Titanossauro africano raro recém-descoberto mostra semelhança com saurópodes de outros lugares
Durante o período Cretáceo, cerca de 70 a 100 milhões de anos atrás, saurópodes de pescoço comprido dominavam a Terra. Mas especificamente na África, não tanto. A descoberta de uma espécie previamente desconhecida de titanossauro na Tanzânia expande o que sabemos sobre dinossauros nesse continente, ao mesmo tempo em que revela o grau surpreendente de semelhança que essas criaturas tinham com dinossauros parentes que viveram em outras partes do mundo.
• Recém nomeado Titanossauro foi o maior animal terrestre que o nosso planeta já viu
• Predador assustador do oceano muda nossa visão sobre a pior extinção em massa na história
Apresentamos o Shingopana songwensis, um nome que significa “pescoço grande” em swahili. Vértebras do pescoço, costelas, úmero, mandíbula inferior e outros ossos preservados do recém-descrito dinossauro foram escavados na região de Songwe, no sudoeste da Tanzânia. Uma equipe liderada por Eric Gorscak, do Field Museum de História Natural de Chicago, concluiu a sua análise dos fósseis, cujos detalhes aparecem agora no Journal of Vertebrate Paleontology.
Aqui está o que sabemos sobre esse novo titanossauro: ele tinha cerca de 1,5 metro de altura. Pesava algo entre quatro e cinco toneladas, o que, para um titanossauro, o coloca entre os menores. Por comparação, o titanossaurídeo contemporâneo Rukwatitan, descoberto em 2014, na mesma formação rochosa, pesava cerca de oito a dez toneladas.
Escavação de Shingopana songwensis mostrando costelas e outros ossos sendo preparados para serem engessados (Imagem: Nancy Stevens)
Além de seu tamanho, o Shingopana era diferente de outros titanossauros africanos em virtude de uma protrusão bulbosa única sobre a parte superior de sua vértebra cervical. Ele também tem alguns “suportes” em sua coluna que não são vistos em outros titanossauros.
Mas a coisa mais interessante sobre o Shingopana não é o seu tamanho ou seu pescoço único. O que torna essa descoberta tão especial é a raridade do achado e como essa espécie particular pode ser conectada a saurópodes que viveram em outros lugares durante o Cretáceo.
Ossos de titanossaurídeos foram encontrados ao redor do mundo, a grande maioria na América do Sul (incluindo o recém-nomeado Patagotitan mayorum – o maior animal que já pisou em terra). Bem mais de 30 titanosaurídeos foram descobertos na América do Sul, em comparação com apenas seis na África. Estranhamente, o Shingopana parece ter tido mais em comum com titanossauros que vivem na América do Sul do que com aqueles que vivem na África.
Então você quer ser um caçador de dinossauros? Foto tirada na Tanzânia sudoeste, onde o novo dinossauro foi escavado (Imagem: Eric Roberts)
“De acordo tanto com morfologia comparativa [comparações físicas] quanto com nossas análises filogenéticas que reconstroem a árvore genealógica dos titanossauros, o Shingopana está mais estreitamente relacionado com um pequeno grupo de titanossauros da América do Sul do Cretáceo Superior do que com qualquer outro titanossauro conhecido da África, incluindo o Rukwatitan, da mesma unidade rochosa”, disse Gorscak ao Gizmodo . “Em outras palavras, o Shingopana tinha irmãos na América do Sul e só primos distantes na África.”
Uma rápida aula de geografia explica como isso aconteceu.
Crédito: Caltech
Durante o Cretáceo, Madagascar e Antártida se descolaram da África, indo para leste e sul, respectivamente. Essa separação foi logo seguida pelo desacoplamento da América do Sul. Por um tempo, a África do Norte esteve ligada à América do Sul por uma ponte de terra, mas esses continentes foram finalmente e irrevogavelmente separados cerca de 95 a 105 milhões de anos atrás. Populações saurópodes capturadas nesse divórcio geológico ficaram fisicamente separadas, gerando novas trajetórias evolutivas. O terreno e clima dessas massas de terra agora separadas ditou onde os dinossauros viveriam e como eles fariam a transição para novas, mas ainda relacionadas, espécies.
“[A descoberta] do Shingopana indica que os titanossauros africanos, e por conseguinte os animais terrestres da África do cretáceo, eram provavelmente mais diversos do que achávamos anteriormente devido ao número comparativamente menor de fósseis da África no Cretáceo com massas de terra ao redor,” disse Gorscak. “Além disso, dada a íntima relação com titanossauros sul-americanos, o Shingopana indica que os dois continentes mantiveram algumas afinidades de fauna [isto é, eles compartilharam muitos tipos dos mesmos animais] até as duas massas de terra finalmente se separarem uma da outra cerca de 100 milhões de anos atrás.”
Como uma nota final interessante, os ossos de Shingopana mostraram sinais de danos estranhos que foram infligidos logo após o animal morrer. Uma investigação feita pelo coautor do estudo Eric Roberts, da James Cook University, na Austrália, revelou a fonte: insetos perfuradores de ossos. Como Roberts destacou em um comunicado, a “presença de perfurações de ossos proporciona uma oportunidade forense de estudar o esqueleto e reconstruir o momento da morte e seu enterro, além de oferecer rara evidência de insetos antigos e teias alimentares complexas durante a idade dos dinossauros”. É realmente incrível o que os paleontólogos são capazes de descobrir hoje em dia.
[Journal of Vertebrate Paleontology]
Imagem do topo: Mark Witton