O plano controverso de realizar um transplante de cabeça em humanos até 2017

O neurocirurgião italiano Sergio Canavero chamou a atenção do mundo ao anunciar seus planos de realizar o primeiro transplante humano de cabeça em 2017.

O neurocirurgião italiano Sergio Canavero chamou a atenção do mundo este ano quando anunciou seus planos para realizar o primeiro transplante humano de cabeça em 2017. Agora, ele afirma que contará com a ajuda de Ren Xiaoping, um cirurgião chinês que já fez mais de mil transplantes de cabeça em ratos.

“O Dr. Ren é a única pessoa no mundo capaz de liderar este projeto… a China pode ser a melhor escolha para a realização de transplantes de cabeça”, disse o Dr. Canavero à imprensa.

O Dr. Ren ainda está longe de realizar um transplante duradouro. Ele deu novas cabeças para cerca de 1.000 ratos, em operações que levam dez horas cada; alguns conseguiram respirar e piscar os olhos, mas esses híbridos morreram em algumas horas.

Em junho, o Dr. Ren explicou ao Wall Street Journal por que ele está tão interessado em pesquisas de transplante de cabeça: “elas poderiam um dia ajudar pacientes humanos que têm cérebros intactos, mas corpos com problemas, tais como pessoas com lesões na medula espinhal, câncer e doenças de atrofia muscular”.

O primeiro transplante bem-sucedido de cabeça foi realizado em 1970 nos EUA, por uma equipe liderada por Robert White. Ele transplantou a cabeça de um macaco para o corpo de outro: ele não conseguia mover o corpo, mas era capaz de respirar com ajuda artificial. O macaco viveu por nove dias até que seu sistema imunológico rejeitou a cabeça.

O Dr. Ren anunciou planos de repetir esse feito em primatas ainda este ano. Mas daí a fazer a mesma coisa em humanos é um salto gigantesco. O neurologista Dr. Michael DeGeorgia diz à ABC News: “não acho que isso vai acontecer em dois anos, nem mesmo em 10 ou 20 anos”.

Ren Xiaoping e Sergio Canavero
Ren Xiaoping e Sergio Canavero (Xinhua)

O Dr. Canavero explicou à New Scientist como seria essa operação em humanos:

Ela envolve resfriar a cabeça do receptor e o corpo do doador para estender o tempo em que suas células podem sobreviver sem oxigênio. O tecido em torno do pescoço é dissecado e os grandes vasos sanguíneos são ligados utilizando tubos minúsculos, antes que as medulas espinhais de cada pessoa sejam cortadas…

A cabeça do receptor é, então, levada para o corpo do doador e as duas extremidades da medula espinhal são fundidas…

Em seguida, os músculos e o fornecimento de sangue seriam suturados, e o receptor seria mantido em coma durante três ou quatro semanas, para evitar movimentos. Eletrodos implantados iriam fornecer estimulação elétrica regular para a medula espinhal…

Quando o destinatário acordar, Canavero prevê que eles seriam capazes de se mover e sentir o seu rosto e iria falar com a mesma voz. Ele diz que, com fisioterapia, a pessoa poderia andar dentro de um ano.

Como você pode imaginar, o procedimento será cheio de desafios e incertezas. Há a possibilidade de que a cabeça rejeite o corpo, ou vice-versa. A medula espinhal pode não se fundir adequadamente. E mesmo se tudo correr bem, não há como saber se as capacidades mentais ou a personalidade do paciente permanecerão iguais.

Também há toda a questão ética. O Dr. Arthur Caplan diz à CNN que, se Canavero consegue mesmo fundir medulas espinhais, ele deveria primeiro consertar esta parte do corpo em pacientes com paralisia, em vez de fazer cirurgias tão arriscadas. Para Caplan, a ideia de um transplante de cabeça é apenas um golpe de marketing.

Ainda assim, há voluntários para este procedimento arriscado. O russo Valery Spiridonov, um cientista da computação com 30 anos de idade, disse em abril que está disposto a ter sua cabeça removida e implantada no corpo de outra pessoa. Ele sofre de atrofia muscular espinhal, uma doença degenerativa que causa problemas respiratórios e fraqueza nas pernas – e para a qual não há tratamento conhecido.

Muitos estão céticos de que esta cirurgia realmente ocorra em 2017. Talvez ela seja possível, mas não resulte em uma experiência duradoura para o paciente.

[ScienceAlert]

Foto por Josh Connell/Flickr

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