Wozniak sobre o filme de Steve Jobs: ‘O jovem Steve não era santo’
O primeiro trailer do filme sobre a vida de Steve Jobs estrelando Ashton Kutcher foi divulgado na sexta-feira. Perguntei a Steve Wozniak – um amigo próximo a Jobs e co-fundador da Apple – sobre ele. Eis o que ele disse:
Sobre a representação de Jobs
Tenho um pouco de medo que o filme mostre um Steve que era um santo que foi ignorado, em vez de uma das pessoas fundamentais que levaram a Apple a fracasso seguido de fracasso (Apple III, LISA, Macintosh) enquanto as receitas vinham do Apple II que Jobs tentava matar. É bom se dar ao luxo de falhar. O mercado de Macintosh foi criado nos três anos após a saída de Jobs, com muito esforço de algumas pessoas que ele desprezava.
Jobs voltou como o santo que agora reconhecemos e foi o responsável pela criação de outros produtos tão bons quanto o Apple II, como a iTunes Store, o iPod, as lojas Apple Store, o iPhone e o iPad. Mas ele era uma pessoa diferente, mais experiente, mais ponderado e mais capaz de administrar a Apple nestes anos.
Sobre ele e os personagens coadjuvantes
Gostei da forma como me mostraram, diferentemente do primeiro vídeo.
Outros personagens como [John] Sculley e [Mike] Markkula ficaram exagerados em formas que tentam retratá-los como desprezíveis. Na verdade, ambos tinham as mesmas idéias de Jobs em relação ao futuro dos computadores.
Em relação ao filme, Woz foi direto: “Eu permito um monte de interpretação artística pelo bem do entretenimento e inspiração, contanto que os significados das cenas sejam precisos. Não posso julgar antes de ver o filme.
A sua reação ao primeiro vídeo e ao script não são um bom sinal, no entanto. Ele acredita que a interação entre ele e seus amigos não estava nem próxima à realidade:
Nem perto… nós nunca tivemos essa interação nem funções… as personalidades estão muito erradas apesar da minha ser mais parecia… não esqueça que meu propósito foi inspirado pelos valores do Homebrew Computer Club [um grupo de entusiastas de computação] junto com ideias dos valores dessas máquinas, e o Steve não estava por perto e não participou do clube, então ele que aprendeu sobre o impacto social para o futuro. A idéia dele era criar uma placa de US$ 20 e vender por US$ 40 para ajudar pessoas no clube a montarem um computador. Steve queria vender peças excedentes, ele via isso como uma forma rápida de conseguir dinheiro com meus designs (essa era a quinta vez que ele fazia isso).
Esta conversa aconteceu muito tempo depois.
Eu nunca falei como um profissional. Nós eramos garotos. Nosso relacionamento era bem diferente da forma como é retratado. Estou envergonhado, mas se o filme for interessante e divertido, tudo bem. Quem ler meu livro iWoz vai ter uma imagem mais clara disso tudo.
O trailer mostra todos os eventos-chave das biografias autorizadas e não-autorizadas de Jobs – como Steve Jobs, de Walter Isaacson, ou Return to the Little Kingdom, de Michael Moritz. Ele mostra muitas coisas pessoais da vida de Jobs – seu tempo em Reed College, passagem pela Índia, seus primeiros casos amorosos, sua primeira e ignorada filha, suas experiências com LSD – e todo o drama corporativo – o surgimento da Apple, a traição de John Sculley, a saída de Jobs para a NeXT e Pixar, e seu retorno triunfante para Cupertino mais de uma década depois.
É claro que um trailer pode fazer um filme ficar bom, mas ao menos sabemos que este vai ter alguns momentos bacanas. A legião de fãs da Apple provavelmente vai ficar feliz quando espera pela outra cinebiografia de Jobs, escrita por Aaron Sorkin, autor de A Rede Social e criador de The West Wing.
Oh, e mais uma coisa: eles mudaram o nome jOBS para apenas Jobs.