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Twitter suspende bots pró-governo saudita que importunavam quem falava da morte de jornalista

Qualquer pessoa que tuitou sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi nas últimas duas semanas recebeu uma reação pesada no Twitter de contas na Arábia Saudita. Mas isso pode diminuir nos próximos dias. O Twitter teria excluído um número não especificado de supostos bots que estavam promovendo propaganda pró-saudita. • Google se retira de conferência […]

Qualquer pessoa que tuitou sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi nas últimas duas semanas recebeu uma reação pesada no Twitter de contas na Arábia Saudita. Mas isso pode diminuir nos próximos dias. O Twitter teria excluído um número não especificado de supostos bots que estavam promovendo propaganda pró-saudita.

• Google se retira de conferência saudita em meio a suposto assassinato do jornalista Jamal Khashoggi
• Apple Watch pode ter transmitido detalhes de morte de jornalista crítico à Arábia Saudita, diz jornal turco

A revelação vem de uma reportagem da NBC News sobre “centenas de contas que tuitaram e retuitaram os mesmos tuítes a favor do governo saudita ao mesmo tempo”. Mas o Twitter não ganha todos os créditos por identificar a rede de robôs. As contas foram encontradas pela primeira vez pelo especialista em TI Josh Russell, cujo trabalho foi compartilhado com a gigante das redes sociais por meio de uma planilha.

E qual foi o indício de que muitas dessas contas pró-governo saudita eram provavelmente bots? Centenas delas estavam postando conteúdo idêntico, usando a hashtag #We_all_trust_Mohammad_Bin_Salman (#Todos_confiamos_em_Mohammad_Bin_Salman), uma referência ao príncipe da coroa saudita. Frequentemente chamado de MBS, o príncipe é suspeito de ter ordenado o assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, que foi até o consulado saudita na Turquia em 2 de outubro, mas nunca saiu de lá. Khashoggi teria sido torturado e assassinado dentro do consulado e então cortado em pedaços e retirado do local em sacos.

A Arábia Saudita negou repetidamente ter alguma coisa a ver com o desaparecimento de Khashoggi, mas as autoridades do país ainda não apresentaram uma explicação para o fato de as imagens das câmeras de segurança terem filma o jornalista entrando no consulado, mas não saindo. Os sauditas alertaram que qualquer que estivesse espalhando “fake news” sobre o desaparecimento de Khashoggi corria o risco de ser condenado a cinco anos de prisão. O governo turco alega ter um áudio do assassinato de Khashoggi, incluindo evidências de que ele estava sendo cortado em pedaços antes de morrer.

De sua parte, o presidente Donald Trump, um co-conspirador não-acusado que violou leis eleitorais federais, disse que haverá consequências para a Arábia Saudita “se” a família real estiver por trás do assassinato. Trump enfim reconheceu nesta quinta-feira (18) que “certamente parece” que o jornalista está morto. Mas Trump também comparou a situação com a da escolha para a Suprema Corte dos EUA de Brett Kavanaugh, que foi, de forma credível, acusado de violência sexual por várias mulheres.

“Aqui vamos nós novamente, com o culpado até que se prove inocente”, disse o presidente norte-americano à Associated Press, nesta semana.

Khashoggi, cidadão saudita e residente permanente dos Estados Unidos, tornou-se um exilado da Arábia Saudita não por suas críticas à família real saudita, mas por criticar o presidente Donald Trump pouco depois de ele ser eleito presidente, em novembro de 2016. Khashoggi havia questionado a relação próxima de Trump com a Rússia e o que isso significaria para as alianças dos EUA no Oriente Médio. A Arábia Saudita proibiu Khashoggi de escrever e aparecer na TV no país, em deferência ao presidente norte-americano.

Presidente norte-americano, Donald Trump fala na Casa Branca em 17 de outubro de 2018. Foto: Getty Images

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, viajou à Arábia Saudita e à Turquia nesta semana, mas foi hesitante em jogar a culpa em alguém ou mesmo em responder a perguntas duras. Durante uma entrevista com repórteres na quinta-feira, Pompeo não quis falar sobre Khashoggi.

Trecho de uma transcrição do Departamento de Estado:

PERGUNTA: Sobre as notícias mais recentes, se você não se importar, Secretário. A ABC está noticiando que uma autoridade turca diz ter te mostrado uma transcrição da fita, da suposta fita, e ter tocado o áudio para você. Você pode responder sobre isso?

SECRETÁRIO POMPEO: É, pedimos que vocês perguntassem sobre o Panamá. Você tem uma pergunta sobre o Panamá?

[…]

[Discussão sobre México, Panamá e China]

SRTA NAUERT: Tudo bem, nós temos que encerrar.

SECRETÁRIO POMPEO: E vou responder a sua pergunta do Khashoggi e só ela. Não vi fita alguma. Não vi nenhuma — ou ouvi nenhuma fita. Não vi nenhuma transcrição. E a emissora que noticiou isso vai ter que retirar a manchete que diz que eu o fiz.

SRTA NAUERT: Obrigado, pessoal.

PERGUNTA: Obrigado.

PERGUNTA: Obrigado por falar conosco.

SECRETÁRIO POMPEO: Você trabalha para a ABC?

PERGUNTA: Não, mas —

SECRETÁRIO POMPEO: Você deveria perguntar para eles. Eles são seus colegas. Você deveria dizer a eles que o Secretário de Estado está dizendo isso no microfone e que eles não deveriam — eles não deveriam fazer isso. É errado fazer isso com a noiva de Khashoggi. Deveríamos ser factuais ao informar coisas sobre isso. Isso é um assunto muito sério, em que estamos trabalhando diligentemente. E, portanto, colocar manchetes que são factualmente falsas não faz bem a ninguém. Você deveria incentivar todos os seus colegas a se comportar assim. É mais construtivo quando a mídia conta a verdade. É muito útil.

PERGUNTA: Obrigado por tomar o tempo para falar conosco.

O genro do presidente norte-americano Jared Kushner estaria pedindo a Trump que apoiasse o príncipe MBS, supostamente dizendo que o príncipe da coroa “pode sobreviver à revolta assim como resistiu a críticas no passado”, segundo o New York Times. Mas essa polêmica internacional não parece que vai desaparecer tão cedo, especialmente à medida que mais e mais empresas se distanciam dos sauditas. Diversos líderes empresariais, incluindo executivos de alto escalão de Uber e Google, se retiraram de uma conferência em Riade que começa em 23 de outubro, chamada de Future Investment Initiative, também conhecida informalmente como “Davos no Deserto”.

Mesmo o secretário do Tesouro, Steve Mcnuchin, foi forçado a se retirar da conferência. Apesar das promessas no início da semana de que ainda compareceria, Mnuchin enfim foi forçado, na quinta-feira, a dizer que não viajaria a Riade neste mês. Curiosamente, Mnuchin não especificou por que não iria mais comparecer à conferência.

“Acabei de me encontrar com @realDonaldTrump e @SecPompeo e decidimos que eu não participarei do encontro Future Investment Initiative, na Arábia Saudita”, tuitou Mnuchin.

Que exemplo de coragem.

[NBC News]

Imagem do topo: AP

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