Tradutor universal do Google é sacada esperta em meio a ano dominado por inteligência artificial

O uso de inteligência artificial foi um dos assuntos mais polêmicos do ano passado. Programas que usavam machine learning, como a ferramenta de recrutamento da Amazon, se revelaram enviesados contra mulheres. Outros eram perigosamente mal desenvolvidos, como o sistema da Predictim, que fazia uma análise de risco de babás. Mesmo grandes empresas de tecnologia se […]
Sam Rutherford/Gizmodo

O uso de inteligência artificial foi um dos assuntos mais polêmicos do ano passado. Programas que usavam machine learning, como a ferramenta de recrutamento da Amazon, se revelaram enviesados contra mulheres. Outros eram perigosamente mal desenvolvidos, como o sistema da Predictim, que fazia uma análise de risco de babás. Mesmo grandes empresas de tecnologia se posicionaram ao dizer que o reconhecimento facial está fora de controle e chegaram até pedir algum tipo de regulação. Então, faz sentido que o Google aposte neste início de 2019 em uma solução de inteligência artificial que nos leve a um dos grandes sonhos que já vimos na ficção científica: um tradutor universal.

Na CES 2019, o Google apresentou uma série de atualizações para o Google Assistente. A mais importante é um novo recurso de interpretação para smart displays e alto-falantes inteligentes, que permite a tradução em tempo real de 27 línguas — a rigor, está longe ainda de um tradutor universal, pois ainda faltariam uns 5.970 idiomas. E, olha, ele funciona bem, de acordo com quem teve acesso a este novo recurso.

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Para usá-lo, basta dizer “Ei Google, seja meu tradutor de chinês” para começar o modo intérprete no modo falado ou no modo escrito, em casos de Smart Displays.

Sam Rutherford, do Gizmodo, está na CES e fala mandarim. Ele fez alguns testes e, embora tenha sotaque ao falar a língua asiática, o sistema traduziu todas as frases básicas sem erro.

Isso pode não parecer grande coisa, pois a tradução de línguas já está por aí já há algum tempo, e o tradutor online do Google já é bem bom (a ferramenta começou em 2006, mas só passou a funcionar com redes neurais de aprendizado profundo em 2016). No entanto, é algo importante. Nós já nos cansamos de progressos incrementais e o conceito de um tradutor universal carrega consigo um conceito da cultura pop e tecnológica — está no escalão de sonhos tecnológicos de décadas atrás que estão próximos de serem concretizados. Babel Fish, o tradutor universal do “Guia do Mochileiro das Galáxias”, é tão presente quanto o Hall 9000 ou o tricorder, e a ideia de tal ferramenta é tão inspiradora quanto influente.

Em 2012, o ex-CEO do Google Eric Schmidt disse que a ficção científica estava se tornando realidade, citando os sistemas de tradução de “Jornada nas Estrelas” e o “Guia do Mochileiro das Galáxias”. Isto é um Santo Graal, pois os sonhos da ficção guiam diretamente as empresas de tecnologia a níveis mais altos. Toda grande empresa atualmente está investindo em tradução de línguas. Todas elas querem ser Babel Fish — se não for por lucro, que seja pelo orgulho e a satisfação de conquistar tal fim. Mesmo na conferência do ano passado da Magic Leap, uma das conversas frequentes tinha como objetivo escrever palavras traduzidas em tempo real para serem exibidas nos óculos de realidade aumentada da companhia.

O mais importante disso tudo é que a tradução universal é percebida como um bem universal e, portanto, não controverso. É, acho, um dos poucos usos de inteligência artificial que ninguém tem dúvidas de que oferecerá um benefício cultural relevante. Haverá, sem dúvidas, ressalvas e complexidades, mas de modo geral tal ferramenta permitirá melhorar a comunicação entre culturas — como desafio, é importante notar que há milhares de intérpretes/tradutores no mundo que podem perder o emprego, além das questões de privacidade ao manter a fala dos usuários na nuvem.

Alguns hotéis dos EUA já contam com uma smart Display com o modo intérprete, como o Caesars Palace, em Las Vegas. Crédito: Google

Há alguns anos, quando estive na China a trabalho, um dos momentos mais bacanas foi quando usei o app de tradução do Baidu para conversar com um taxista sobre as condições de trabalho no país. Isto é algo que acontecia, mesmo há cinco anos — é um caso puro de tecnologia permitindo uma conexão que antes era impensável.

O Google está posicionando o Assistente como um competidor da Alexa. A tradução universal é uma das melhores formas de incluir uma aura mística e de boa vontade em seus produtos. Um intérprete com alto grau de usabilidade e interface amigável (e que ainda flerta com um sonho antigo de ficção científica) meio que limpa a barra para impor que o produto do Google é uma companhia feita para o bem do usuário, e não para o mal.

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