Entendendo o perdão concedido para Chelsea Manning, analista que vazou dados militares dos EUA

Barack Obama irá comutar a sentença restante de Chelsea Manning, a analista de inteligência responsável por um grande vazamento militar.

Em uma de suas últimas decisões como presidente, Barack Obama irá comutar a sentença restante de Chelsea Manning, a analista de inteligência responsável por um grande vazamento militar em 2010, de acordo com uma reportagem do New York Times. Segundo a matéria, Manning deve ser liberada da custódia federal no dia 17 de maio.

• Bradley Manning, que vazou segredos dos EUA para o Wikileaks, é condenado a 35 anos de prisão
• Após polêmicas do WikiLeaks, Equador restringe acesso de Julian Assange à internet

A comutação parece ter ocorrido contra todas as probabilidades. A ex-analista de inteligência do Exército dos EUA tentou cometer suicídio duas vezes no ano passado e também entrou em greve de fome para protestar contra seu tratamento no Quartel Disciplinar dos EUA em Fort Leavenworth, Kansas.

Manning foi uma das grandes responsáveis por colocar o Wikileaks no mapa. O componente mais famoso dos vazamentos foi o vídeo entitulado “Collateral Murder” – ou Assassinato Colateral, em tradução livre – que mostra um ataque aéreo em Bagdá, em 2007, onde uma equipe num helicóptero dos EUA atira em jornalistas inocentes, os matando. O vídeo foi assistido milhões de vezes e é considerado uma importante reviravolta na Guerra do Iraque.

Tratamento na prisão

O tratamento que Manning recebe das forças militares dos EUA tem sido o foco de uma discussão em torno dos vazamentos e do tratamento jurídico do caso. Primeiro ela ficou numa instalação do Corpo de Fuzileiros Navais na Virgínia, de julho de 2010 a abril de 2011, quando sua prisão foi decretada. Manning foi colocada sob o status de “prevenção de lesões“, o equivalente militar para confinamento solitário. Autoridades (e defensores) debateram por meses se o tratamento sob esse status era justificável. Obama defendeu as decisões, dizendo na época que eram “apropriadas” e que “cumpriam os padrões básicos”.

Manning também lutou para receber tratamento para o seu transtorno de identidade de gênero, que inclui uma cirurgia de mudança de sexo – que lhe é garantido por lei mas com a qual as Forças Armadas não têm nenhuma experiência. Agora, aparentemente o Departamento de Defesa dos EUA não terá a difícil responsabilidade de lidar com esse problema.

O caso Manning

Quando foi presa em 2010, Chelsea Manning ainda era conhecida como Bradley Manning. Durante o depoimento ao tribunal militar, Manning confessou e detalhou o roubo de mais de 700 mil arquivos, entre eles 250 mil telegramas diplomáticos das embaixadas americanas, entregando tudo para o Wikileaks. Manning foi condenada pelo tribunal militar em julho de 2013 por violar a Lei de Espionagem, entre outras infrações. Mais tarde, foi sentenciada a 35 anos de prisão.

A sentença de Manning foi particularmente dura para uma condenação por vazamento. O New York Times aponta que foi a punição mais longa imposta contra alguém acusado de vazar informações de inteligência dos EUA.

Defensores de Chelsea Manning brigaram por muito tempo, afirmando que a dura sentença poderia estar ligada ao escândalo envolvendo o contratante da NSA, Edward Snowden, que também divulgou informações militares confidenciais na mesma época.

A maior distinção entre os dois casos foi o nível de classificação dado às informações vazadas. Os documentos de Manning estavam marcados como “secretos”, e não “ultra-secretos”, como foi o caso de Snowden.

Pedidos de clemência e extradição de Julian Assange

Tanto o Wikileaks quanto Snowden pediram para o presidente Obama conceder clemência a Manning. “Sr. Presidente, se você for conceder apenas um ato de clemência ao deixar a Casa Branca, por favor: liberte Chelsea Manning. Você pode salvar a vida dela”, disse Snowden em um tweet.

O Wikileaks deu um passo ainda maior. A organização prometeu que, se Obama garantisse clemência a Chelsea Manning, o fundador e editor-chefe Julian Assange concordaria em ser extraditado para os Estados Unidos. Ele está em autoexílio na embaixada equatoriana de Londres desde 2012, onde evita uma investigação da Suécia por uma acusação de estupro.

O Wikileaks confirmou que Assange irá cumprir sua palavra – embora por alguma razão a palavra “acordo” esteja entre aspas e as palavras de sua advogada sejam completamente vagas. É possível que ele ainda encontre alguma maneira de escapar da extradição.

Assange é, inclusive, o responsável direto pelos vazamentos iniciais de e-mails da campanha de Hillary Clinton, cuja autoria a inteligência americana atribui aos russos. Se cumprir a extradição, Assange receberá um julgamento público, nos EUA, durante o governo Donald Trump.

Imagem do topo: AP.

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