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Todo dia isso: novo vírus transmitido por carrapato já infectou várias pessoas desde 2014

Cientistas japoneses dizem que pelo menos sete pessoas adoeceram com o vírus Yezo desde 2014 e mais casos podem estar ocorrendo.

Imagem: Lamiot (Wikimedia Commons) / Matsuno e equipe (Nature Communications)

Outro dia, outro germe com o qual nos preocupar. Cientistas japoneses afirmam ter descoberto que um vírus, previamente desconhecido, transmitido por carrapatos tem adoecido as pessoas no país desde menos 2014. Acredita-se que Yezo, como foi batizado por seus descobridores, causa níveis baixos de leucócitos e contagem de plaquetas, bem como febre em suas vítimas, semelhante a outras doenças transmitidas por carrapatos.

Em um artigo publicado na Nature Communications, os pesquisadores expuseram a possibilidade de Yezo ser um novo vírus humano. De acordo com o relatório, a primeira aparição conhecida desse vírus foi em um homem de 41 anos que foi internado em seu hospital em Sapporo, Japão, em meados de maio de 2019 com febre alta, perda de apetite e dor nos membros inferiores de ambos lados.

Os sintomas começaram quatro dias depois que ele visitou uma floresta próxima e três dias depois que ele encontrou um carrapato preso em seu abdômen direito. Testes mostraram que o homem tinha níveis baixos de glóbulos brancos e plaquetas, o componente do sangue que ajuda a prevenir ou interromper o sangramento pela coagulação. Os médicos presumiram que ele tinha uma doença transmitida por carrapatos e administraram-lhe vários antibióticos. Ao longo de 19 dias – 15 dos quais foram passados ​​no hospital – ele se recuperou gradualmente e seus sintomas desapareceram. Mas durante aqueles dias, os testes não conseguiram identificar evidências de infecção por qualquer doença transmitida por carrapatos, incluindo doença de Lyme, tularemia e febre recorrente.

Pouco mais de um ano depois, em julho de 2020, os médicos encontraram outro paciente com sintomas semelhantes. Ele havia visitado dois hospitais antes de vê-los, mas também se recuperou com sucesso.

Por fim, dizem os autores, eles foram capazes de identificar traços do mesmo vírus desconhecido no sangue dos dois pacientes. Com o sangue do segundo paciente, eles afirmaram ter recuperado o suficiente do vírus para cultivá-lo totalmente intacto no laboratório e testá-lo em camundongos. E, finalmente, a partir dessas amostras, eles foram capazes de identificá-lo geneticamente como pertencente a uma família de vírus propagados por carrapatos, chamados de ortonairovírus. Eles decidiram chamá-lo provisoriamente de vírus Yezo (YEZV), em referência ao nome histórico de Hokkaido, a ilha maior onde foi encontrado pela primeira vez.

Para provar que um vírus recém-descoberto pode ser transmitido e causar doenças em humanos, são necessárias várias linhas de evidências, que os autores dizem ter coletado.

Por exemplo, eles dizem que encontraram anticorpos para Yezo na vida selvagem de Hokkaido e em três das principais espécies de carrapatos que habitam a área. Mais importante, eles também afirmam ter encontrado evidências de infecção do vírus nas amostras de sangue preservadas de pelo menos cinco outras pessoas na área que eram suspeitas de estarem doentes com uma patologia transmitida por carrapatos, desde 2014. Esses pacientes, como os dois primeiros, desenvolveram febre e baixas contagens de plaquetas, enquanto o sangue de quatro pessoas mostrou níveis de anticorpos Yezo, detectados ​​à medida que se recuperaram, algo como uma infecção aguda. Curiosamente, quatro desses pacientes também tinham evidência da doença de Lyme, sugerindo que eles podem ter experimentado uma coinfecção com ambos germes . (Infelizmente, as coinfecções transmitidas por carrapatos não são raras).

“Neste trabalho, demonstramos que o YEZV tem grande probabilidade de ser o patógeno causador da doença febril, representando o primeiro relato de uma infecção endêmica associada a um ortonairovírus potencialmente transmitido por carrapatos no Japão”, escreveram os autores.

Ainda será necessária uma verificação independente por outros cientistas antes que Yezo seja considerado uma ameaça verdadeira. Mas os autores suspeitam que pode ser mais difundido do que o documentado atualmente. Além disso, eles estão pressionando a comunidade científica para que mais pesquisas sejam feitas sobre o assunto – o mais rápido possível.

“Todos os casos de infecção do vírus Yezo que conhecemos até agora não se transformaram em fatalidades, mas é muito provável que a doença seja encontrada fora de Hokkaido, por isso precisamos investigar com urgência sua disseminação”, disse o autor do estudo Keita Matsuno,  virologista no Instituto Internacional de Controle de Zoonose da Universidade de Hokkaido, em um comunicado da universidade.

 

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