Trump quer que Microsoft pague fatia de acordo com o TikTok aos EUA
Donald Trump quer que o governo dos Estados Unidos, de alguma forma, obtenha uma espécie de comissão caso a Microsoft feche a compra do TikTok.
O TikTok é propriedade da ByteDance, sediada em Pequim, que no último ano desencadeou preocupações nos EUA de que o governo chinês pudesse ordenar à empresa que a ajudasse na espionagem de 80 milhões de usuários americanos ativos diariamente no aplicativo.
Não há evidências de que a ameaça seja nada além de teórica, e a empresa alega que nenhum dado de usuário americano é enviado à China, mas a Casa Branca anunciou sua intenção de proibir o aplicativo por completo, a menos que haja uma mudança de propriedade.
Durante o fim de semana, a Microsoft confirmou que estava conversando sobre um acordo que faria com que a ByteDance vendesse a sua fatia do TikTok para a empresa, cortando as ligações do app com a China e resolvendo potencialmente as suspeitas de uma ameaça à segurança nacional.
Desde a semana passada, a Casa Branca se opôs a qualquer acordo e Trump ainda insistia que o aplicativo seria banido, independentemente do que acontecesse. Isso mudou. De acordo com o TechCrunch, Trump disse aos repórteres nesta segunda-feira (3) que conversou com o CEO da Microsoft, Satya Nadella, durante o fim de semana e chegou a um novo entendimento.
Mas Trump conseguiu inserir o que pode ser uma “pílula de veneno” no acordo: a Microsoft teria que pagar aos EUA por uma parte do negócio. A transcrição do TechCrunch deixa claro que o presidente tem a impressão de que o acordo só é possível com a facilitação do governo dos EUA e, portanto, uma parte “muito substancial” de uma venda seria devida ao Tesouro:
É provavelmente mais fácil comprar a coisa toda do que comprar 30% dela. Porque eu digo como se faz 30%? Quem vai ter o nome? O nome é quente, a marca é quente. E quem vai ter o nome? Como você faz isso se for de propriedade de duas empresas diferentes? Então, minha opinião pessoal foi: provavelmente é melhor você comprar tudo do que comprar 30%. Eu acho que comprar 30% é complicado.
[…] Eu disse que se você comprar, qualquer que seja o preço, isso vai para quem quer que seja o dono, porque acho que é a China, essencialmente, mas mais do que qualquer outra coisa, [então] eu disse que uma parte muito substancial desse preço vai ter que vir para o Tesouro dos Estados Unidos. Porque estamos tornando possível que este negócio aconteça. Neste momento, eles não têm nenhum direito, a menos que nós lhes concedamos isso. Portanto, se vamos dar a eles os direitos, então tem que entrar, tem que entrar neste país.
É um pouco como a [relação] locatário-inquilino. Sem um arrendamento, o inquilino não tem nada. Portanto, eles pagam o que se chama “dinheiro das chaves” ou pagam alguma coisa. Mas os Estados Unidos deveriam ser reembolsados, ou deveriam receber uma quantia substancial de dinheiro, porque sem os Estados Unidos eles não têm nada, pelo menos tendo a ver com os 30%.
Embora seja possível que Trump estivesse apenas inventando essas coisas ou ainda esteja entendendo mal conceitos econômicos básicos como impostos, isto também poderia ser interpretado como algo semelhante à extorsão. O presidente não elaborou sobre qual base legal tal pagamento poderia ser justificado, provavelmente porque não há outra além de seu desejo de marcar pontos políticos em qualquer acordo, ou se Nadella tinha concordado com essa condição.
Segundo a Reuters, um resultado concreto da discussão foi que Trump disse para Nadella que o Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (que supervisiona dos acordos internacionais) lhe dará 45 dias para negociar uma transação. Se esse prazo passar sem um acordo, o resultado será uma proibição do TikTok a partir de 15 de setembro.
Também não está claro se a Casa Branca decidirá impor outras condições ao acordo. O conselheiro comercial de Trump, Peter Navarro, disse à CNN em uma entrevista na segunda-feira que a Microsoft deveria ser obrigada a vender quaisquer operações que tenha na China se quiser comprar a TikTok, de acordo com o New York Times.