Solução para crise climática pode vir das baleias; entenda a tese
Biólogos estão estudando o impacto das baleias como um "sumidouro de carbono"
Isabela Oliveira
A bióloga marinha Heidi Pearson, da Universidade do Sudeste do Alasca, e seus colegas estão estudando o impacto das baleias — os maiores animais do mundo –, como um “sumidouro de carbono”, uma possível solução para a crise climática. A pesquisa foi publicada na Trends in Ecology and Evolution.
“Seu tamanho e longevidade permitem que as grandes baleias exerçam fortes efeitos no ciclo do carbono, armazenando o elemento de forma mais eficaz do que pequenos animais, ingerindo quantidades extremas de presas e produzindo grandes volumes de resíduos”, explica Pearson.
Esses animais marinhos ingerem cerca de 4% de seu peso em krill e plâncton diariamente. Para as baleias azuis, por exemplo, essa quantidade soma mais ou menos 3,6 toneladas.
Sua grande quantidade de fezes então alimenta o plâncton que captura o CO2 , que, por sua vez, alimenta o krill, passando seus nutrientes adiante para seus predadores – pinguins, pássaros, focas, peixes e, claro, as baleias. Dessa forma, o paradoxo do krill resulta em cocô de baleia extra servindo como alimento, aumentando também o número de pequenos crustáceos.
O krill também possui um papel na bomba biológica de carbono, com suas próprias fezes enviando carbono para as profundezas do oceano.
Baleias e o ciclo do carbono
As baleias costumavam realizar grande parte da fertilização natural do oceano. Antes de serem dizimadas em quase 80%, estimativas sugerem que as baleias cachalotes do Oceano Antártico removiam cerca de 2 milhões de toneladas de CO2 anualmente. Mas agora, esse número é de aproximadamente 200 mil toneladas.
Esses mamíferos também participam do ciclo do carbono quando morrem, afundando no oceano. Assim, sua biomassa se torna alimento para diversos animais, sequestrando carbono nas profundezas das águas. Além disso, a maioria dessas espécies migra de áreas de alimentação ricas em nutrientes para áreas de reprodução pobres, distribuindo tais nutrientes.
Ainda não se sabe ao certo quanto CO2 as baleias exalam na atmosfera. E a maioria das pesquisas também não inclui todos os tipos de grandes baleias. Mas os pesquisadores afirmam que proteger essas populações seria mais eficaz do que as soluções de geoengenharia propostas, como fertilização artificial dos mares ou injeção de carbono no oceano.
Apesar de desafios como poluição, emaranhados de pesca, colisões com navios e mudanças climáticas, algumas grandes populações de baleias têm aumentado devido a medidas como áreas de proteção marinha, limites de velocidade e redução de ruído em locais de concentração da espécie.
“A recuperação das baleias tem potencial para uma melhoria autossustentável de longo prazo do sumidouro de carbono oceânico”, concluem os pesquisadores.