Há apenas um inconveniente na relação entre cães e seus donos: as expectativas de vida de ambos são bem diferentes. Em geral, um ser humano chega, em média, até seus 70 anos – a depender de onde vive e diversos outros fatores.
Já os cães vivem bem menos, com grandes variações em cada raça e tamanho. Agora, uma pesquisadora e empreendedora do Vale do Silício quer mudar esse cenário.
Celine Halioua é neurocientista e fundadora da Loyal, uma startup que pesquisa medicamentos para prolongar a vida dos cães. Ela já arrecadou cerca de US$ 58 milhões (R$ 290 milhões, em conversão direta) e tem dois remédios em desenvolvimento.
Entenda o contexto
De modo geral, a busca por um elixir anti-envelhecimento não é nova. Nos laboratórios, pesquisadores já estendem a vida de animais, em estudos que aumentam ou até dobram a expectativa de vida de vermes, moscas e ratos.
Em 1993, uma equipe de biólogos da University California San Francisco mostrou que a desativação parcial de um único gene de um verme poderia dobrar sua expectativa de vida.
Assim, a descoberta despontou uma nova área de pesquisa, dedicada a desvendar e controlar os mecanismos biológicos do envelhecimento.
Os autores deste estudo rastrearam genes ligados à longevidade e traçaram as vias bioquímicas que eles controlavam. Dessa forma, descobriram que alguns dos mesmos mecanismos que identificaram em vermes também poderiam estender a vida em moscas e camundongos.
Em laboratórios ao redor do mundo, começaram a surgir evidências de que o envelhecimento era outro processo biológico com controles genéticos que um dia poderiam ser hackeados.
A pílula para cães
A Loyal, empresa de Halioua, foi fundada em 2019 e até agora já levantou cerca de R$ 300 milhões. Ela surgiu de um projeto que explorou o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), usado para prolongar a expectativa de vida de vermes.
A equipe de ciência da Loyal, identificou dois compostos que poderiam ser usados para atrasar o envelhecimento em cães. Um focado em raças maiores e outro em problemas cognitivos e renais em cães mais velhos.
Atualmente, dois medicamentos estão em fase de desenvolvimento. O primeiro é um comprimido que atrasa doenças relacionadas ao envelhecimento, como demência e problemas renais em cães.
O segundo é liberado lentamente por um implante e visa atenuar processos celulares que diminuem a vida das maiores raças de cães. Agora, a empresa está se preparando para ensaios clínicos com esses produtos.
Daqui a alguns anos, a CEO espera ter o primeiro medicamento disponível para comercialização.
Dos cães aos humanos
A princípio, a ideia de Halioua é que o estudo com cães seja um trampolim para uma realização ainda maior: criar medicamentos similares para seres humanos. Contudo, este é um passo muito grande para dar logo de início.
De modo geral, conduzir um ensaio clínico em cães é barato em comparação com um em humanos, e a vida mais curta dos animais significa que não levará décadas para saber se um comprimido aumenta a longevidade.
Além disso, ela considera que o estilo de vida de um cachorro de estimação é mais parecido com o de um humano do que um rato de laboratório.
Por isso, ela pensa que começar a pesquisa e a empresa com cães é uma boa estratégia para depois expandir o seu negócio.