A Casa Branca provocou o Twitter nesta sexta-feira (29) ao republicar um tuíte do presidente dos EUA, Donald Trump, que incentivava a violência contra manifestantes que protestam contra a brutalidade policial em Mineápolis. O post de Trump havia sido marcado como um “enaltecimento à violência” pela plataforma. O Twitter respondeu colocando o mesmo aviso no tuíte na conta da Casa Branca.
Na madrugada de sexta-feira, Trump tuitou: “Não posso ficar parado e assistir a isso acontecer à grande cidade americana de Mineápolis. Uma total falta de liderança. Ou o fraco prefeito de esquerda radical, Jacob Frey, dá um jeito e coloca a cidade sob controle, ou mandarei a Guarda Nacional para fazer o trabalho corretamente”.
Trump adicionou em um outro tuíte que ele não iria tolerar “bandidos” e que o governador de Minnesota, Tim Walz, tinha sido informado que “o Exército está à disposição” e que em “qualquer dificuldade assumiremos o controle, mas, quando o saque começar, o tiroteio começa. Obrigado!”
Em outras palavras, ele estava afirmando que poderia autorizar o exército dos EUA (presumivelmente a Guarda Nacional) a entrar em Minneapolis e abrir fogo, o que, se acontecesse, constituiria uma atrocidade.
O Twitter recentemente deixou de dar desculpas e passou a agir em relação à publicações de Trump que claramente ferem os termos de serviço da plataforma. A rede incluiu recentemente um link para verificação de fatos em uma publicação em que o presidente dos EUA afirmava que os democratas conspiravam para roubar nas eleições de 2020 por meio de fraudes eleitorais.
Nesta sexta-feira, o tuíte sobre os protestos em Mineápolis foi escondido sob a seguinte mensagem:
“Este tuíte violou as Regras do Twitter pelo enaltecimento à violência. No entanto, o Twitter determinou que pode ser do interesse público que este tuíte continue acessível”.
Os usuários precisam clicar em “Visualizar” para ler o tuíte
This Tweet violates our policies regarding the glorification of violence based on the historical context of the last line, its connection to violence, and the risk it could inspire similar actions today. https://t.co/sl4wupRfNH
— Twitter Comms (@TwitterComms) May 29, 2020
Tradução: Colocamos um aviso de interesse público neste tuíte de @realdonaldtrump. Este tuíte viola nossas políticas em relação ao enaltecimento de violência com base no contexto histórico da última linha, sua conexão com a violência e o risco de inspirar ações similares hoje.
A frase “quando o saque começa, o tiroteio começa” (“when the looting starts, the shooting starts”) foi cunhada em uma entrevista coletiva em dezembro de 1967 pelo chefe da polícia de Miami, Walter Headley, durante a revolta daquele ano por moradores negros.
Aliados de Trump na Casa Branca tentaram provocar o Twitter e republicaram a mensagem.
A provocação foi bastante óbvia, além de deixar claro que a Casa Branca acabou de fazer do apelo de Trump à violência sua política oficial. Como o Twitter já tinha ousado verificar o relato supostamente “pessoal” de Trump, a administração estava desafiando a plataforma a esconder um tuíte oficial do poder executivo. (É discutível neste ponto se há uma distinção, legal ou não).
O Twitter escondeu a publicação mesmo assim.
A expectativa é que a retórica de Trump continue escalando nas próximas horas, dias e semanas – enquanto ele se pinta como uma vítima.
Segundo o Twitter, essa é a primeira vez que eles aplicam essa política a líderes mundiais que violam suas regras, escondendo-o sob um aviso de interesse público.
“Nós colocamos um aviso de interesse público neste tuíte de @realdonaldtrump e um tuíte idêntico da @WhiteHouse. Os tuítes violam nossas políticas contra enaltecimento à violência com base no contexto histórico da última linha, sua conexão com a violência e o risco que poderia inspirar ações semelhantes hoje”, disse um porta-voz do Twitter ao Gizmodo em um comunicado. “Tomamos medidas no interesse de evitar que outros sejam inspirados a cometer atos violentos, mas mantivemos o tuíte porque é importante que o público ainda possa vê-lo, dada a sua relevância para assuntos contínuos de importância pública.”
“Como é padrão em relação a esses avisos, as interações com o tuíte serão limitadas”, acrescentou o porta-voz. “As pessoas poderão reuitar com comentário, mas não poderão curtir, responder ou retuitar”.