A super arma de Hitler: o plano nazista de destruir Londres (e por que falhou)
A “super arma” V-3 foi criada para vencer a guerra pela Alemanha. Em 1943, pela primeira vez desde o início da Segunda Guerra Mundial, Hitler estava ficando para trás. As bombas aliadas estavam devastando as cidades alemãs e o Fuhrer foi abalado. O canhão V-3 seria a maior arma que o mundo já vira.
O V-3 foi construído em um bunker realmente imenso, enterrado nas profundezas de uma colina no norte da França. Milhões de toneladas de rocha foram escavadas à mão e entre os trabalhadores havia centenas de pessoas em situação de escravidão. Em sua concepção original, 25 canhões deveriam apontar para Londres – a cerca de 160 quilômetros de distância – disparando até uma bomba por minuto, assim criando um ambiente de terror que mudaria o curso da guerra de volta a favor de Hitler. E foi uma missão secreta para destruir o V-3 que levou à morte de Joe Kennedy Junior, piloto e irmão mais velho do futuro presidente dos EUA, John F. Kennedy.
O funcionamento da super arma alemã permanece um mistério, já que grande parte dela foi destruída e poucas fotos e documentos sobreviveram. Estimamos que um projétil para chegar a Londres deveria atingir velocidades superiores a 1.500 metros por segundo. Cada cano da arma de Hitler tinha 130 metros de comprimento, inclinado a 50 graus e calculamos que esse é o ângulo perfeito para alcançar Londres – eles parecem ter acertado.
O projétil deveria ser acelerado por meio de uma sequência de cargas ao longo do cano. O tempo preciso dessas cargas adicionais era muito importante e supuseram que isso fosse feito eletricamente. Em nossa pesquisa para um documentário de TV no Channel Four, PBS Nova (em inglês) e National Geographic International, não encontramos evidências para isso. As fotografias da época não apresentam sinais de fiação elétrica ou dispositivos de disparo, e nossos próprios experimentos sugerem que as cargas seriam deflagradas pelo calor do gás que avançava atrás do projétil.
Os engenheiros de Hitler tiveram grande dificuldade em aperfeiçoar a sincronia, especialmente por causa do vazamento de gás quente atrás do projétil. Eles encontraram outros problemas com seu design, particularmente para aperfeiçoar uma forma de projétil que seria aerodinâmico em velocidades supersônicas. Ele tinha que permanecer estável sem o benefício do giro (o cano não era estriado), mas nos primeiros testes o projétil caiu de maneira incontrolável. Este problema nunca foi resolvido, até onde sabemos. Os Aliados nada sabiam sobre a arma, até que as forças canadenses invadiram o local após o Dia D. Mas eles sabiam que, para os alemães estarem gastando tantos recursos no lugar – eles certamente tinham algum plano.
Não era fácil descobrir como destruir a super arma. Os americanos planejavam atacar a instalação com um “drone” (não conhecido por esse nome na época), que era um bombardeiro controlado remotamente, com 12 toneladas de explosivos. A idéia era colidir a aeronave não tripulada diretamente no local em Mimoyecques, perto de Calais. A missão, de codinome Project Anvil, terminou mal.
A missão de Joe Kennedy Jr
Joe Kennedy Junior estava pilotando um B-24 Liberator em 12 de agosto de 1944. Ele e o co-piloto Wilford Willy deveriam subir o avião até a altitude de cruzeiro, definir o rumo correto e saltar fora. Uma segunda aeronave voando nas proximidades deveria assumir o controle (auxiliada por um sistema de transmissão de televisão primitivo). Mas completamente sem aviso, o avião explodiu sobre Blythburgh em Suffolk apenas 20 minutos depois de decolar. Kennedy e Willy foram mortos e seus corpos nunca foram encontrados, devido à violência da explosão.
As circunstâncias da morte de Kennedy não foram reveladas por quase 70 anos. Foram encontrados documentos recentes que mostram que o mecanismo de armamento de bombas era defeituoso e que os esforços para torná-lo seguro apenas aumentavam os riscos. Em nosso documentário, mostramos que os solenóides – um tipo de eletroímã – usado para armar as bombas provavelmente superaqueceram, causando detonação prematura.
Essa tragédia foi toda em vão. Desconhecido para os aliados na época, o complexo em Mimoyecques havia sido abandonado após ter sido destruído com sucesso em um bombardeio em 6 de julho de 1944. O engenheiro britânico Barnes Wallis, o cérebro por trás da bomba ricocheteadora, havia desenvolvido a bomba de Tallboy. Lançada de uma altura de 4.500m, foi projetada para se enterrar profundamente na terra e provocar um pequeno terremoto. Oito Tallboys atingiram o local das super armas e a rede de túneis e as fundações, bunkers e armazéns de munições foram danificados além do reparo.
Barnes Wallis era realmente genial. Ele descobriu o formato correto para o cone do nariz do Tallboy, para que ele permanecesse aerodinâmico enquanto se aproximava da velocidade do som e, ao mesmo tempo, fosse forte o suficiente para penetrar 15 metros no solo. Ele descobriu que se as abas fossem inclinadas em apenas 5 graus, a bomba giraria, a estabilizando durante o voo.
É improvável que a super arma mudasse o curso da guerra, mesmo que os desembarques na Normandia tivessem falhado. Os inúmeros desafios técnicos da própria arma estavam se mostrando difíceis de resolver, mas talvez o mais importante seja uma localização fixa da arma é fácil de mirar. Se não fossem os Tallboys de 6 de julho ou a infeliz missão Kennedy de 12 de agosto, a instalação em Mimoyecques teria sido destruída de uma maneira ou de outra antes que pudesse causar muitos danos a Londres.
Mas, do ponto de vista puramente de engenharia, lamento que nunca tenha sido testado (embora seja difícil imaginar como fazer isso com segurança!). Gostaria de tê-la visto funcionando. Que engenhoca incrível.
Hugh Hunt é professor de Engenharia Dinâmica na Universidade de Cambridge.
Este artigo foi publicado originalmente na The Conversation. Leia o artigo original (em inglês).