“Somos idiotas”, diz cientista que alertou sobre clima mais quente há 35 anos
O mundo está à beira de uma crise climática sem precedentes nos últimos milhões de anos, alerta James Hansen, renomado cientista climático norte-americano.
Hansen, conhecido por ter soado o alarme sobre o efeito estufa nos anos 1980, expressou forte preocupação com a falta de ação global em relação aos alertas científicos.
Em conjunto com outros dois cientistas, Hansen acaba de emitir um comunicado destacando que a humanidade se encaminha para uma “nova fronteira climática”.
Essa fronteira é caracterizada por temperaturas mais elevadas do que qualquer período registrado nos últimos milhões de anos. Esse cenário traria consigo consequências devastadoras, incluindo tempestades mais intensas, ondas de calor prolongadas e secas severas.
Apesar do alerta já ter sido feito há décadas, os cientistas se sentem decepcionados com a resposta ponderada da humanidade à crise. “Um sentimento de decepção por nós, cientistas, não termos comunicado de forma mais clara e por não termos elegido líderes capazes de uma resposta mais inteligente”, disse Hansen ao The Guardian.
“Isso significa que somos uns idiotas… Temos que provar para acreditar”, ressaltou o cientista climático.
Desde o início da Revolução Industrial, o planeta já aqueceu cerca de 1,2º C, aumentando a probabilidade de eventos climáticos extremos em 20% em comparação com 50 anos atrás.
Hansen, que atualmente possui 82 anos, destacou ao jornal britânico que a humanidade está conscientemente se encaminhando para essa nova realidade climática, apesar de já ter conhecimento dos riscos envolvidos.
Hansen, ex-cientista da NASA, ficou famoso por seu testemunho perante o Senado dos EUA em 1988, onde alertou sobre os perigos do aquecimento global. Desde então, ele tem se juntado a ativistas em protestos contra a falta de medidas eficazes para reduzir as emissões que contribuem para o aquecimento global.
Ação precisa ser mais rápida
Hansen reiterou que a humanidade deve agir de forma mais decisiva para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a fim de evitar consequências ainda mais graves.
O ano em curso está a caminho de ser o mais quente já registrado globalmente, com temperaturas excepcionalmente altas em várias regiões. No entanto, Hansen alertou que a situação tende a piorar antes de melhorar, enfatizando que não se trata apenas da magnitude da mudança climática, mas também da taxa acelerada dessas mudanças.
Ellen Thomas, cientista da Universidade de Yale, acrescentou que o problema reside não apenas na magnitude das mudanças, mas na rapidez com que estão ocorrendo. A infraestrutura existente não pode se adaptar tão rapidamente, resultando em desafios crescentes para a sociedade.
Clima cada vez mais quente
A NASA já advertiu: 2023 deve ser o ano mais quente já registrado. E isso se deve, em parte, ao El Niño. O fenômeno, que acontece a cada dois ou sete anos no planeta, começou em junho, e deve atingir seu pico até o final do ano. Contudo, ele pode se tornar em um “Super El Niño”, de acordo com especialistas.
O ano mais quente já registrado até hoje foi 2016. Este ano também contou com influência do El Niño, que teve maior impacto do que em sua última aparição, em 2018 e 2019.
Em agosto, a OMM (Organização Meteorológica Mundial), órgão da ONU para as mudanças climáticas, publicou o novo censo climático de 140 países. A OMM fez o levantamento em conjunto com os Centros Nacionais de Informações Ambientais dos Estados Unidos.
Os dados revelaram que, em 2022, a temperatura média global ficou cerca de 1,15°C acima do que era na fase pré-industrial. Em 2021, por sua vez, a temperatura média global era de 1,1 °C acima do limite pré-industrial.