Ciência

Tumores podem “mudar de dieta” para driblar o tratamento, diz pesquisa

Descoberta desafia conceitos anteriores sobre o câncer e abre novas perspectivas para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes
Imagem: National Cancer Institute/Unsplash/Reprodução

Uma descoberta está mudando a perspectiva da ciência sobre o tratamento de tumores. Pesquisadores do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas (EUA), revelaram em um estudo publicado na revista Cancer Cell que os tumores podem “mudar de dieta” para escapar do tratamento.

Assim, adaptando-se ao consumo de lactato produzido por bactérias. Para entender a descoberta primeiro é preciso entender o funcionamento das células cancerigenas.

Diferentemente das células normais, que obtêm energia principalmente da glicose, as células cancerígenas são conhecidas por favorecer a fermentação do ácido láctico, conhecido como efeito Warburg.

No entanto, a equipe de pesquisadores descobriu que o ácido láctico produzido por bactérias, como a Lactobacillus iners (L. iners), pode alimentar o crescimento do tumor e dar resistência à radioterapia.

Segundo Lauren Colbert, oncologista e coautora do estudo, disse à Nature, as bactérias residentes no tumor se adaptam às necessidades das células cancerígenas e se alimentam dos nutrientes produzidos pelo próprio tumor.

Essa descoberta desafia conceitos anteriores sobre o metabolismo tumoral e abre novas perspectivas para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

Entenda a pesquisa sobre o câncer

A pesquisa, realizada em pacientes com câncer cervical submetidos a quimiorradiação, revelou uma associação significativa entre a presença de L. iners e resultados clínicos desfavoráveis. Incluindo diminuição da sobrevida livre de recorrência e da sobrevida global.

Experimentos adicionais demonstraram que o lactato produzido por L. iners pode reprogramar o metabolismo das células tumorais, tornando-as resistentes à radiação e à quimioterapia.

Os cientistas agora estão explorando estratégias para eliminar bactérias produtoras de lactato do microbioma tumoral, incluindo o uso de antibióticos específicos. Além disso, estão investigando a possibilidade de utilizar bactérias modificadas, como a L. iners, para atacar diretamente os tumores.

As implicações dessa pesquisa vão além do câncer cervical, podendo influenciar o tratamento de diversos tipos de câncer.

Outras bactérias produtoras de lactato também foram associadas a resultados clínicos ruins em diferentes tipos de câncer. Segundo a pesquisa, isso indicaria que esses microrganismos podem se tornar alvos terapêuticos promissores no futuro.

Embora ainda haja muito trabalho a ser feito, os resultados deste estudo são promissores e podem levar a avanços significativos no tratamento do câncer. Os pesquisadores estão otimistas quanto ao potencial de traduzir essas descobertas em benefícios tangíveis para os pacientes, marcando um momento emocionante na luta contra o câncer.

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Gabriel Andrade

Gabriel Andrade

Jornalista que cobre ciência, economia e tudo mais. Já passou por veículos como Poder360, Carta Capital e Yahoo.

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