Uso intenso de maconha pode levar à esquizofrenia, sugere estudo
Homens jovens com histórico de uso intenso de maconha têm mais chance de desenvolver esquizofrenia. É o que sugere um estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, publicado na semana passada na revista Psychological Medicine.
Essa é a maior investigação epidemiológica sobre a possível relação entre a cannabis e a doença psiquiátrica. O estudo examinou os registros de saúde de 6,9 milhões de pessoas que viveram na Dinamarca entre 1972 e 2021.
Os dados sugerem que até 30% dos diagnósticos de esquizofrenia – cerca de 3 mil no total – em homens de 21 a 30 anos aconteceram em decorrência do consumo desenfreado de maconha. Segundo o estudo, seria possível evitar o transtorno nesses casos.
O estudo se baseia apenas em dados, o que não traz provas definitivas da conexão entre maconha e esquizofrenia. Mas um dado dá substância à pesquisa: o uso e a potência da erva aumentaram significativamente nos últimos anos.
Apesar da Dinamarca proibir a maconha, a pesquisa identificou que o teor de THC – a molécula mais psicoativa da planta – era de 13% em 2006. Dez anos depois, saltou para 30%. Ao mesmo tempo, também cresceram os diagnósticos de esquizofrenia no país europeu.
Alerta aos homens mais jovens
“Descobrimos que a proporção de casos de esquizofrenia atribuíveis ao uso de cannabis, e aqueles que poderiam ter sido evitados, era muito maior em homens do que em mulheres e, em particular, em homens mais jovens nos quais o cérebro ainda está amadurecendo”, disse Carsten Hjorthoj, o principal autor do estudo, à revista Scientific American.
Segundo o pesquisador, o aumento se mostrou verdadeiro ao longo do tempo e em paralelo ao aumento da potência do THC. O mesmo não aconteceu com outras faixas etárias. Ao analisar a média dos homens de 16 a 49 anos, apenas 15% desenvolveu esquizofrenia. Para as mulheres, o índice ficou em 4%.
O estudo, que recebe financiamento do governo dinamarquês, agora passa a olhar mais a fundo para os cérebros masculinos, especialmente de adolescentes. O objetivo é analisar se há mais risco dos homens desenvolverem psicose pela maconha ou se os níveis de exposição dos participantes da pesquisa podem explicar a diferença.
As causas da esquizofrenia ainda não foram totalmente esclarecidas, mas há anos pesquisadores buscam comprovar se o alto uso de maconha pode desencadear a doença. A hipótese tem base em evidências que apontam para a relação causal do consumo da planta com o transtorno.
A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial. No Brasil, pelo menos 1,6 milhão de pessoas convivem com a doença.