Mapas do iOS 6: ruins, quase perigosos, mas calma que é só o começo
A chegada do iOS 6 trouxe à tona um problema com o qual, cedo ou tarde, usuários de iPhones e, em menor grau, iPads se depararão: o novo app Mapas. Sem os dados do Google, usando tecnologias compradas pela Apple nos últimos anos e vindas de parceiros como TomTom e Yelp, eles ficaram bem ruins. Mas quão ruins?
Se quiser ter uma visão panorâmica (e, vá lá, cômica) da situação, acesso o The Amazing iOS 6 Maps, um Tumblr que reúne as bizarrices e os erros flagrados no novo Mapas do iOS 6. De mapas borrados e em preto e branco, passando por deformações risíveis no modo Flyover e pontos de interesse sem sentido algum, dá para ver que o caminho da Apple para tornar a sua solução de mapas tão boa quanto a da concorrência será longo.
Aqui, no Brasil, desde ontem temos feito alguns testes comparativos e brincado com o novo app para tentar entender quanto o usuário perde com a mudança. De antemão já sabíamos de duas grandes ausências: as informações de transporte público e o recurso de navegação curva-a-curva. São coisas bastante úteis em um app de mapas mas que, no Brasil, estão indisponíveis nesse primeiro momento. O modo Flyover, com imagens 3D e tudo mais, também não funciona por aqui.
Jogo dos infinitos erros
Para além disso, porém, fica claro que os dados do novo Mapas são polvilhados de informações erradas e desatualizadas. Honestamente, fiquei surpreso de ele funcionar aqui, em Paranavaí. Há diversos estabelecimentos marcados e a visão de satélite é boa, a par com a oferta do Google. Mas na hora de encontrar locais, é bom contar com a estabilidade econômica da sua região; restaurantes e sorveterias que mudaram de endereço ou nem existem mais ainda constam no iOS 6. E às vezes são coisas realmente antigas, como uma saudosa sorveteria que fechou tem uns oito anos mas que, para a Apple, continua existindo.
O restaurante acima (que era bem bom, aliás) fechou no começo do ano. Fizeram uma balada no lugar que, claro, não existe para o novo Mapas. E isso é grave, porque quase não existe balada em Paranavaí.
O Leo descolou dois iPhones para comparar as soluções de Google e Apple, e cara… o pessoal de Cupertino vai precisar trabalhar muito para chegar no nível do Google Maps. Sem muito falatório aqui, as imagens falam por elas mesmas (Google à esquerda, Apple à direita; clique nelas para ampliar):
Parece que a foto de satélite de Porto Velho passou por um filtro do Instagram antes de chegar ao Mapas. E alguém consegue explicar por que há uma floresta nas praias da zona sul do Rio de Janeiro nos mapas da Apple?
É só o começo, o app vai melhorar… Mas quando?
Não temos dúvida de que o Mapas powered by Apple melhorará com o tempo. Um dos mecanismos para esse aperfeiçoamento é o feedback dos usuários. E, pode ter certeza: a Apple vai receber muito feedback. A maioria negativo e com um ou outro elogio à mãe de Tim Cook, mas todos muito importantes para aprimorar a oferta de mapas.
O grande problema de mudar uma solução tão importante em um ponto avançado do jogo como o que estamos é que a experiência piora para quem não tem nada a ver com as picuinhas de bastidores entre Apple e Google: o usuário. Desde 2007 ele se acostumou a confiar no Mapas do iPhone; ele pode até saber que os dados vinham do Google, mas ele não se importa. O que interessa para esse cara é o negócio funcionar. Federico Viticci expõe bem esse dilema:
“Como você dirá a essas pessoas que, por causa da estratégia da Apple, eles terão que lidar com uma versão inferior do Mapas?
Como você contará a estudantes que as informações de transporte público não estão mais disponíveis, que eles terão que usar ‘apps da App Store’ à parte — os quais ainda não estão disponíveis?
Podemos justificar o Mapas da Apple em nome de um bem maior?
Particularmente, eu não consigo. Porque embora eu possa relevar e pedir para que meus amigos leiam a seção ‘Empresa’ ali em cima [do mesmo texto, explicando a rixa entre Apple e Google] e tentar fazê-los entender que, sim, é por isso que a Apple teve que romper com o Google, a verdade é que eles não estão nem aí. Eles atualizarão para o iOS 6 porque são curiosos, como todo mundo, e virão me perguntar sobre ‘os mapas que não funcionam mais’.”
Em um ponto mais acima, Viticci manda outra real: as direções, os mapas móveis, já fazem parte das nossas vidas. É o tipo de coisa que, quem compra um smartphone, sabe que usa e confia nisso. Às vezes, inclusive, para situações extremas, emergenciais. Imagine-se perdido em uma cidade ou, pior, como aconteceu com o editor do BuzzFeed, Matt Buchanan: um amigo precisou ir ao hospital e o novo Mapas o mandou para um consultório médico abandonado. Sobre essa relação de confiança cultivada por cinco anos e agora destruída (temporariamente, esperamos), John Herrman tem algo legal a dizer:
“A Apple fomentou essa sensação de segurança por cinco anos e os usuários não hesitaram em se agarrarem a ela — a disponibilidade instantânea da localização via GPS e os mapas ricos e pesquisáveis é um desenvolvimento que muda vidas verdadeiramente, algo que rapidamente nos esquecemos de que era impossível antes. Para remover um app que oferece a sensação de segurança e a segurança de fato apenas para substitui-lo por algo parecido, mas que na prática é bem pior, é como um truque — a Apple sugere a existência de recursos onde eles não existem. Ela dá aos usuários do iOS 6 uma falsa sensação de segurança.”
O novo Mapas tem pontos positivos. O novo desenho dos mapas, todos vetoriais, ficaram mais bonitos e o carregamento é notavelmente mais rápido. Mas isso seria o mesmo que… não sei, o MacBook Air mais bonito já feito que vem com um processador defeituoso. Beira o inútil. As coisas hão de melhorar, repetimos, mas nesse meio tempo não se assuste se vir mais e mais pessoas voltando para o iOS 5.1. Isso, claro, se o Google não lançar seu app de Mapas para o iOS, o que não seria exatamente bom para a Apple do ponto de vista competitivo, mas um tremendo alívio para os usuários.