Teve reação alérgica à primeira dose da vacina da Covid-19? Segunda dose será mais leve, sugere estudo

Pesquisadores descobriram que mesmo pessoas com reações alérgicas graves não tiveram problemas.
Vacina
Foto: Joel Saget (Getty Images)

A reações alérgicas à vacina da Covid-19 são extremamente raras. No entanto, aquelas pessoas que tiveram não precisam se preocupar com a segunda dose. É o que diz uma nova pesquisa publicada na JAMA Internal Medicine, na última segunda-feira (26).

O estudo, que incluiu várias instituições médicas dos Estados Unidos, descobriu que as pessoas que relataram reações após a primeira dose foram capazes de tomar a segunda com segurança, com uma em cada cinco experimentando apenas sintomas alérgicos leves e controláveis.

Logo após a autorização para o uso emergencial das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna em dezembro, surgiram relatos de pessoas que tiveram alergia. Em alguns casos, essas reações foram graves e exigiram tratamento médico, o que é conhecido como anafilaxia. Estas reações mais graves são consideradas muito raras. Uma pesquisa com profissionais de saúde, por exemplo, descobriu que apenas cerca de 2% das pessoas experimentaram alguma reação alérgica aguda após a primeira dose, enquanto apenas 0,025% desenvolveram anafilaxia.

Ainda assim, os casos levaram a rótulos de advertência sobre os riscos, especialmente para pessoas com alergia documentada anterior a qualquer um de seus componentes. A orientação federal dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças também começou a recomendar um período de espera padrão de 15 minutos para a maioria das pessoas após a vacinação, já que é quando os sintomas são mais prováveis ​​de aparecer, e 30 minutos para qualquer pessoa com maior risco de alergia. O CDC também recomendou que as pessoas que tomaram a primeira dose e experimentaram anafilaxia não tomassem a segunda dose, mas que ainda poderiam tomar a vacina de dose única da Johnson & Johnson.

Porém, essas novas análises discutem que esse cuidado precisa ser reavaliado. Os cientistas são afiliados a vários centros médicos do país, incluindo o Massachusetts General Hospital e o Brigham and Women’s Hospital, ambos em Boston, o Vanderbilt University Medical Center em Nashville, Tennessee, a Yale School of Medicine em Connecticut e a University of Texas Southwestern. Eles avaliaram 189 pessoas que tinham sintomas documentados de uma reação alérgica à primeira dose de qualquer uma das vacinas de mRNA. Destes, 159 pacientes decidiram receber uma segunda dose da vacina, incluindo 17 pessoas que já haviam sofrido anafilaxia. Seus resultados na segunda vez foram registrados pela equipe médica da época ou por meio de um telefonema de acompanhamento com os pacientes.

Todas as pessoas toleraram o imunizante sem problemas ou tiveram problemas menores. Vinte por cento relataram sintomas imediatos de uma possível reação alérgica pós-dose; estes incluíam tonturas, suores ou urticária. Mas nenhum relatou sintomas piores do que na primeira vez, incluindo anafilaxia, e todos os casos foram de curta duração, desapareceram por conta própria ou foram tratáveis ​​apenas com anti-histamínicos.

“Nossa mensagem é que os sintomas alérgicos imediatos após as vacinas não impedem seu uso futuro. Pudemos supervisionar a vacinação completa e segura de 159 indivíduos que tiveram reações com sua primeira dose de mRNA”, disse a autora do estudo Kimberly Blumenthal, do Massachusetts General Hospital.

Curiosamente, a falta de reação na segunda vez sugere um questionamento sobre o que pode causar essas alergias. “Ao invés da alergia clássica, mediada por anticorpos IgE (imunoglobulina E), onde a exposição subsequente a um alérgeno reproduz reações semelhantes ou mais potentes, algumas das reações imediatas observadas às vacinas de mRNA COVID-19 podem ser devido a outros mecanismos que não são recorrentes e podem ser reduzidos com pré-medicação, como anti-histamínicos”, disse Blumenthal (notavelmente, 30% dos pacientes tomaram anti-histamínicos antes de sua segunda injeção).“Um bom exemplo pode ser agentes de contraste intravenosos onde as reações imediatas – até mesmo anafilaxia – muitas vezes podem ser evitadas com pré-medicação, como anti-histamínicos e corticosteróides.”

Como em qualquer estudo, esta pesquisa apresenta limitações. O estudo foi retrospectivo, o que significa que se baseou em dados coletados no passado. Diferentes centros médicos também podem ter usado critérios diferentes para medir os sintomas. E as pessoas no estudo foram encaminhadas a esses centros por causa de sua reação alérgica inicial, o que poderia torná-los diferentes de maneiras importantes para a população maior de pessoas com uma possível alergia à vacina.

Ainda assim, os pesquisadores dizem que suas descobertas devem fazer as pessoas reconsiderarem a estratégia não testada de misturar a primeira dose de uma vacina de mRNA com a vacina de J&J. “A vacinação completa com duas doses se tornou ainda mais importante com a variante delta e suspeitamos que haja muito mais pessoas que não receberam a segunda injeção por causa dos sintomas alérgicos”, disse Blumenthal.

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É provável que mais estudos sejam necessários para realmente convencer agências como o CDC a reconsiderar sua postura quanto às vacinas para essas pessoas alérgicas. Porém, pesquisas mais relevantes devem estar a caminho em breve. Em abril, o governo federal anunciou que iria estudar pessoas com certas condições alérgicas, como distúrbios de mastócitos, e comparar o que acontece com elas depois de tomar uma vacina de mRNA a um grupo de controle.

Quanto às pessoas preocupadas com seus próprios riscos após uma reação alérgica à primeira dose, Blumenthal aconselha que as pessoas conversem com seu médico e considerem a opinião de um alergista ao pesar os riscos e benefícios de uma segunda dose.

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