Tim Cook explica por que a Apple removeu app utilizado por manifestantes em Hong Kong, mas não convence

Em carta, CEO da Apple diz que o aplicativo estava sendo usado para atacar policiais individualmente, mas argumento é questionado.
Getty Images

O CEO da Apple, Tim Cook, explicou por que sua empresa decidiu sucumbir à pressão da China e remover um aplicativo que estava sendo usado pelos manifestantes pró-democracia de Hong Kong.

Os manifestantes usavam o aplicativo HKmap.live para monitorar o movimento policial com base em informações fornecidas por terceiros. A Apple removeu o aplicativo alguns dias atrás, depois o restabeleceu e o retirou novamente na quarta-feira (9), um dia após o People’s Daily, a plataforma estatal de notícias da China publicar uma matéria que sugeria que a Apple era cúmplice de “atos ilegais”, ajudando os manifestantes a “se envolver em mais violência”.

A Reuters relata que Cook defendeu a decisão em um comunicado interno da empresa. “Não é segredo que a tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal. Este caso não é diferente”, escreveu o CEO da Apple, de acordo com a agência de notícias, que revisou a carta.

A carta (uma cópia que o veterano de tecnologia John Gruber afirma ser autêntica e foi publicada aqui) continuou explicando que a empresa analisou “informações confiáveis” de “usuários” e do “Departamento de Crimes de Cibersegurança e Tecnologia de Hong Kong”, e determinou posteriormente que o HKmap.live foi usado “com intuito malicioso de atacar policiais individualmente e de vitimizar indivíduos e propriedades onde não havia presença da polícia”.

“Esse uso violou a lei de Hong Kong”, escreveu Cook. “Da mesma forma, o abuso generalizado viola claramente nossas diretrizes da App Store que proíbe danos pessoais”.

A Apple confirmou à Reuters que a carta foi escrita por Cook. A empresa não respondeu imediatamente a uma solicitação do Gizmodo para confirmação ou comentário adicional.

“Os debates nacionais e internacionais sobreviverão a todos nós e, embora importantes, eles não governam os fatos”, escreveu Cook. “Nesse caso, nós os revimos completamente e acreditamos que essa decisão protege melhor nossos usuários”.

As afirmações de Cook são difíceis de confirmar, mas o fundador e crítico social da Pinboard, Maciej Cegłowski, está em Hong Kong acompanhando os acontecimentos há algum tempo e considera suspeitos os comentários do CEO da Apple. A declaração completa de Ceglowski sobre o assunto está disponível no blog Daring Fireball (em inglês) e diz, em um trecho:

A primeira alegação é que “o aplicativo estava sendo usado maliciosamente para atingir policiais individuais por meio da violência”. Isso não faz nenhum sentido. O aplicativo não mostra a localização de policiais individuais. Mostra concentrações gerais de unidades policiais, com um atraso significativo.

Como apontaram o desenvolvedor e @charlesmok, um legislador de Hong Kong, o aplicativo agrega relatos do Telegram, Facebook e outras fontes. É difícil acreditar que uma campanha para atingir oficiais individuais usaria um formato de crowdsourcing mundialmente legível como este.

Além disso, quais são esses incidentes em que os manifestantes tinham como alvo policiais individuais para um ataque premeditado? O Sr. Cook pode dar um único exemplo? Alguém pode?

O senador norte-americano Josh Hawley tem contribuído fortemente para o debate e disse em um tuíte na terça-feira (8): “A Apple me garantiu na semana passada que a decisão inicial de proibir esse aplicativo foi um erro”, escreveu Hawley. “Parece que os censores chineses conversaram com eles desde então. Quem está realmente controlando a Apple? Tim Cook ou Pequim?”.

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