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Empresa paralisa teste de tratamento ‘revolucionário’ para o câncer após morte de pacientes

Depois da morte de cinco pacientes, a Juno Therapeutics decidiu paralisar seu tratamento experimental contra o câncer

Depois da morte de cinco pacientes, a Juno Therapeutics decidiu paralisar seu tratamento experimental contra o câncer que aumenta o poder das células imunológicas dos pacientes. A notícia vem apenas alguns dias depois da concorrente da companhia, Kite Pharma, anunciar sucesso com um método similar, mostrando que ainda há esperanças para essa terapia genética que pode revolucionar os tratamentos.

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Chamado de JCAR015, o tratamento estava sendo usado em adultos com leucemia linfóide aguda (ou LLA), um câncer que afeta o sistema imunológico. Em julho de 2016, três pacientes morreram durante a participação da fase II do teste clínico da Juno, conhecida como ROCKET, o que fez com que a FDA (órgão dos EUA equivalente à Anvisa) suspendesse a terapia. Pouco depois, os testes puderam continuar, mas foram suspensos mais uma vez em novembro, após três novas mortes. Esses reveses, junto com diversas críticas que acusavam a empresa de esconder as mortes do público e “avançar rápido demais” com os testes, finalmente fizeram com que a Juno pisasse no freio e interrompesse completamente o programa.

“Decidimos não seguir adiante com os testes ROCKET ou JCAR015 nesse momento, mesmo que eles tenham gerado aprendizados importantes para nós e para o campo da imunoterapia”, escreveu Hans Bishop, presidente e CEO da Juno, em um comunicado. O CEO reafirmou o “compromisso da empresa em desenvolver melhores tratamentos para os pacientes que lutam conta o LLA”, adicionando que “um método que utilize as tecnologias definidas da célula é a melhor plataforma a se seguir”.

A plataforma, conhecida como CAR-T, produz células imunológicas geneticamente modificadas que são reintroduzidas na corrente sanguínea do paciente, prevenindo que o câncer se espalhe e assuma o controle. Esse tratamento potencialmente revolucionário chamou bastante atenção, principalmente depois dos primeiros resultados dos testes clínicos serem revelados e mostrar que 94% de aproximadamente 35 pacientes em estado terminal tratados com o CAR-T entraram em remissão.

No entanto, a nova imunoterapia também resultou diretamente na morte de pacientes, provavelmente devido a reações às drogas da quimioterapia e ao tratamento com CAR-T. A Juno culpou as mortes por uma mudança no protocolo original do estudo – especificamente, a adição da droga da quimioterapia fludarabina junto com a droga de quimioterapia ciclofosfamida. No entanto, um dos pacientes que morreram não estava fazendo quimioterapia, o que colocou essa afirmação em xeque.

Como apontado, a Juno pode estar deixando o tratamento JCAR015 de lado, mas não desistiu do conceito do CAR-T. Para esse fim, a empresa de Seattle está focando em um segundo tratamento utilizando CAR-T. Chamado de JCAR017, a promessa é tratar o linfoma difuso de grandes células B, que é a forma mais comum de linfoma não-Hodgkin. Como apontado no STAT, um teste inicial da Juno com 19 pacientes teve um efeito positivo em 42% deles durante três meses. A empresa pretende lançar um estudo maior ainda neste ano.

Mas, nesse estágio, a Juno já ficou um pouco para trás. Existem outras duas grandes empresas trabalhando em seus próprios tratamentos com CAR-T para o linfoma difuso de grandes células B – a Kite Pharma e Novartis. No dia 28 de fevereiro, a Kite anunciou alguns resultados promissores a respeito dos seus testes clínicos, mostrando que 82% de cerca de 100 pacientes viram o câncer diminuir pela metade em algum ponto. A empresa agora planeja enviar o tratamento para a aprovação da FDA. A Novartis pretende fazer o mesmo até o final desse ano.

A corrida por esse tratamento – cujo valor estima-se em US$ 1,5 bilhão em vendas anuais – está avançando em um ritmo rápido, enquanto a Juno Pharmaceuticals precisará correr atrás do prejuízo.

[STAT, GEN]

Imagem: Wellcome Images

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