Terra levará no mínimo 10 anos para começar a esfriar após redução de gases poluentes

Mesmo que os países reduzam as emissões de gases na atmosfera, os primeiros efeitos dessa melhoria devem demorar anos para acontecer.
Terra ainda levará anos para se recuperar dos gases do efeito estufa. Crédito: Brendan Smialowski/AFP (Getty Images)
Imagem: Brendan Smialowski/AFP (Getty Images)

Imagine uma realidade alternativa onde os líderes mundiais finalmente ouviram a ciência e implementaram medidas para reduzir os gases do efeito estufa. Esse seria o primeiro passo de uma nova política ambiental nível global, mas os resultados não seriam imediatos. É o que indica um novo estudo: com cortes significativos de gases poluentes, seria preciso esperar pelo menos dez anos até que o mundo começasse a esfriar. Dependendo do nível de redução de emissões, podemos ter que esperar até 2046 para ver as temperaturas globais caírem.

Publicado na Nature Communications em julho, o artigo mostra como o planeta poderia responder aos esforços globais para enfrentar a crise climática. Embora cortes severos de emissões sejam “necessários e urgentes”, o autor Bjørn Hallvard Samset, pesquisador sênior do Centro de Pesquisa Climática Internacional na Noruega, ressalva que os efeitos iniciais demorariam muito tempo para serem percebidos.

Para calcular quanto tempo levará para vermos o aquecimento global sofrer uma reversão visível, a equipe de cientistas usou modelos climáticos para avaliar quanto tempo o mundo levaria para esfriar em vários cenários. Em um deles, a equipe fez experimentos para analisar quando o clima reagiria de forma significativa à redução de diferentes tipos de emissões a zero em 2020, bem como o que aconteceria com uma redução de 5% ao ano.

Eles também analisaram como seguir Trajetórias Representativas de Concentração (RCPs, na sigla em inglês), especificamente a RCP2.6, que visa zerar as emissões de dióxido de carbono até 2100 – esse é considerado o melhor cenário de modelo climático para a humanidade. Além disso, o estudo explorou tipos específicos de emissões – incluindo dióxido de carbono, carbono negro e metano – para descobrir um possível caminho alternativo que poderia reduzir rapidamente a taxa de aquecimento. Dessa forma, a equipe analisou com que intensidade uma fonte de emissões afeta a temperatura global.

Acontece que não existe nenhum caminho mais fácil. A melhor solução para o futuro continua sendo cortar as emissões de carbono. Concentrando-se apenas na redução das emissões de dióxido de carbono, o mundo evitaria um aquecimento de mais de 0,7 graus Celsius até 2100. Apenas cortar o carbono negro, por outro lado, evitaria 0,09°C de aquecimento, mas por outro lado os benefícios limitados do resfriamento aumentariam muito mais rapidamente.

Os prazos para quando veríamos uma queda perceptível na temperatura média global variam para cada fonte de aquecimento. Se as emissões de dióxido de carbono zerassem até 2020, não veríamos a temperatura da superfície global refletindo significativamente essa redução até 2033. Sob o RCP2.6, o impacto demoraria ainda mais tempo e não surgiria até 2047. Na abordagem de redução de 5% ao ano – o cenário mais realista, de acordo com Samset -, 2044 é o ano em que veremos o aquecimento global começar a se reverter notavelmente se cortarmos o carbono emissões de dióxido.

“Isso é útil porque pode nos permitir sugerir estratégias combinadas de mitigação de emissões que podem ter um efeito rápido no aquecimento. Contudo, esperamos que essa sinceridade sobre a gravidade da temperatura global – e que há uma chance de vermos temperaturas crescentes por até uma década, mesmo se fizermos cortes muito fortes – ajude a evitar opiniões confusas no futuro. Seremos capazes de mostrar que os cortes estão surtindo efeito, mas talvez não em termos de temperatura global, que é a que a maioria das pessoas hoje está prestando atenção”, disse Samset.

Naomi Goldenson, pesquisadora assistente do Centro para Ciência Climática da Universidade da Califórnia em Los Angeles e que não trabalhou neste artigo, destacou que essas descobertas “não são uma surpresa”. Esse atraso na resposta da temperatura é “inevitável”, pois o dióxido de carbono tem uma vida útil bastante longa quando é lançado em nossa atmosfera.

Os negadores do clima podem tentar usar esse atraso no esfriamento do planeta para promover sua agenda – algo com que Samset se preocupa -, mas os pesquisadores estão um passo à frente deles. “Claro que veremos uma redução no aquecimento após os cortes, mas pode levar vários ciclos eleitorais. O público deve ver através dessas mentiras e saber que os cortes nos gases do efeito estufa são eficazes desde o primeiro dia”, concluiu Samset.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas