Vazamento do Facebook agora revela uso da plataforma para tráfico humano e limpeza étnica
O Facebook vem passando por sua maior crise desde o caso da Cambridge Analytica, quando 50 milhões de usuários tiveram seus dados comprometidos e utilizados politicamente. Quando o episódio veio à tona, a gigante da tecnologia entrou na mira das autoridades americanas e de entidades que lutam pelo respeito a privacidade dos dados de usuários na internet. No entanto, a atual tensão na empresa parece ser ainda maior. A série de reportagens do Wall Street Journal baseada em documentos vazados por uma ex-gerente da área de integridade cívica da empresa revela a cada novo capítulo mais informações que colocam a companhia fundada por Mark Zuckerberg em uma situação bem complicada.
No último final de semana, um consórcio formado por 17 jornais fez revelações de fatos graves sobre como o Facebook é ineficiente e, em alguns casos, até mesmo conivente com o conteúdo enganoso que circula em sua plataforma. As informações divulgadas apontam que a rede social tem sido utilizada para potencializar atividades criminosas, difundir discurso de ódio contra minorias e desinformação, sobretudo onde conteúdos falsos podem ser mais prejudiciais à população.
Uma das revelações deixou claro que o Facebook não sanciona veículos de direita por quebrarem as diretrizes da plataforma. Um exemplo é o Breitbart (Terça Livre americano), portal de extrema-direita famoso por espalhar desinformação e teorias da conspiração como QAnon, que foi incluído entre as notícias de destaque da rede social. Em defesa, executivos da empresa afirmaram que também dão destaque a veículos de extrema-esquerda.
O Wall Street Journal informou que o Facebook descontinuou um programa chamado “Informed Engagement”, que limitava o compartilhamento de notícias antes de lê-las, por temer que o projeto pudesse impactar negativamente veículos de comunicação de direita.
Se em um país como Estados Unidos a moderação de conteúdo extremista não conseguiu evitar que manifestantes fossem incitados a invadir o capitólio, sede do Legislativo do americano, a situação é extremamente grave em países mais vulneráveis em razão da insuficiência de colaboradores da plataforma capazes de se comunicar na língua de alguns países fora da América do Norte e Europa, o que é bem preocupante.
De acordo com os documentos vazados apenas 6% do conteúdo nocivo em árabe é detectado pelos mecanismos de moderação automática do Facebook. Além disso, em um período de um mês, menos de 1% do discurso de ódio no Afeganistão foi detectado pelas ferramentas da empresa.
Em uma reportagem, a CNN revelou que traficantes de pessoas utilizam o Facebook para cooptar mulheres para trabalho doméstico escravo nos Emirados Árabes Unidos. Por conta disso, a Apple ameaçou retirar aplicativos do ecossistema do Facebook, como Instagram, da App Store em 2019. No entanto, os documentos vazados comprovam que ainda existem vulnerabilidades na rede social que dificultam a detecção deste tipo de atividade. Um relatório interno da plataforma confirma que ela é usada para recrutamento, compra e venda de empregadas domésticas, que podem estar sujeitas a violência física e sexual.
Durante sua investigação, a CNN chegou a alguns perfis ativos que mantinham este tipo de atividade, oferecendo trabalhadoras. Ao questionarem sobre as contas na rede social, o Facebook afirmou que removeu os perfis. Por meio do porta-voz Andy Stone a empresa afirmou que há anos luta contra o tráfico humano e que trabalha para evitar que indivíduos envolvidos com esta atividade criminosa estejam em sua plataforma.
Nas últimas eleições indianas, perfis falsos e bots ligados ao partido governista e também a partidos de oposição espalharam desinformação durante o pleito através da rede social. Além disso, o país atravessa uma onda de ataques de grupos radicais a minorias religiosas que aumentaram as tensões em algumas regiões do país. O Facebook também é utilizado por grupos extremistas armados etíopes para espalhar discurso de ódio contra minorias étnicas, recrutar combatentes e convocar para “batalhas”. No Iraque, grupos sunitas e xiitas que utilizam a plataforma para derrubar perfis rivais publicando conteúdo pornográfico ou ilegal.