Anúncios russos alcançaram cerca de 10 milhões de americanos, diz o Facebook
O Facebook entregou mais de três mil anúncios ao Congresso dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (2), que, segundo a empresa, foram comprados por uma “fazenda de trolls” já extinta com laços conhecidos com o Kremlin. Em uma publicação de blog, o Facebook disse que os anúncios alcançaram cerca de dez milhões de americanos e que pode haver mais anúncios políticos financiados pelos russos que ainda não foram descobertos.
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Embora os anúncios tenham alcançado dez milhões de pessoas, eles foram relativamente baratos. O Facebook diz que a fazenda de trolls gastou cerca de US$ 100 mil no total, com cerca de metade de suas compras de anúncio custando menos do que US$ 3. Alguns números preliminares oferecidos pela empresa mostram que mais de US$ 1.000 foram gastos em 30 dos anúncios e que menos de US$ 3 foram gastos em cerca de 1.500. Aproximadamente 44% dos anúncios foram vistos antes da eleição presidencial norte-americana de 2016.
Um quarto dos anúncios, algo que o Gizmodo estima ser cerca de 750 de anúncios, não foi visto por ninguém, disse o Facebook. É possível que os anúncios nos quais foram gastos apenas alguns dólares eram parte de uma estratégia de sondar tipos específicos de eleitores americanos. Mas isso é simplesmente um palpite, já que o Facebook ainda não revelou nada sobre os tipos de eleitores alvos dos anúncios.
O que descobrimos até agora é que o Facebook ligou essas aquisições a cerca de 450 contas, mais ou menos, que, segundo a empresa, eram controladas por uma organização hoje extinta conhecida como Internet Research Agency (IRA). A IRA tem laços conhecidos com o Kremlin, de acordo com investigações conduzidas pelo BuzzFeed e outras fontes russas independentes. O IRA supostamente desapareceu aproximadamente dois meses depois da eleição presidencial.
Das 450 contas de Facebook, 22 tinham contas correspondentes no Twitter, segundo o próprio microblog.
Quanto ao conteúdo dos anúncios, não está inteiramente claro. De acordo com o Facebook: “Maioria dos anúncios parecia focar em mensagens sociais e políticas para causar discórdia em todo o espectro ideológico, tocando em tópicos desde questões LGBT a questões raciais, passando por imigração e porte de armas”. Segundo o New York Times, os anúncios iam de uma página de Facebook de defensores do porte de armas a “uma página arco-íris” para ativistas de direitos dos homossexuais. Uma outra era simplesmente dedicada a memes sobre filhotes de cães.
Outras pareciam focar em questões raciais, tanto promovendo quanto atacando os ativistas do movimento Black Lives Matter — o objetivo aparentemente sendo colocar medo em comunidades brancas. Um desses anúncios, segundo o Washington Post, retratava uma mulher negra disparando um rifle.
Pelo menos uma das páginas sob as quais os anúncios foram comprados supostamente se disfarçou de um grupo muçulmano americano que de fato existe. Vários dos anúncios afirmavam que a então candidata Hillary Clinton e o senador John McCain, do Arizona, eram diretamente responsáveis por criar a organização terrorista Estado Islâmico. Várias outras páginas promoviam apoio à Hillary Clinton entre mulheres muçulmanas.
Facebook, Twitter e Google foram criticados nas últimas duas semanas por legisladores Democratas envolvidos na investigação governamental sobre a interferência russa na eleição de 2016. Cada uma dessas empresas de tecnologia foram chamadas para comparecer diante do Congresso para testemunhar.
No fim da semana passada, o Twitter foi fortemente criticado pelo senador Mark Warner depois de um briefing que o senador achou “profundamente decepcionante” e “inadequado em quase todos os níveis”. Warner acusou o Twitter de contar demais com a investigação do Facebook, checando apenas links para as contas já oferecidas pelo Facebook sem mergulhar mais fundo para descobrir qual o papel, se houve algum, de sua própria rede nos esforços de propaganda do Kremlin.
Em 2011, o Facebook buscou se isentar de leis eleitorais que exigissem avisos sobre anúncios políticos. A empresa argumentou que havia uma pequena diferença entre um anúncio de Facebook e um adesivo de carro e que, devido a seu tamanho, não seria factível analisar cada anúncio antes que ele fosse publicado.
O CEO Mark Zuckerberg, que foi rápido em descartar preocupações sobre como sua plataforma poderia ter sido usada por agentes estrangeiros para influenciar a eleição, mudou seu tom desde então: “Depois da eleição, fiz um comentário de que achava que a ideia de a desinformação no Facebook ter mudado o resultado da eleição era maluquice”, afirmou, em publicação na semana passado. “Chamar isso de maluquice foi desdenhoso, e me arrependo disso.”
Imagem do topo: Getty