encorajam a prática de ioga e massagem como métodos de aliviar as tensões no meu pescoço, as quais soaram muito melhores do que as injeções.
Dito isso, nunca mais olharei para meu celular da mesma forma. Ou pelo menos tentarei não olhar. Como muitos de nós, me tornei cada vez mais dependente da tecnologia com o passar dos anos, e passei a prestar cada vez menos atenção da forma como eu a usava. Há algumas semanas, postamos uma animação sobre nosso vergonhoso vício em smartphones. Na hora eu ri, mas agora percebo que ela não é tão engraçada assim.
Daqui a alguns meses, voltarei à neurologista e provavelmente terei algumas agulhas me perfurando de novo. O hipocondríaco em mim está feliz que as minhas dores de cabeça não representam algo mais sério, como um câncer cerebral. Mas ainda será um problema mudar os hábitos que criei com o meu celular. Mesmo sabendo que ele me machuca, é difícil imaginar a minha vida sem o meu computador de bolso.
Imagem por Tara Jacoby