Médicos relatam terapia revolucionária que eliminou leucemia de garota de 13 anos
Uma terapia experimental ajudou a curar a leucemia de uma adolescente no Reino Unido. Médicos do hospital Great Ormond Street, de Londres, usaram a chamada “edição de base”, uma forma de alterar as instruções genéticas das bases que constroem o código genético humano.
Os oncologistas manipularam o método pela primeira vez para tratar a jovem Alyssa, de 13 anos. Ela recebeu o diagnóstico de leucemia linfoblástica aguda de células T em maio de 2021.
A doença era agressiva e as chances de cura eram baixas: nem a quimioterapia, nem um transplante de medula óssea conseguiram conter seu avanço. Seis meses depois do tratamento experimental, o câncer está indetectável.
O corpo humano tem quatro tipos de base: adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T). Trata-se de blocos de construção do código genético – ou seja, onde estão armazenados e onde se transportam as informações genéticas dentro das células de DNA e RNA.
Publicado pela primeira vez em 2016, a “edição de base” permite aos cientistas ampliar uma parte do código genético e, assim, alterar a estrutura modelar de uma única base, convertendo-a em outra e alterando as instruções genéticas.
No caso de Alyssa, a equipe de médicos usou o método para projetar um novo tipo de célula T capaz de combater as células T cancerígenas que atacavam as defesas do corpo da adolescente.
Como foi o processo
As novas células T saudáveis partiram de um doador. Depois, foram modificadas. A primeira edição desativou o mecanismo de direcionamento das células T para que deixassem de atacar o corpo de Alyssa.
Uma segunda edição removeu a marcação química (CD7), presente em todas as células T. Por fim, a terceira edição criou uma espécie de “capa da invisibilidade” para impedir que células saudáveis morressem durante a quimioterapia.
Agora, Alyssa passou por um segundo transplante de medula óssea. Ela continua em acompanhamento, mas tem grandes expectativas de que seu sistema imunológico já esteja em fase de reconstrução.
Terapia pioneira
“Alyssa é a primeira paciente em tratamento com essa tecnologia”, disse o pesquisador Waseem Qasim, da UCL (London’s Global University), à BBC. “A manipulação genética é uma área da ciência em rápido movimento e com enorme potencial em uma série de doenças.
Depois da leucemia de Alyssa, outras nove pessoas em tratamento para o câncer receberão a terapia como parte de um ensaio clínico.
“Este é um novo campo da medicina e é fascinante que possamos redirecionar o sistema imunológico para combater o câncer”, afirmou Robert Chiesa, médico do Hospital Great Ormond Street.
A expectativa é que a tecnologia de edição básica não seja usada só para tratar o câncer, mas também em outras doenças mais comuns, como colesterol alto.
“As aplicações terapêuticas da edição de base estão apenas começando”, disse David Liu, um dos pesquisadores do Broad Institute, que descobriu o método. “A ciência está dando passos importantes para assumir o controle dos nossos genomas”.