O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou estar “gravemente preocupado” com a situação na usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia. No início deste mês, o local foi alvo de confrontos entre russos e ucranianos, incluindo bombardeios.
Desde março, a usina nuclear está sob o controle dos russos. Na época, autoridades ucranianas afirmaram que o exército da Rússia tomou o local em meio a trocas de tiros.
Durante a invasão, um projétil chegou a atingir uma unidade de produção da usina, que estava em manutenção. Além disso, um incêndio atingiu os alojamentos do complexo nuclear. “Se [Zaporizhzhia] explodir, será 10 vezes maior que Chernobyl”, alertou Dmytro Kuleb, ministro das relações exteriores da Ucrânia.
Felizmente, os reatores não foram comprometidos e não houve escape de radiação. Apesar do controle russo, técnicos ucranianos ainda estão trabalhando no local.
Vale lembrar que este não é o primeiro incidente envolvendo usinas nucleares durante a Guerra na Ucrânia. Nas primeiras semanas do conflito, soldados ucranianos tentaram defender Chernobyl, mas a usina também foi capturada pelas tropas russas. Além disso, a movimentação de blindados na região acabou agitando o solo e levantando poeira radioativa, aumentando os níveis de radiação no país.
O líder da ONU pediu que as forças militares da Rússia e da Ucrânia interrompam todas as atividades militares nas proximidades de Zaporizhzhia, além de criar um perímetro de desmilitarização. Ele teme que o conflito possa acabar em um desastre. “Qualquer ataque a uma usina nuclear é uma coisa suicida”, disse Guterres.
Zaporizhzhia pode repetir desastre de Chernobyl?
A usina nuclear de Zaporizhzhia é a maior da Ucrânia e também de toda a Europa, estando a cerca de 500 km de Chernobyl. Ela tem capacidade total de 5,7 gigawatts, o suficiente para abastecer mais de 4 milhões de residências, conforme apontou o site Interesting Engineering.
A construção de Zaporizhzhia iniciou quase 10 anos após o início da construção de Chernobyl. Diferentemente de Chernobyl – que usava reatores soviéticos RBlMKs moderados por grafite –, a planta de Zaporizhzhia utiliza reatores refrigerados a água, conhecidos como modelo VVER, selados em um recipiente de aço pressurizado.
De forma geral, os reatores VVER são mais seguros, além de contar com estruturas de contenção para evitar potenciais vazamentos de radiação. Estes recursos de segurança não estavam presentes na fábrica de Chernobyl, durante o colapso de 1986.
Os reatores de Zaporizhzhia também são protegidos por paredes grossas de metal e concreto armado, com capacidade para resistir a uma queda de aeronave. Mesmo que houvesse um colapso, as medidas de segurança provavelmente manteriam a radiação dentro da estrutura. Isso significa que dificilmente veríamos uma explosão similar à de Chernobyl.
Por mais que o risco de um desastre nuclear seja mínimo, isso não significa necessariamente que ele não exista. O acidente na usina de Fukushima, no Japão, por exemplo, mostrou que existem outras maneiras de ocorrer um acidente nuclear.
Em 2011, após enfrentar um terremoto seguido de tsunami, a usina japonesa ficou sem energia elétrica, fazendo com que as bombas de resfriamento dos reatores parassem de funcionar. Isso acabou causando o derretimento de reatores e o posterior escape de radiação para o meio ambiente.
Durante o bombardeio deste mês na Ucrânia, uma linha de alta tensão foi atingida, o que forçou um dos reatores da usina Zaporizhzhia a parar de operar. O fogo de artilharia russo também danificou uma estação de nitrogênio-oxigênio e um prédio auxiliar da usina nuclear. Segundo a CNN, nenhum vazamento foi detectado.
Esta é a primeira vez na história que ataques militares tem como alvo uma usina nuclear em operação.