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Muito tempo olhando para telas pode prejudicar desenvolvimento cognitivo das crianças, sugere estudo

Manter a cabeça do seu filho afiada pode envolver garantir que eles não passem o dia inteiro no smartphone ou em outros dispositivos com telas, sugere mais uma pesquisa, publicada nesta semana. Pesquisadores canadenses analisaram os primeiros dados de um projeto de dez anos dos Estados Unidos feito para estudar como os cérebros das crianças […]

Manter a cabeça do seu filho afiada pode envolver garantir que eles não passem o dia inteiro no smartphone ou em outros dispositivos com telas, sugere mais uma pesquisa, publicada nesta semana.

Pesquisadores canadenses analisaram os primeiros dados de um projeto de dez anos dos Estados Unidos feito para estudar como os cérebros das crianças se desenvolvem ao longo do tempo, chamado de estudo de “Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente” (Adolescent Brain Cognitive Development, em inglês, com a sigla ABCD).

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Como parte do projeto, financiado pelo National Institutes of Health, pesquisadores em todo os Estados Unidos entrevistaram crianças e seus pais com perguntas sobre seus hábitos. Isso incluiu quanto tempo elas passavam se exercitando, dormindo e olhando para telas em um dia comum. As crianças também responderam a questionários, forneceram amostras de saliva e solucionaram enigmas que mediam suas funções cognitivas.

O estudo atual observou os resultados de 4.524 crianças, com idade entre oito e 11 anos, que participaram do estudo ABCD entre setembro de 2016 e setembro de 2017.

No Canadá, assim como nos Estados Unidos, os médicos geralmente recomendam às crianças com mais de seis anos de idade não passar mais de duas horas por dia olhando para telas. Mas apenas 37% das crianças do estudo preencheram esse critério. E essas crianças, descobriram os pesquisadores, eram mais propensas a pontuar melhor em seus testes cognitivos.

As descobertas foram publicadas no periódico Lancet Child & Adolescent Health.

“Precisamos prestar atenção em quanto tempo passamos em frente a telas”, disse o autor principal do estudo Jeremy Walsh, pós-doutorando na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, em entrevista ao Washington Post. “Esse estudo está mostrando que menos de duas horas de tempo recreacional em frente a uma tela é benéfico para as crianças.”

O tempo de frente para telas não foi a única razão possível para as habilidades cognitivas piores das crianças. Apenas 50% do grupo relatou dormir as nove a 11 horas recomendadas de sono pelos médicos, enquanto apenas 18% fazia a quantidade recomendada de exercícios, de pelo menos 60 minutos por dia. E as crianças que não seguiam essas diretrizes também se saíram pior, em média.

Além disso, o estudo é apenas observacional, o que quer dizer que ele não pode provar uma ligação direta entre um tempo maior em frente a telas e uma capacidade menor de pensar. Porém, em comparação com crianças que não cumpriam nenhuma das três recomendações, aquelas com menos tempo em frente a telas se saíram melhor nos mesmos testes, descobriram os pesquisadores. Um padrão parecido foi visto entre crianças que dormiam o bastante e passavam menos tempo olhando para telas, reforçando a ligação entre dormir mal e as telas.

Segundo os pesquisadores, serão necessários mais estudos para confirmar se e como exatamente o excesso de tempo em frente a uma tela pode afetar a cognição das crianças.

Em outros exemplos, a Academia Americana de Pediatria (AAP) parou de focar em uma diretriz rígida de número máximo de duas horas por dia em frente a telas para crianças com mais de seis anos, chamando-a, em vez disso, de “limites consistentes” estabelecidos por pais que garantam que as crianças estejam passando tempo suficiente dormindo e em outros comportamentos saudáveis. Para crianças entre 18 meses e seis anos, no entanto, a AAP ainda recomenda um máximo de uma hora em frente a telas por dia, enquanto crianças mais jovens não deveriam passar tempo algum olhando para telas. Ainda assim, alguns estudos já sugeriram que o potencial para danos se trata mais do tipo de conteúdo nas telas e se os pais estão envolvidos na atividade, e não sobre a quantidade de tempo as usando.

O estudo ABCD planeja inscrever mais de dez mil crianças até o fim do projeto.

[Lancet Child & Adolescent Health via Washington Post]

Imagem do topo: Pexels (Pixabay)

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