Tony Bennett (1926-2023): 10 momentos de um monstro de cantor
Um monstro de cantor. De uma voz potente e controlada. De uma coerência de estilo e repertório. De uma elegância e um cavalheirismo ímpares. De uma alegria de viver que transparece até nas canções mais tristes. De uma noção enorme de como a música pedia pra ser cantada. E, nas horas vagas, um pintor de razoável talento. Assim foi o americano Tony Bennett, morto nesta sexta-feira aos 96 anos.
Bennett sofria de Mal de Alzheimer, diagnosticado em 2016. Por ordens médicas, parou de se apresentar em 2021.
Se você acha que, com tudo isso dito acima, Tony teve boa vida para triunfar na carreira, pense como é ser um cantor ítalo-americano tentando se firmar num território dominado por Frank Sinatra. Mas ele conseguiu nos anos 1950 seu lugarzinho cantando standards da canção americana e jazz.
Bennett não tinha Sinatra como rival, mas como um mestre. Tanto que gravou o álbum “Perfectly Frank” em 1992 só com músicas mais associadas ao repertório do Old Blue Eyes.
Sinatra também admirava Tony e teve a gentileza de um dia avaliar que o rapaz mais moço era um cantor melhor que ele. Bom, como não estamos aqui numa competição para saber quem foi melhor, valorizemos os dois igualmente. Porque ambos foram personalidades raras.
Bennett nasceu Anthony Dominick Benedetto em 3 de agosto de 1926 em Queens, Nova York, filho de um quitandeiro e uma costureira. Como de costume com artistas, demonstrou cedo seu gosto por cantar.
A estreia em disco veio em 1950 com a música “Boulevard of Broken Dreams”, pela gravadora Columbia. Tony contou que estava muito nervoso por gravar no estúdio da 30th Street em Nova York onde Sinatra, o pianista Duke Ellington e o maestro Leonard Bernstein haviam registrado grandes discos.
Em 2020, foi feito um clipe para celebrar os 70 anos de carreira de Bennett.
1- “Boulevard Of Broken Dreams (70th Anniversary Celebration)”
Em 1951, Bennett, conseguiu dois primeiros lugares na parada americana com “Because of You” e “Cold, Cold Heart”. Seu terceiro 1º lugar veio em 1953 com “Rags to Riches”. O gozado é que Tony chegou a dizer que achava a composição fraca em qualidade.
2- “Rags To Riches”
Na sequência de “Rags to Riches”, Tony Bennett lançou “Stranger in Paradise”, que chegou ao 2º lugar da parada americana. Abaixo, um clipe da apresentação do cantor no programa de TV “The Ed Sullivan Show” em 17 de janeiro de 1954.
3- “Stranger In Paradise” (The Ed Sullivan Show)
Entre os 61 álbuns de estúdio que Bennett lançou em vida, alguns se destacam. Um deles é “Long Ago and Far Away”, de 1958, no qual ele canta duas versões estupendas de standards, “Ev’rytime We Say Goodbye”, do compositor Cole Porter, e “Time After Time”, de Sammy Cahn e Jule Styne, gravada por Sarah Vaughan e Frank Sinatra na década anterior.
4- “Ev’rytime We Say Goodbye”
5 – “Time After Time”
Em 1959, Bennett lançou dois álbuns acompanhado pela orquestra do pianista Count Basie, o time mais cheio de suingue do jazz. O álbum “Strike Up the Band” foi relançado com o título “Basie Swings, Bennett Sings”. Um destaque é “Anything Goes”, outra composição de Cole Porter.
6- Tony Bennett and Count Basie and His Orchestra: “Anything Goes (1990 Remix / Remaster)”
Foi em 1962 que Bennett lançou a música que seria sua marca registrada pelo resto da vida: “I Left My Heart in San Francisco”.
7- “I Left My Heart in San Francisco”
Como bônus, a versão do programa “MTV Unplugged”, registrada em 1994:
“I Left My Heart in San Francisco” (MTV Unplugged)
Outro álbum de respeito é “If I Ruled the World”, de 1965. Tem Bennett cantando “Insensatez”, do brasileiro Tom Jobim (que, em inglês, tem o título “How Insensitive”). E uma versão bem lenta e intimista de “Fly Me to the Moon” que contrasta em tudo com o balanço jazzístico da versão tornada célebre por Frank Sinatra.
8- “How Insensitive”
9- Fly Me to the Moon
Um forte aspecto da carreira de Tony Bennett foi a grande quantidade de duetos que gravou, especialmente no século 21 com cantoras como Diana Krall, Aretha Franklin, Amy Winehouse e Lady Gaga.
Mas não era só com quem também cantava que ele dividia créditos. Exemplo disso é sua produção com o brilhante pianista Bill Evans nos anos 1970, que rendeu dois álbuns. O primeiro foi “The Tony Bennett/Bill Evans Album”, de 1975, no qual os dois mestres oferecem uma versão cheia de sutilezas de “The Touch of Your Lips”.
10- Tony Bennett/Bill Evans – “The Touch of Your Lips (Official Visualizer)”
São apenas dez amostras de gravações memoráveis em sete décadas de carreira. Por isso, resta recomendar ir pesquisar mais pérolas no YouTube ou no streaming de áudio de sua preferência. Tony Bennett deixou muita coisa para nos divertir.
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Outro bônus para quem tiver mais tempo: uma apresentação de 2007 em Londres que rendeu este vídeo de quase uma hora registrado para o programa “BBC One Sessions”.
Tony Bennett – Live in London 2007