Versão brasileira dos termos do Ashley Madison comprova que o site cria perfis falsos
Os dois vazamentos do site de traições Ashley Madison, somando quase 30 GB de informações, trouxeram à tona um site fraudulento, que cobrava para eliminar dados pessoais e não os eliminava de fato. Além disso, vendia também um serviço falso, já que grande maioria dos usuários ativos na rede eram homens — cerca de 90% a 95%, para deixar claro quão grande era essa festinha quase que exclusivamente masculina.
>>> O vazamento de dados pessoais do Ashley Madison é apenas o começo
Mostramos recentemente que as poucas mulheres presentes ali estavam longe de usar o site com frequência, o que alerta para a possível criação de perfis falsos para iludir e atrair homens que buscavam por uma relacionamento extraconjugal. Uma antiga funcionária do Ashley Madison até mesmo processou a empresa depois que ela foi obrigada a criar mais de 1.000 perfis falsos no período de três meses para o site.
Mas ainda assim, o Ashley Madison nega. Mesmo com o pouquíssimo número de mulheres presentes ali, cuja atividade é praticamente nula, o site continua a negar que grande parte destes perfis são falsos.
Ele, entretanto, assume em seus Termos de Uso que alguns perfis se cadastram no site apenas para “entretenimento” e que talvez não busquem por encontros pessoais com outros usuários. Eles teriam o perfil apenas por diversão.
“Não existem garantias que você terá um encontro ou um parceiro de comunicação no nosso site ou usando o nosso serviço. Nosso site e nosso serviço é gerado para providenciar a você divertimento e entretenimento. Você concorda que algumas das funções do nosso site e do nosso serviço são criadas para providenciar entretenimento a nossos usuários”.
Isso nos termos em inglês. Agora, nos termos em português… ah, isso é outra história.
Para começar: na versão em português, são 764 palavras contra apenas 195 na mesma cláusula em inglês dos Termos de Serviço. Uma diferença bem grande para um trecho que deveria, em tese, dizer a mesma coisa, não?
E por que a versão em português é tão maior que a em inglês? Bem, basicamente porque, por alguma razão, o Ashley Madison assume criar perfis falsos na versão tupiniquim dos Termos de Serviço.
A fim de permitir que as pessoas que são apenas convidados em nosso site experimentem o tipo de comunicação que eles esperam como membros, poderemos criar perfis que talvez interajam com eles.
O propósito de nossa criação desses perfis é proporcionar aos nossos usuários convidados com entretenimento, para permitir que os usuários convidados possam explorar nossos serviços e para promover uma maior participação em nossos serviços. As mensagens enviadas são geradas por computador. As mensagens dos perfis que criamos, tentam simular as comunicações de modo que você também se tornará um membro, incentivando você a participar de mais conversas e para aumentar a interação entre os colegas.
Você reconhece e concorda que alguns dos perfis publicados no Site, com quem você poderá se comunicar como um convidado, poderão ser fictícios. O propósito de nossa criação desses perfis é proporcionar aos nossos usuários convidados com entretenimento
Basicamente, a versão brasileira do Ashley Madison apenas simula o site para aqueles que não o pagam — chamados de usuários convidados, que podem apenas “receber piscadinhas, enviar e receber fotografias, adicionar membros à sua lista de favoritos, responder a qualquer membro completo, realizar pesquisas”. Para se iniciar um chat com outros usuário, é preciso ser um “Membro Completo”, ou seja, é preciso pagar para usar.
Mas usuários que não leem os termos podem acabar acreditando a loura sensual enviando mensagens é real, e não um programa de computador. E fica por isso mesmo, um mero bate-papo com uma máquina? Não:
Esses perfis permitem coletar mensagens, chat instantâneo e / ou respostas de pessoas ou programas, para fins de cumprimento de pesquisa de mercado e / ou experiência do cliente e / ou controle de qualidade . Além disso, podemos utilizar estes perfis em conexão com nossa pesquisa de mercado para que possamos analisar as preferências do usuário , tendências , padrões e informações sobre a nossa base de clientes e clientes em potencial.
Nós também usamos esses perfis para monitorar as comunicações de usuários e uso de nosso serviço para medir a conformidade com os Termos.
O Ashley Madison afirma que os robôs conversam apenas com usuários não pagantes, os usuários convidados, mas o que garante que um robô não conversa com quem está pagando? Afinal, o Ashley Madison promete apagar os dados dos usuários por uma taxa e não as apaga mesmo depois do pagamento. Então, meu amigo, se for para ficar xavecando robôs, é melhor ficar com uma opção mais barata e inofensiva.
Foto de capa: Nathan Rupert/Flickr
ATUALIZAÇÃO (28/08 às 13h27) – O escândalo do vazamento das informações do serviço custou a cabeça (não literalmente) de Noel Biderman, o CEO da Avid Life Media, empresa responsável pelo Ashley Madison. Segundo um rápido comunicado no site oficial do serviço, uma equipe já existente dentro da empresa comandará tudo até que um novo CEO seja escolhido.