Veja como a ciência está usando mosquitos mutantes para erradicar doenças

Mosquitos são animais perigosos, já que transmitem algumas das doenças mais ameaçadoras do planeta. E, para erradicar essas doenças, estamos voltando os mosquitos uns contra os outros.

Mosquitos são chatos e perigosos. São chatos por deixarem as picadas vermelhas que não param de coçar, e são perigosos porque estão entre os animais mais mortais do planeta. E nenhuma das nossas estratégias clássicas para combate às ameaças deles parece funcionar. É por isso que vamos fazer os mosquitos se voltarem contra eles mesmos.

Nos últimos anos, cientistas estudaram diversos métodos que envolvem modificação genética ou outra forma de mutação de mosquitos para impedir a propagação de doenças. Isso faz sentido, já que os poderes da ciência humana no século 21 conseguem derrotar qualquer demônio (certo?). Mas também é algo um pouco controverso, porque pessoas costumam não gostar muito de ideias que envolvem a destruição de uma espécie.

Deixando a questão ética de lado, você provavelmente estaria disposto a fazer qualquer coisa para impedir que seus filhos morram de malária ou dengue. Então como podemos fazer para salvar vidas usando esses insetos mutantes? Explicarei em seguida.

Lançando mosquitos bons para matar os mosquitos maus

A mais recente estratégia científica para aniquilar mosquitos que carregam doenças está sendo lançada agora aqui no Brasil, além de Austrália, Vietnã e Indonésia. Dezenas de milhares de mosquitos infectados com Wolbachia, uma bactéria especial que suprime a dengue, serão lançados em comunidades específicas todos os meses pelos próximos quatro meses. A ideia é que esses mosquitos infectados cruzem com mosquitos da dengue, a famosa espécie Aedes aegypti.

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A bactéria Wolbachia age como uma vacina para mosquitos infectados, mas também age como controlador de natalidade. Se um macho infectado fertiliza uma fêmea não-infectada, os ovos não se tornarão larvas. Os cientistas esperam que a bactéria se espalhe e ajude a prevenir a propagação da dengue. Como não infecta humanos, é uma solução muito boa para erradicar a doença sem cometer genocídio de mosquitos.

Usando mosquitos mutantes para cometer genocídio de mosquitos

Outra opção popular de fato envolve cometer um genocídio de mosquitos. Há alguns anos, pesquisadores brasileiros começaram a modificar geneticamente a espécie Aedes aegypti, para quando os machos cruzarem com as fêmeas, os descendentes morrerem jovens. Bem, mais especificamente, as larvas de mosquito morreriam antes de poder morder alguém e se infectar com dengue.

Matar mosquitos dessa forma soa maldoso. Mas a dengue, uma doença potencialmente mortal que ameaça mais de 40% da população mundial, é um problema grave. A abordagem de genocídio também é bem eficaz. Alguns meses após o início do experimento com os mosquitos geneticamente modificados, mais de 84% da população de mosquitos em uma comunidade no Brasil carregava o gene. No entanto, experimentos semelhantes foram interrompidos nos EUA, onde cientistas temem efeitos no ecossistema local – sem contar os humanos.

Atacar o nariz dos mosquitos

Uma solução feliz! No ano passado, uma equipe de cientistas americanos anunciou um método de modificar geneticamente mosquitos para eles não contarem com certas moléculas receptoras que ajudam no olfato. Os mosquitos mutantes, então, não conseguem distinguir o cheiro do corpo humano – o que eles mais gostam – com o de outros animais. Como o odor do corpo humano é o que faz os mosquitos nos procurarem, isso ajuda bastante a diminuir a propagação de doenças.

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“É meio que como um game show onde os mosquitos são soltos em uma caixa e pedimos para escolherem a porta número um, onde está um braço humano, ou a numero dois, onde estão porquinhos-da-índia”, Leslie Vosshal, uma neurobióloga que ajudou na pesquisa, explica à Nature. Por mais que a modificação genética certamente ajude, ela não necessariamente acabaria com as picadas do mosquito. É por isso que cientistas se concentram em usar a descoberta para criar uma nova geração de repelentes de mosquitos.

Cortando as asas dos mosquitos

Prejudicar a mobilidade dos mosquitos é uma medida bem eficiente. Um biólogo molecular dos EUA está aperfeiçoando um método para alterar os genes do mosquito para que fêmeas nasçam sem asas. Como as fêmeas são as que picam, deve ser uma forma eficaz de diminuir a propagação de doenças. Os machos modificados nascem com asas e podem cruzar com fêmeas normais, gerando descendentes que carregam os genes modificados.

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Obviamente, essa abordagem encara algumas das mesmas questões éticas que a proposta do genocídio. Se uma grande geração de fêmeas sem asas nascer, a população de mosquitos seria consideravelmente reduzida, e talvez até completamente eliminada. A erradicação da malária talvez valha o risco. Mais de 207 milhões de pessoas contraíram a doença em 2012, e estima-se que 627.000 delas morreram. É um problema enorme.

Fazer com que a malária se auto-destrua

Por fim, alguns cientistas acham que a melhor abordagem para combater a malária não envolve ter os mosquitos como alvo. Eles querem fazer os mosquitos mirarem na doença. Um microbiólogo da Califórnia, EUA, está trabalhando em uma abordagem que se aproveita do fato dos parasitas da malária serem bem específicos – a malária que atinge os humanos, por exemplo, não afeta camundongos.

Então os pesquisadores estão tentando isolar a característica em ratos que fazem deles resistentes à malária humana e então modificar geneticamente os mosquitos para carregarem essas características. Na teoria, a malária humana se auto-destruiria nesses mosquitos, e eles não seriam mais uma ameaça – em relação à malária, ao menos. Claro, ainda precisamos encontrar uma maneira de fazer esses mosquitos mutantes cruzarem mais do que os normais. Não é mais fácil matar todos de uma vez?

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Esse é um grande problema. Os mosquitos são criaturas incrivelmente resistentes que desempenham um papel enorme no ecossistema. Mesmo modificações genéticas poderiam ter consequências que demoraríamos anos para descobrir. Mas ei, para viver em um mundo livre de malária e dengue, pode ser uma troca justa.

Imagens via Flickr / Getty / AP

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