Ciência

Veneno de sapo pode tratar depressão e ansiedade

Por enquanto, substância foi testada apenas em ratos, mas o uso controlado do veneno do sapo gerou sinais de redução dos sintomas de depressão e ansiedade
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Depois de substâncias alucinógenas de cogumelos demonstrarem efeitos positivos no tratamento da depressão e da ansiedade, pesquisadores do Hospital Monte Sinai, em Nova York (EUA), descobriram que outro composto psicodélico também pode ser benéfico nessas situações: o veneno do sapo Incilius alvarius.

Em um estudo realizado com ratos de laboratório, o uso da substância mostrou sinais de redução dos sintomas de ambas as condições. Os resultados foram publicados na revista Nature.

Entenda o contexto

Conhecido popularmente como sapo do rio Colorado, o Incilius alvarius vive na região do deserto de Sonora, em partes dos Estados Unidos e do México. Sua fama se dá pela substância alucinógena que produz quando se sente em perigo.

Em geral, o sapo do rio Colorado libera um composto por glândulas que ficam na sua pele quando está assustado. Essa substância tem relação com a dimetiltriptamina, conhecida popularmente como DMT, cuja estrutura e efeitos alucinógenos são semelhantes aos da psilocibina, um elemento presente em alguns cogumelos.

Buscando esse efeito, muitas pessoas encontram os sapos do rio Colorado e lambem sua pele diretamente. Outras extraem o veneno, secam a substância e utilizam como matéria para fumo.

Atualmente, sabe-se que a psilocibina pode ter efeitos positivos no tratamento da depressão. Isso porque parece interagir com os receptores de serotonina e redefinir a atividade dos circuitos neurais no cérebro. Contudo, ainda não está claro cientificamente o motivo pelo qual isso acontece. 

O que diz a nova pesquisa de depressão e ansiedade

Para o novo estudo, pesquisadores ajustaram quimicamente o composto derivado do sapo. Com isso, a substância deixou de ter efeitos alucinógenos e pode sinalizar especificamente os receptores de serotonina 5-HT1A.

Embora não sejam os receptores geralmente estudados, os cientistas selecionaram essas estruturas por terem interações conhecidas com o veneno do sapo do rio Colorado. 

Então, os pesquisadores selecionaram ratos com sinais de estresse e depressão e administraram doses da substância a eles. Como resultado, perceberam que os animais beberam mais água com açúcar e passaram mais tempo com os outros ratos.

De acordo com o artigo da pesquisa, esses dois sinais indicam que a depressão e ansiedade foram reduzidas.

Como os seres humanos compartilham receptores de serotonina semelhantes aos dos ratos, pesquisadores afirmam que o composto do sapo pode oferecer promessa terapêutica em pessoas. 

“É nossa esperança que, no futuro, alguém possa usar os resultados de nosso estudo para ajudar a projetar novos antidepressivos para humanos, mas isso certamente está muito distante”, comentou Audrey Warren, uma das autoras do estudo.

No entanto, os pesquisadores alertam para o uso indevido da substância como alucinógeno, que pode piorar sintomas de ansiedade, além de causar vômitos, convulsões e, possivelmente, a morte.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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