[Lifehacker] Por que nossa memória é tão ruim (e o que você pode fazer para melhorar isso)
A memória humana é peculiar, complicada e pouco confiável. Mesmo quando pensamos que lembramos de tudo precisamente, são grandes as chances de que tudo tenha se misturado e ficado meio distorcido. Vamos dar uma olhada nos motivos de sua memória ser tão ruim e como você pode mudar essa situação.
A ciência ainda está descobrindo coisas novas de todos os tipos sobre nossos cérebro e memória. O que nós sabemos de fato é que muita gente tem problemas para lembrar coisas e isso acontece de vários jeitos diferentes. Talvez você esteja sempre esquecendo coisas no mercado ou de pegar a roupa na lavanderia no caminho de casa. Pode ser pior: talvez você não consiga se lembrar muito bem de eventos da sua infância, ou suas recordações de um acontecimento da faculdade sejam diferentes das de um amigo. Então, vamos dar uma espiada no que está acontecendo no seu cérebro e então ver se podemos fazer alguma coisa para ajudar.
Por que sua memória é terrível
As memórias de todo mundo são diferentes, mas nenhum de nós tem uma memória perfeita. Na verdade, mesmo que você pense que sua memória é perfeita, ela provavelmente não é. Para entender como tudo isso funciona, precisamos ver várias coisas diferentes, começando por como lembramos de começar as coisas.
Por que você lembra o que você lembra
A verdade é: a memória humana é complicada. Como exemplo, considere como você lembra imagens visuais. Parece direto, você vê alguma coisa e se lembra dela. Mas, como aponta a Scientific American, isso é bem mais complexo:
Lembranças de imagens visuais (pratos de jantar, por exemplo) são guardadas no que chamamos de memória visual. Nossas mentes usam a memória visual para executar até mesmo as computações mais simples: de lembrar a face de alguém que acabamos de conhecer a lembrar que horas eram da última vez que checamos…
Memórias como o que você jantou são guardadas na memória visual de curto prazo — particularmente, um tipo de memória de curto prazo frequentemente chamado de “memória visual de trabalho”. A memória visual de trabalho é onde as imagens visuais são temporariamente guardadas enquanto sua mente trabalha em outras tarefas – como um quadro branco onde as coisas são escritas brevemente e então apagadas.
Então, o que faz com que estas lembranças permaneçam e não sejam apagadas desta lousa? De acordo com um estudo do MIT, pode ser simplesmente o quão significante é uma imagem e se ela pode se conectar a outros conhecimentos. Se você consegue conectar aquela imagem a outra coisa, aumentam as chances de lembrar-se dela mais tarde. Assim como aprender, memorizar também é uma questão de contexto. É por isso que, como mostra o The Atlantic, o reconhecimento de padrões é a chave. Essencialmente, quanto mais conexões uma nova memória tem aos conhecimentos que nós já temos, mais provável é que você se lembre daquela informação no futuro. O processo parece ser basicamente o mesmo com a maioria das memórias.
Enquanto isso, todo o tipo de coisa está acontecendo no seu cérebro. O How Stuff Works explica com mais detalhes:
Especilaistas acreditam que o hipocampo, assim como outra parte do cérebro chamada córtex frontal, é responsável por analisar as várias entradas sensoriais e decidir o que vale a pena lembrar. Se vale, elas podem se tornar parte da sua memória de longo przo… estes muitos pedacinhos de informação são então armazenados em diferentes partes do seu cérebro. Como estes pedaços são identificados e recuperados posteriormente para formar uma memória coesa, entretanto, é algo que permanece sem ser compreendido…
Para codificar corretamente uma lembrança, você deve primeiro estar prestando atenção. Como você não consegue prestar atenção em tudo ao mesmo tempo, muito do que você encontra todo dia é simplesmente filtrado e ignorado, e apenas alguns poucos estímulos passam para sua consciência… O que sabemos é que o quanto de atenção você presta a uma informação pode ser o fator mais importante de quanto dela você lembra.
A grande questão é que ainda estamos aprendendo muita coisa sobre a memória humana. Por que lembramos de alguns detalhes e não de outros ainda é um mistério.
Memórias são falíveis
Não é nenhum segredo que você não pode confiar na sua memória. Todos nós tivemos momentos em que confundimos um detalhe, esquecemos alguma coisa ou até mesmo lembramos de tudo precisamente. O motivo é bem simples: nossa memória não é sempre confiável porque ela se baseia na percepção.
Recordações são alteradas por todo o tipo de coisas. A nostalgia cumpre um papel em como lembramos, e de acordo com a Scientific American é surpreendentemente fácil inculcar lentamente falsas lembranças nas pessoas. Ainda mais chocante, entretanto, é que frequentemente estamos absolutamente errados em relação aos detalhes. Por exemplo, testemunhas oculares são notoriamente pouco confiáveis, mas como a Smithsonian Magazine aponta, nossa memória para grandes eventos é constantemente imprecisa:
A maioria das pessoas tem memórias claras de onde estavam e o que estavam fazendo quando algo histórico ocorreu: o assassinato do Presidente Kennedy, digamos, ou a explosão do ônibus espacial Challenger. (Infelizmente, notícias terrivelmente ruins costumam aparecer de repente com mais frequência que notícias incrivelmente boas.) Mas por mais claras e detalhadas que estas lembranças pareçam, psicólogos descobriram que elas são espantosamente imprecisas.
Nader, um neurocientista da McGill University, em Montreal, diz que suas lembranças do ataque ao World Trade Center pregaram algumas peças nele. Ele se recordava de ver na TV no dia 11 de setembro a cena do primeiro avião atingindo a torre norte do WTC. Ele ficou surpreso quando descobriu que esta sequência foi transmitida pela primeira vez no dia seguinte. Aparentemente, ele não está sozinho nessa: um estudo de 2003 com 569 estudantes descobriu que 73% deles compartilhavam essa percepção incorreta.
Não são apenas eventos traumáticos que fazem com que nossas lembranças vacilem tanto. Um estudo publicado no The Journal of the Association for Psychological Science indica que simplesmente relembrar as memórias faz com que elas aumentem e sejam distorcidas. Isto quer dizer que quando você lembra de alguma coisa está a alterando ativamente. Em parte, isto tem muito a ver com vários vieses de memória que colorem as maneiras que recordamos. Do efeito de positividade, em que tendemos a lembrar as coisas positivas sobre as negativas, ao viés egocêntrico, em que lembramos de nós mesmo como sendo melhores do que somos, estamos constantemente mudando as memórias de uma maneira que beneficia como nós nos vemos. Ou seja, confiar na nossa própria memória não é sempre a melhor ideia.
Por exemplo, um estudo publicado no The Journal of Experimental Psychology mostrou que tendemos a achar que lembraremos de algo importante mais do que lembraremos de verdade. É por isso, essencialmente, que você não anota uma ideia brilhante, já que acha que é tão boa que nunca vai esquecer, e então esquece imediatamente o que era. Isso já aconteceu com todo mundo, e ocorre porque confiamos demais na nossa habilidade de lembrar.
Infelizmente, como a maioria dos nossos vieses, o único jeito de neutralizá-los é saber que eles estão lá. Saber que sua memória não é perfeita significa que você prestará mais atenção a estas imperfeições no futuro.
O que você pode fazer para melhorar sua memória
Melhorar sua memória é possível, mas ao contrário do que a seção de autoajuda da livraria do seu bairro diz, isso não é apenas uma série de arcos mentais pelos quais você tem que passar todos os dias. Na verdade, apesar de haver algumas técnicas que comprovadamente ajudam você a reter informação, melhorar sua memória é mais uma questão de estilo de vida do que qualquer outra coisa.
Pratique exercícios regularmente
Nós sabemos que a atividade física afeta o cérebro de diversas maneiras positivas, e uma delas é impulsionar a memória.
O papel dos exercícios na memória é incrivelmente complicado. Estudos publicados na Behavioral Neuroscience, no The Journal of American Geriatrics Society, e no The Journal of Aging Research, entre outros, sugerem que a atividade física exerce uma função significante na memória. O New York Times resume a pesquisa assim:
O que todas estas novas pesquisas sugerem, diz Teresa Liu-Ambrose, professora associada do Departamento de Pesquisa do Cérebro da University da Colúmbia Britânica que supervisionou os experimentos com mulheres mais velhas, é que para uma saúde cerebral mais robusta é provavelmente recomendável incorporar tanto treinamentos aeróbicos quanto de resistência. Parece que cada tipo de exercíco “foca seletivamente aspectos diferentes da cognição”, diz ela, provavelmente por liberar diferentes proteínas no corpo e no cérebro…
Além de reduzir a perda de memória das pessoas, ela diz, “nós vimos melhorias reais”, um resultado que, se você está indeciso sobre fazer exercícios hoje, vale a pena lembrar.
Essencialmente, o exercício melhora as funções cognitivas, e quando isso acontece, o armazenamento e a recuperação das nossas lembranças aumentam. Basicamente, quanto melhor estiver a forma do seu cérebro, maiores são as chances de você lembrar de alguma coisa.
Tenha uma boa noite de sono
Muitos de nós já ouvimos antes que o sono tem um papel importante na memória, mas a medida que o tempo passa nós estamos aprendendo muito mais sobre como isso funciona. A relação entre sono e memória é um assunto intensamente pesquisado, e está bem claro que o primeiro tem uma função significante na formação da segunda. O sono faz isso de duas formas. Falando a NPR, Robert Stick Gold, da Harvard Medical School, explica da seguinte forma:
Bem, acontece que provavelmente todas as fases do sono estão envolvidas, mas elas estão envolvidas de maneiras diferentes. E então o que nós iremos classicamente fazer é treinar sujeitos em alguma tarefa de memorização, pode ser uma lista de palavras, ou pode ser uma sequência de letras. Então, podem ser diferentes tipos de problemas de memória…
E o que nós vemos de maneira bem consistente é que aqueles que tiveram chance de dormir irão, de fato, se sair muito melhor depois de 12 horas do que aqueles que estavam acordados… então em uma tarefa pode ser a quantidade de sono profundo que você tem no começo da noite, e isso seria o caso de coisas como memória verbal, que você verá que a quantidade de melhora que os sujeitos mostram depois do sono depende de quanto daquele sono de ondas lentas, daquele sono profundo eles tiveram, enquanto em outras tarefas isso pode estar relacionado com a quantidade de sono REM que eles tiveram.
Basicamente, alguns estágios do sono são bons em ajudar a formar tipos diferentes de memórias. Então, memórias declarativas (coisas como fatos e conhecimento) são melhorados pelo sono de ondas lentas (sono profundo), enquanto memórias implícitas (lembranças de longo prazo que não requerem pensamento consciente, como andar de bicicleta ou amarrar um sapato) são melhoradas pelo sono REM. Em resumo, o que se pensa é que quanto melhor é o seu sono, melhor é a sua memória.
O New York Times resume a importância do sono para a memória de forma bem direta:
Alguns dos efeitos mais insidiosos de dormir pouco envolvem processos mentais como aprendizado, memória, discernimento e resolução de problemas. Durante o sono, novos caminhos da memória e do aprendizado são codificados pelo cérebro, e o sono adequado é necessário para que estes caminhos funcionem de maneira otimizada. As pessoas que estão bem descansadas têm melhores condições de aprender uma tarefa e estão mais aptas a lembrar o que aprenderam. O declínio cognitivo que frequentemente acompanha o envelhecimento pode, em parte, ser resultado de sono cronicamente ruim.
Uma boa noite de sono realmente pode melhorar sua memória a longo prazo. A boa notícia é que reiniciar seu calendário de sono não é algo muito difícil de se fazer. Se você persistir nisso, sua memória será fortalecida.
Tente estas técnicas de memorização
No fim das contas, sua memória não é tão ruim quanto você está pensando agora. Ela só precisa de alguma manutenção regular e um pouco de treinamento para ficar em forma. Você não pode melhorar sua memória magicamente apenas estudando. Se você é do tipo que esquece a chave sempre, provavelmente será sempre assim. Dito isso, você pode empregar certas técnicas para ajudá-lo a reter informações e, o que é talvez mais importante, a melhorar sua percepção inicial. Nós falamos muito sobre isso no passado, então aqui estão alguns lugares pode onde começar:
- Treine seu cérebro como um campeão de memória: Nossa amiga Melanie Pinola, que disputou o USA Memory Championship, compartilha suas técnicas, incluindo diversos sistemas de memorização.
- Melhore sua memória com a técnica chunking: A técnica chunking usa o reconhecimento de padrões, do qual falamos na primeira seção, para ajudar você a lembrar coisas. Nos termos mais simples possíveis, é como lembrar um número de telefone usando as letras do teclado em vez de apenas os números.
- Combine informações com imagens bizarras: Se você precisa lembrar de um certo número de detalhes, é frequentemente mais fácil para nós fazer isso quando combinamos aquela informação com alguma coisa maluca. Então, se você precisa lembrar de comprar leite e bananas no mercado, imagine uma banana gigante com um machado correndo atrás de uma vaca prestes a explodir de tanto leite.
- Use um sistema mnemônico de fixação: Este é um pouco complicado, mas um sistema de fixação essencialmente lista itens que rimam para ficar mais fácil de lembrar. Uma vez que um item esteja fixado na lista, você pode normalmente lembrar daquela informação mais tarde.
- Melhore sua capacidade de observação e percepção: Você só vai se lembrar o que você nota. Portanto, se você quer melhorar suas habilidades de memorização, uma coisa que você precisa fazer é prestar mais atenção ao que está acontecendo. Veja o mundo com mais calma e mais de perto, forme conexões entre o que está acontecendo e o que você sabe. Lembre-se, de acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Neuroscience, quanto mais valorizamos uma lembrança, mais provavelmente ela permanecerá. Quanto mais você vê, mais precisa sua memória será.
- Tire um cochilo: Nós já mencionamos que dormir tem um impacto direto na sua memória, mas um cochilo rápido também ajuda. Se você tem como tirar um durante o dia, faça isso. Uma boa dormida é uma ferramenta eficiente para melhorar a memória e o aprendizado. Se você não tem com tirar um cochilo, a meditação já mostrou que funciona tão bem quanto.
A memória é esquisita e funciona de maneiras muito estranhas. Não é confiável, mas nós ainda dependemos dela. É difícil melhorá-la, mas ela ainda é maleável e você pode forçar lembranças no seu cérebro. A ciência ainda está tentando entender exatamente o que funciona melhor, mas por enquanto parece que algumas coisas simples, como exercícios e uma boa noite de descanso já ajudam bastante.
Fotos: Official U.S. Navy Imagery, jon_a_ross, Charles Smith, Joi Ito, e Quinn Dombrowski