Duas equipes diferentes de cientistas anunciaram que a transfusão de sangue de jovens ajuda a rejuvenescer pessoas mais velhas, consertando o coração e curando cérebros envelhecidos. Falando ao New York Times, o professor de neurologia da Harvard Medical School, Rudolph Tanzi, diz que “essas descobertas podem mudar muita coisa.”
Tanzi, que não é associado a nenhum dos estudos, também disse estar “extremamente empolgado” com os resultados das duas pesquisas. Esses estudos seguem experimentos feitos nos anos 1950 pelo Doutor Clive M. McCay, da Universidade de Cornell. McCay descobriu que, após unir ratos por seus vasos sanguíneos em um procedimento chamado parabiose, os ratinhos mais velhos rejuvenesciam pelo plasma dos mais novos. Ele não conseguiu explicar por que isso aconteceu, no entanto.
Os novos estudos mostram provas claras de como o processo funciona e ainda oferecem uma explicação: a chave está no nível de algumas proteínas que são abundantes em sangue jovem e parecem acordar células-tronco, propiciando a criação de novos tecidos.
Rejuvenescendo cérebros…
O primeiro estudo- publicado na Nature Medicine e liderado por Saul Villeda, da Universidade da Califórnia – diz que a transfusão de sangue através da parabiose funciona e que a extração do plasma dos camundongos mais jovens e a injeção no cérebro mais velho funciona ainda melhor. O processo cria novas conexões neuronais, revertendo os efeitos do envelhecimento, e melhorando consideravelmente as funções cognitivas dos ratos:
Em um nível cognitivo, a administração sistêmica do plasma do sangue jovem em ratos mais velhos melhorou deficiências cognitivas relacionadas à idade tanto em condicionamento do medo contextual quanto na aprendizagem espacial e memória. Melhorias estruturais e cognitivas desencadeadas pela exposição ao sangue jovem são mediadas, em partes, pela ativação do elemento de resposta ao AMPc (uma proteína conhecida como CREB) no hipocampo envelhecido. Nossos dados indicam que a exposição de ratos envelhecidos ao sangue jovem é capaz de rejuvenescer a plasticidade sináptica e melhorar a função cognitiva.
Essa descoberta pode ser a chave para combater a doença de Alzheimer e outras doenças cerebrais degenerativas causadas pelo envelhecimento.
…e corações
O segundo estudo, publicado pela Science e feito por uma equipe de Harvard liderada pela Doutora Amy J. Wagers, mostra que o alto nível da proteína GDF11, presente no sangue jovem, reverteu o relógio dos corações de ratos velhos. Essa proteína revive as células-tronco nos ratos velhos, causando a criação de novos tecidos para substituir os antigos.
A Dra. Wagers era um membro da equipe que inicialmente revisou o estudo do Dr. McCay, grupo este liderado pelo professor de neurologia da Universidade de Stanford, Dr. Thomas Rando. Rando estuda a longevidade e envelhecimento dos humanos há tempos. Eis um vídeo bem interessante (e em inglês) em que ele discute o processo e fatores para prevenir o envelhecimento.
A fonte da juventude eterna
De acordo com a Dra. Wagers, os dois estudos mostram que “em vez de tomar um medicamento para o seu coração, um para os músculos e um para o cérebro, talvez você consiga desenvolver algo que afete todos eles.”
Há apenas duas ressalvas. A primeira é que essas experiências foram feitas com ratos. Elas ainda precisam ser testadas em seres humanos, que têm versões próprias da GDF11. Provavelmente funcionará da mesma maneira, mas ainda não podemos dizer com certeza.
A segunda é o câncer. No momento em que você acorda células-tronco e diz para elas criarem novas células, talvez você aumente a possibilidade de desenvolver câncer. Sinceramente, prefiro arriscar a possibilidade do câncer do que a certeza da demência ou uma morte repentina causada por algum problema cardíaco. Mas nem todos pensam assim.
De qualquer forma, os cientistas estão bastante empolgados. Os resultados são claros e não há conflitos entre os dois estudos, então essa notícia é espetacular, eles dizem. O diretor do Centro de Medicina Molecular do Instituto Nacional de Coração, Pulmão e Sangue dos EUA, Dr. Toren Finkel, disse ao The New York Times que os estudos mostram que “podemos atrasar o relógio em vez de diminuir a sua velocidade”. Estou com os dedos cruzados com tanta força que eles podem gangrenar.