Cultura

Tom Blyth e Viola Davis se completam como pássaro e serpente no novo “Jogos Vorazes”

Prequel da trilogia com Jennifer Lawrence estreia no próximo dia 15 de novembro nos cinemas brasileiros. O Giz Brasil assistiu antes e traz as principais impressões
Paris Filmes/Reprodução

O ódio de Coriolanus Snow (Tom Blyth), presidente de Panem, ao Distrito 12 e a tudo que Katniss Everdeen representa, começa muito antes da trilogia de “Jogos Vorazes”. O filme “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” apresenta os motivos do tirano — ou os omite também.

O Giz Brasil assistiu ao novo filme da franquia “Jogos Vorazes” e conta o que você pode esperar do filme (cuidado com os spoilers a seguir).

A estreia é quarta-feira (15) nos cinemas brasileiros.

Rápido como um pássaro

A história inicia com Coriolanus Snow aos 18 anos estudando na Academia. Pobre por conta da guerra, mas omitindo a realidade, e órfão, a sua chance de mudar é sendo mentor do tributo do Distrito 12 na 10ª edição dos jogos.

É uma estratégia da Capital para atrair a audiência ao espetáculo-massacre. Faz apenas 10 anos que a guerra contra os distritos acabou e o governo quer manter o medo aceso.

Como nos outros quatro filmes, a história é baseada no livro de Suzanne Collins — que faz parte da produção-executiva. “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” segue a qualidade de adaptação que a franquia mostrou anteriormente e mantém a divisão de três atos das páginas.

Mas, neste caso, peca na velocidade e na costura da sequência. Parece que o filme está sendo projetado em velocidade 2.5: só no ato 1, vamos da infância dele ao Heavensbee Hall no dia da colheita com o reitor Casca Heighbottom (Peter Dinklage numa bela performance) odiando o Snow e aos risos maléficos da doutora Volumnia Gaul (Viola Davis).

Em seguida, já somos apresentados a Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), ao Bando, sua banda do Distrito 12, e ainda tem que processar uma sequência de tiro, picada e bomba. São muitas vicissitudes.

Rachel Zegler como Lucy Gray Baird em 'Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes"

Paris Filmes/Reprodução

Deve ser difícil colocar 571 páginas em pouco mais de duas horas de filme. Por isso, é preciso criar uma linha narrativa própria, mas com os elementos do universo.

“Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” cria sua trajetória de forma concisa, com as peças do livro sendo ajeitadas num quebra-cabeça criado pelo diretor Francis Lawrence. 

Mas nessa canção, alguns trechos ficam sem letra: como uma garota de distrito tem espaço para cantar na TV da Capital em meio a um ataque feito por rebeldes — em sua maioria, de distritos? 

Ato dois “em chamas”

Um trunfo da direção é ter dado mais emoção aos “Jogos Vorazes”. Como a história é da perspectiva de Coriolanus Snow, o enredo poderia ficar preso ao seu pensamento.

Mas o roteiro segue para o protagonismo da simpática Lucy Gray Baird. Mesmo com uma certa falta de dramaticidade, o toque que a atriz dá ao seu personagem-chave na história encanta — até serpentes. Rachel Zegler mostra porque merece interpretar a próxima “Branca de Neve” e a fotografia colorida.

Snow, o tributo da doutora Gaul em “Jogos Vorazes”

@lionsgate

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♬ THE HUNGER GAMES In Theaters Nov 17 – Lionsgate

Já Tom Blyth cresce até chegar no terceiro ato. O arco é mais reflexivo na personalidade de Snow, mas ainda segue o tom acelerado.

O ator faz uma dupla harmoniosa e venenosa com Viola Davis, atriz que dispensa apresentações e imprime talento mesmo numa vilã reduzida do livro para a tela. Enquanto um canta, o outro entra no jogo e completa. É ela quem prevê o perigo de um símbolo na arena.

A sensação é de que Snow era um jovem da Capital escolhido para ser o tributo nos “Jogos Vorazes” da doutora Volumnia Gaul. Perceber isso pode ser uma notícia boa. A dupla é um ponto alto dos diálogos.

Contudo, a Chefe dos Idealizadores some no ato três, sobrando mais autonomia a Snow. Tom Blyth carrega esse desenvolvimento do personagem e já dá os toques que Donald Suntherland colocou nele nos outros filmes de “Jogos Vorazes”.

Tordo canta histórias do Distrito 12 em “Jogos Vorazes”

Mesmo com a velocidade dos episódios (e a falta de explicação), o final de “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é uma peça bem encaixada. Tem traição, tem mistério e possibilidades. 

Nele, tem uma explicação breve para o significado da canção “The Hanging Tree” (“A Àrvore-Forca”), criada por Lucy Gray Baird, e para o tordo. A música é cantada por Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) no primeiro filme e vira um hino da revolução no último filme.

Partindo da premissa do livro, faltou voz para explorar mais coisas para a real dimensão de uma música atravessar 64 anos: explorar Maude Ivory (Vaughan Reilly) e o Bando, a forma como Coriolanus detesta tordos e como a amizade Sejanus (Josh Andrés Rivera) e Snow foi forjada.

Um prequel traz respostas, mas não todas. Porém, não pode deixar mais coisas em silêncio, como a derrocada da parceria entre Tigris (Hunter Schafer, que tem pouquíssimas falas) e Snow, primos criados pela Lady-Vó (Fionnula Flanagan).

Fazer o passado de uma trilogia de sucesso tem seus acertos e erros, seus pássaros e suas serpentes. Tornar mais poroso a cenas de ação e um bom final é um canto do tordo. Suprimir personagens é uma picada de cobra no filme.

A ver se Suzanne Collin vai seguir as pegadas nesta estrada para mais filmes da franquia “Jogos Vorazes” e ampliar o universo de Panem.

Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel é jornalista pela ECA - USP. Passou pela Rádio USP, Jornal da USP, UOL e DOC Films. Não dispensa café e podcast. É fã de "Moleque Atrevido" do Jorge Aragão.

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