Dois planetas do sistema Trappist-1 mostram grande potencial para habitação
Faz menos de um ano que astrônomos detectaram sete planetas ao redor de TRAPPIST-1, um extraordinário sistema estrelar localizado a 39 anos luz da Terra. Agora, uma nova pesquisa sugere que pelo menos dois destes planetas são habitáveis, graças a uma fortuita peculiaridade orbital. Mas outros cientistas se mantêm céticos, dizendo que o TRAPPIST-1 tem muito mais males em sua habilidade de promover a vida.
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O TRAPPIST-1 tem mais planetas do que qualquer outro sistema que conhecemos além do nosso. Estes sete planetas, todos com o tamanho aproximado ao da Terra, circulam a órbita de uma “fresca” estrela anã vermelha – uma pequena estrela vermelha cuja temperatura não ultrapassa os 2.430 ºC, equivalente a metade do calor gerado pelo Sol.
Uma nova pesquisa publicada na Astronomy e Astrophysics identifica dois planetas ao redor do TRAPPIST-1 como os mais prováveis de serem habitáveis, incluindo um que pode até mesmo ter um vasto oceano de água.
Essa estrela anã pode ser velha e apagada, mas seus sete planetas (listado de b a h em relação a sua distância com a estrela) estão estacionados relativamente próximos de seu hospedeiro (um ano nestes planetas dura apenas alguns dias). Apesar da proximidade, estes exoplanetas possuem superfícies relativamente frias – pelo menos por padrões astronômicos. A temperatura das superfícies varia de calorosos 127 ºC a gélidos – 106 ºC.
Estes planetas não parecem muito habitáveis, mas acontece que eles estão em uma órbita excêntrica, o que significa que suas orbitas não são muito circulares. O contínuo fluxo e refluxo destas órbitas causam efeitos gravitacionais nas profundezas dos núcleos destes planetas, gerando calor. Este fenômeno, conhecido como “aquecimento de maré” já foi observado na lua de Saturno Encélado e na lua de Júpiter Europa, permitindo vastos oceanos de água líquida e quente a existirem abaixo de sua gélida crosta.
É essa tentadora possibilidade que fez uma equipe de pesquisa do Planetary Science Institute (PSI) a estimar a distribuição química e material dentro de cada um dos planetas do TRAPPIST-1.
“Presumindo que estes planetas são compostos de gelo, pedra e ferro, podemos determinar quanto de cada um deles podem estar presentes, e quão grossas cada camada diferente pode ser”, disse em um comunicado Amy Barr, cientista sênior do PSI. “Porque as massas e [tamanho] dos planetas não são [bem estabelecidos], mostramos o total de possíveis estruturas interiores e composições interiores”.
Os pesquisadores determinaram que os planetas d e e “são os mais prováveis de serem habitáveis”, de acordo com suas superfícies de temperatura moderada e níveis de aquecimento de maré. Além disso, os planetas d e e não exibem grandes flutuações de aquecimento que causariam uma situação de fuga do gás estufa, como a que vemos em Vênus. Surpreendentemente, o planeta d pode ser um planeta d’água – um planeta completamente coberto em água líquida. O planeta e está provavelmente coberto de gelo, mas pode abrigar um oceano de água líquida abaixo da superfície congelada.
Quanto aos outros planetas, eles não são tão habitáveis. O planeta b é um bola de lava, e o planeta c tem uma superfície rochosa que libera magma, semelhante a lua Io de Júpiter.
Os pesquisadores não puderam determinar a situação dos planetas f e g, dizendo que o aquecimento de maré deles pode ser pequeno demais para produzir oceanos abaixo do gelo. Mas o planeta f, assim como o e, pode também ser coberto de gelo, então caso seu aquecimento de maré exista, este seria um potencial sinal de habitabilidade.
Avi Loeb, um astrônomo no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics que não esteve envolvido no estudo, diz que os resultados “não são firmes” dado o quanto não sabemos sobre as massas e tamanhos dos planetas do TRAPPIST-1.
“Os autores concluem que o alongamento e flexão pode aquecer os planetas e melhorar as prospecções de habitabilidade”, disse Loeb ao Gizmodo. “Mas para o líquido existir na superfície destes planetas e permitir a química da vida, estes planetas precisam de uma atmosfera”.
Em um recente estudo de autoria de Loeb e seu estudante de pós-doutorado Manasvi Lingam, eles argumentam que as atmosferas destes planetas foram eliminadas pelos poderosos ventos da estrela hospedeira, que seria de uma magnitude muito mais poderosa que os ventos solares recebidos pela Terra. Inclusive, estes planetas estão dez vezes mais próximos de sua estrela do que a Terra está do Sol. Outra pesquisa sugere que, mesmo com atmosferas, oceanos evaporariam para o espaço. Loeb diz que a prospecção de vida no sistema TRAPPIST-1 “não são boas”.
“Isso talvez explique porque nos encontramos ao redor de uma estrela como o Sol e não mais próximos de uma estrela apagada como o TRAPPIST-1, que tem apenas 8% da massa do Sol”, diz Loeb.
Loeb está certo ao dizer que o estudo se baseia em elementos desconhecidos, mas ignora o potencial da vida emergir nas águas quentes derivadas do aquecimento de maré. Aqui no nosso sistema solar, Encélado e Europa se tornaram tentadores candidatos na busca pela vida. No caso da Encélado, cientistas já determinaram que a lua possui o necessário para construir vida. Mas é claro, os planetas do TRAPPIST-1 podem não ter complexas criaturas terrestres, mas talvez já existam pequenos organismos sob o gelo.
Imagens: NASA