As ambições da Samsung em realidade virtual: o Gear VR é só o começo

O Galaxy Note 4 é o primeiro smartphone projetado para funcionar com realidade virtual, e a Samsung tem planos para muitos outros.

O Samsung Galaxy Note 4 deve chegar em breve no Brasil e, além dele, a fabricante coreana prepara algo a mais. Ele é o primeiro smartphone projetado para funcionar com realidade virtual: encaixe-o no Samsung Gear VR, e um mundo novo se abre. Eu disse “o primeiro smartphone” porque descobri algo intrigante durante o evento Oculus Connect: a Samsung tem planos para muito mais.

É isso mesmo: o Gear VR não é apenas um golpe publicitário para vender alguns Notes a mais. A Samsung aposta sério na realidade virtual. Esse dispositivo e o Note 4 são apenas o começo. O chefe de mobile da Oculus, Max Cohen, disse que o Note 4 é apenas a base para uma experiência de realidade virtual móvel que vai melhorar ano a ano, à medida que novos dispositivos da Samsung sejam lançados, e fontes me dizem que a Samsung está desenvolvendo novos smartphones já pensando em adicionar realidade virtual a eles.

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Isso é algo maravilhoso, porque duas experiências de realidade virtual mexeram com a minha cabeça na Oculus Connect. Uma delas foi o protótipo Crescent Bay, criado pela própria Oculus. A outra foi o simples ato de assistir um filme com o Samsung Gear VR.

Gear VR

Para relembrar: o Samsung Gear VR é basicamente uma caixa elegante que permite prender seu Galaxy Note 4 à sua cabeça. Ele tem um par de lentes que estendem e ampliam a tela plana em um campo amplo de visão, dando a ilusão de que você está completamente cercado por uma realidade virtual. Se fosse só isso, ele não seria muito diferente do Google Cardboard, mas o Gear VR tem lentes muito melhores, um rastreador rotacional, e um touchpad para navegar nos apps.

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Ser completamente independente de um PC tem prós e contras. Não há uma câmera para detectar sua posição, então você pode até mexer a sua cabeça, mas não pode se inclinar dentro do mundo virtual. Como o smartphone fica responsável pelas imagens exibidas na tela, tudo funciona em um ritmo mais lento: em 60 Hz, que deixa tudo um pouco menos realista, em vez dos 75 Hz no Oculus DK2. E, claro, a bateria pode acabar e o smartphone pode esquentar.

Por isso, não surpreende que o Gear VR seja inferior em jogos se comparado ao Crescent Bay. Os gráficos eram rudimentares, e eu praticamente precisei me forçar a manter meu corpo parado. Mas quando abri um vídeo 3D, me sentei em uma cadeira confortável e esqueci de tudo. Dez minutos depois, estava pronto para comprar um Gear VR o quanto antes.

360 graus

No momento, há mais de vinte experiências sendo demonstradas no Gear VR, desde adaptações de jogos de Android a um jogo que mistura Legend of Zelda com Minecraft, desenvolvido pela própria Oculus. Mas o que me impressionou foi um vídeo em 360 graus que me transportou para o cume do Monte Haleaka, em Maui e, em seguida, para o meio de um espetáculo do Cirque du Soleil, e, mais surpreendentemente, para uma tenda da Mongólia onde uma família sentava-se pacificamente para comer uma refeição.

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Eu já tinha visto alguns vídeos em 360 graus antes, tanto no Oculus como em outros dispositivos. Geralmente, esses vídeos têm remendos em alguns lugares, áreas em que foi preciso colar duas imagens diferentes que não se encaixam muito bem. Isso cria mudanças de perspectiva bizarras e que não enganam seu cérebro. Mas no Gear VR, era diferente: eu me senti realmente dentro dos lugares.

Depois, falei com os criadores, Felix and Paul Studios, mas eles não detalharam tecnologias ou técnicas; disseram apenas que usaram um sistema customizado de câmeras completamente sem fios, que tem o tamanho e formato de uma cabeça humana. O sistema foi projetado para fazer a experiência ser a mais simples possível para telespectadores. Eles disseram que, no estágio atual, as imagens são capturadas em 6K por olho a 60 fps, e eles usaram 4K por olho para o Gear VR. Felix e Paul não têm planos de vender ou licenciar a tecnologia, no entanto.

Um cinema em seu rosto

Mas, como eu descobri pouco depois em outra demonstração, você não precisa necessariamente de conteúdo em 360 ​​graus para tornar interessante a realidade virtual móvel, porque Oculus e Samsung também transformaram o Gear VR no melhor cinema do mundo. Cada Gear VR será lançado com um aplicativo chamado Oculus Cinema, que simplesmente coloca você dentro de uma sala com uma tela gigante. Soa familiar, não?

Mas como isto é realidade virtual, e não apenas uma tela flutuando na frente dos seus olhos, essa sala de cinema poderia estar na superfície da Lua. Você já jogou Heavy Rain, onde um agente especial usa óculos de realidade virtual que o permitem transformar o escritório sujo dele em um jardim zen ou um paraíso subaquático? Isso virou realidade.

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A sala de cinema na Lua, no Oculus Cinema. Bem, na verdade uma perspectiva 2D dela.

Além disso, a Oculus planeja lançar o código-fonte do Cinema e – talvez – até mesmo deixar as pessoas venderem seus próprios ambientes de cinema na app store. Especialmente se novo proprietário, o Facebook, deixar você assistir a filmes com seus amigos na mesma sala virtual, algo que Cohen insinuou repetidamente, mas não confirmou durante a nossa conversa.

Além disso, Oculus e Samsung já se envolveram com empresas de Hollywood. Eles estão trabalhando com a Fox, Dreamworks e IMAX em salas de cinema e conteúdo para elas. Aliás, a melhor coisa que eu vi foi uma gigantesca sala IMAX virtual, onde eu assisti parte de uma missão da NASA para o Telescópio Espacial Hubble, em 3D nativo, com a luz da tela iluminando as superfícies e cadeiras em minha volta.

Foi melhor do que sentar em uma sala de cinema real, e imediatamente me fez pensar que eu nunca voltaria a um cinema se eu pudesse assistir meus filmes dessa maneira. Quando John Carmack, que projetou o app Oculus Cinema, disse que assistiu toda a trilogia Matrix e uma temporada completa de Max Headroom dessa forma, eu fiquei com um pouco de inveja. Parece ser um app matador para a realidade virtual. E, claro, a Samsung quer um pedaço.

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Protótipos iniciais do Samsung Gear VR

As ambições da Samsung

Mas entendo que a Samsung não está apenas imitando a Oculus aqui. A divisão de pesquisa da empresa, com sede em Dallas, trabalhou por dois anos até chegar ao Gear VR. Quando Samsung e Oculus se uniram para o Gear VR, a coreana já tinha um protótipo funcional. Como a Oculus precisava de telas OLED, e a Samsung precisava da tecnologia e conhecimento em software de rastreamento de cabeça, eles formaram um acordo mutuamente benéfico.

Mas de acordo com uma fonte, futuros smartphones da Samsung terão rastreadores melhores de cabeça já embutidos, e porque a Samsung não tem como objetivo ser um receptáculo para o software da Oculus e do Facebook; ela quer usar a realidade virtual como um catalisador para impulsionar as vendas de smartphones cada vez mais potentes.

Não dá para saber se essa informação realmente procede, mas isso faz bastante sentido. Os smartphones chegaram a um limite de tamanho sem se tornar tablets. A tela do Samsung Galaxy Note 4 é linda com sua resolução 2560 x 1440, mas a densidade de pixels não tem muito mais para onde ir. Os processadores móveis também avançaram muito, e precisam de algo para desafiar seu desempenho. A Samsung ganha seu dinheiro vendendo componentes como telas e processadores, e precisa de uma força para manter as pessoas querendo atualizar e trocar seus dispositivos.

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Aproximando-se da incrível tela do Galaxy Note 4

Mas a realidade virtual pode consumir todo o poder de processamento que você tem – e ainda pedir mais – e deixa muito espaço para as telas melhorarem antes que estejam perfeitamente adequadas para ficarem em uma lupa na frente da sua retina. O Facebook admitiu, quando comprou a Oculus por US$ 2 bilhões, que a realidade virtual pode ser a próxima grande plataforma de computação, tornando-se ideal para a Samsung criar um sistema operacional próprio. A conferência de desenvolvedores da Samsung, que ocorre no mês que vem, tem seis sessões inteiras sobre aplicações práticas de realidade virtual.

Por enquanto, você não pode comprar um Gear VR. Nós nem sequer sabemos quanto ele custa. Além disso, John Carmack e Max Cohen – chefe em mobile da Oculus – me disseram que esta primeira “Innovator Edition” tem limitações que a impedem de ser um produto de massa. Assim como o Google Glass, este é um gostinho de uma tecnologia que ambas as empresas esperam ganhar o mercado em pouco tempo. Mas já pode fazer uma coisa incrível agora mesmo.

Quando perguntei a Cohen o que ele, pessoalmente, mais quer da realidade virtual, ele disse: “Eu quero ser transportado por todo o mundo. Eu quero estar presente em lugares que o dinheiro não pode comprar. Eu quero estar no estúdio com Radiohead enquanto eles gravam um álbum. Quero estar sentado lá e olhar para a minha direita e eu quero ver Thom Yorke experimentando sons.”

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O projeto de realidade virtual “Strangers with Patrick Watson” em duas dimensões

Isso não é exagero. Na verdade, há um exemplo muito parecido no Gear VR: em “Strangers with Patrick Watson“, outro vídeo de 360 ​​graus feito pela Felix and Paul Studios, você pode assistir a um músico experimentando sons e compondo. É apenas um momento comum na vida de uma pessoa, capturado para compartilhar ao mundo. Eu mal posso esperar para ver mais disso.

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