O equivalente a cerca de 10 mil pianos de cauda de poeira espacial caem na Terra a cada ano, de acordo com um novo artigo publicado na Earth & Planetary Science Letters.
A descoberta surgiu de seis expedições do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França na Antártica, que duraram 20 anos na extremamente isolada Estação de Pesquisa Concordia. Este é um ótimo local para detectar poeira extraterrestre por causa das quantidades mínimas de poeira terrestre presentes lá e, apesar de estar na Antártica, de uma baixa taxa de acúmulo de neve.
Você não vê essa poeira porque ela é minúscula (tem cerca de 1/50 do tamanho de um grão de areia, no máximo). Mas anualmente, relataram os pesquisadores, 5,2 mil toneladas da substância caem do céu de uma variedade de fontes cósmicas. A poeira vem provavelmente de asteroides ou cometas e é a maior fonte de material espacial para a Terra, de acordo com os pesquisadores.
Sob o microscópio, as partículas parecem pedaços de algodão doce interplanetário. Eles foram coletados no que só pode ser considerado a versão do século 21 da mineração de ouro: a equipe de pesquisa derreteu grandes baldes de neve e, em seguida, peneirou a água em busca de tudo o que caiu do espaço.
A partir das 2 mil partículas espaciais que eles conseguiram encontrar, a equipe considerou em sua análise a quantidade de massa micrometeorítica que cai na Terra a cada ano. A maior parte dela é impossível de ser obtida, já que se perde na agitação da atividade terrestre, humana ou não. É a mesma razão pela qual os melhores meteoritos para análises químicas são aqueles encontrados em lagos congelados ou desertos — eles são mais desprovidos da contaminação que nós, formas de vida, trazemos.
Os pesquisadores também realizaram uma análise química para determinar a origem da poeira espacial. Eles descobriram que a fonte primária (80%) da matéria pode ser atribuída aos cometas. Mas os cientistas também presumiram que provavelmente há cerca de 15 mil toneladas de poeira orbitando perto de nós antes de entrar na atmosfera da Terra. Parte dessa poeira pode não chegar até aqui.
Seja qual for o caso, as implicações dessa poeira são perceptíveis. Como se trata de meteoritos, há uma chance de que a poeira possa preencher lacunas em nossa compreensão dos condritos carbonáceos, os meteoritos tão antigos quanto o sistema solar que são considerados os principais candidatos responsáveis por trazer água para a Terra em seus anos iniciais.
Uma vez que esta estimativa de 5,2 mil toneladas de poeira é anual, também significa que, teoricamente, um fluxo constante de novos dados meteoríticos pode ser encontrado na Antártica. Os pesquisadores só precisam estar munidos de suas peneiras.