Vírus zika pode estar associado a casos de paralisia em centenas de adultos no Brasil
A agência americana CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) está pedindo às mulheres grávidas que evitem viajar para 22 países com surtos do vírus zika. Ele pode estar causando microcefalia em recém-nascidos, e também foi associado a outra doença debilitante.
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O vírus zika se espalhou muito rápido ao longo dos últimos meses, e está associado a um aumento dramático na microcefalia, uma doença rara em que bebês nascem com crânios anormalmente pequenos. O Brasil está no meio de uma epidemia sem precedentes: mais de 3.500 bebês nasceram com microcefalia desde outubro.
Em resposta, as autoridades de saúde em vários países pediram às mulheres para que adiem voluntariamente seus planos de gravidez. A Colômbia recomenda deixar a gravidez para o final do ano; enquanto isso, El Salvador sugere que as mulheres no país não engravidem até 2018.
A síndrome de Guillain-Barré
Além disso, o Brasil diagnosticou centenas de casos da rara síndrome de Guillain-Barré. Ela faz com que o sistema imunológico do corpo ataque as células nervosas, provocando fraqueza muscular e, por vezes, paralisia.
Segundo o New York Times, pacientes no Brasil com a síndrome não conseguem sentir texturas, calor e dor nos membros, apenas um formigamento em partes do corpo. Em casos graves, o Guillain-Barré pode causar paralisia quase total – deixando a pessoa consciente, mas incapaz de falar ou se mover, como se estivesse presa dentro do próprio corpo – além de parada cardíaca e coma.
Do NYT:
Pouco depois de um mosquito infectar Patrícia Brito com o vírus zika, ela sabia que algo estava terrivelmente errado. Ela não conseguia mover as pernas. A paralisia logo se espalhou para os braços, o rosto e o resto do seu corpo, a tal ponto que os médicos a colocaram em uma unidade de terapia intensiva por 40 dias.
“Foi mais aterrorizante do que qualquer filme de terror”, disse Brito, 20, que trabalha como caixa em uma padaria em Delmiro Gouveia, cidade no nordeste do Brasil. Meses após receber alta do hospital, Brito ainda faz fisioterapia para evitar o uso de uma cadeira de rodas.
Pacientes com síndrome de Guillain-Barré são muitas vezes tratados através da remoção de sangue do corpo: ele é separado e os glóbulos vermelhos e brancos são reinjetados, mas o plasma é descartado. Cientistas acreditam que isso remove os anticorpos que atacam os nervos do paciente.
Outros países na América Latina afetados pelo zika também sofreram um aumento nos casos de Guillain-Barré: por exemplo, El Salvador normalmente tem 14 casos por mês, mas registrou 46 casos em dezembro – dois deles fatais.
Além disso, um estudo recente da Universidade Federal de Pernambuco mostra que alguns pacientes com a síndrome de Guillain-Barré foram infectados anteriormente com zika. No entanto, é necessário investigar isso mais a fundo: por isso, o CDC está trabalhando com o Brasil para determinar se existe uma ligação entre o zika e o Guillain-Barré.
Zika e microcefalia
Foto por Felipe Dana/Associated Press
O vírus zika foi descoberto pela primeira vez em Uganda em 1947; mas atualmente não existe nenhuma vacina contra ele, nem quaisquer tratamentos antivirais. E segundo o New England Journal of Medicine, mesmo que uma vacina estivesse disponível, a natureza esporádica e imprevisível de epidemias faz com que a vacinação preventiva seja “proibitivamente cara”.
Cerca de 80% das pessoas que contraem o vírus zika não apresentam sintomas. Quando aparecem, os efeitos são relativamente leves e de curta duração. Mortes são excepcionalmente raras. Os sintomas típicos incluem uma febre ligeira e erupção cutânea.
Nenhuma ligação definitiva foi feita entre o zika e a microcefalia em bebês – ela pode ser causada por uma série de fatores, incluindo infecções na mãe, anomalias genéticas e exposição a toxinas. Mas o CDC encontrou o vírus zika na placenta de duas mulheres que sofreram aborto, e nos cérebros de dois recém-nascidos que morreram de complicações decorrentes de microcefalia.
No entanto, alguns bebês com microcefalia não tinham zika durante a análise; e apenas uma pequena fração de mulheres grávidas com sintomas do zika deu à luz a bebês com microcefalia. Além disso, o Brasil está enfrentando uma epidemia de dois vírus relacionados – dengue e chikungunya – por isso é difícil para os epidemiologistas isolarem fatores.
Epidemia
Distribuição geográfica do vírus zika em janeiro de 2016/CDC
O CDC recomenda que “todas as mulheres grávidas considerem adiar viagens a áreas onde ocorre a transmissão do vírus zika”. O alerta de viagem (nível 2) começou com os seguintes locais:
Brasil, Colômbia, El Salvador, Guiana, Guiana Francesa, Guatemala, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, São Martinho, Suriname, Venezuela e Porto Rico
O CDC acrescentou mais seis países à lista: Barbados, Bolívia, Cabo Verde, Equador, Guadalupe e Samoa.
Todos estes são os países tropicais em que o Aedes aegypti – mosquito responsável pela transmissão do vírus – é capaz de sobreviver durante todo o ano. O vírus zika não pode ser transmitido de pessoa para pessoa.
Uma dúzia de casos de zika foram confirmados nos EUA, incluindo um bebê com microcefalia no Havaí; em todos os casos, estas infecções ocorreram de picadas de mosquitos durante a viagem.
O CDC recomenda vestir camisas de mangas compridas e calças compridas, usar repelentes de insetos, além de roupas e equipamentos tratados com permetrina. O New England Journal of Medicine também sugere eliminar locais de água parada onde o mosquito Aedes aegypti pode se reproduzir, além de usar telas antimosquito e ar-condicionado, mas reconhece que isto é um “luxo muitas vezes indisponível para os moradores pobres de localidades urbanas que tais epidemias atingem mais forte”.
Pesquisadores ainda não sabem ao certo como o vírus zika chegou ao Brasil. Alguns dizem que ele poderia ter desembarcado durante a Copa do Mundo de 2014, quando o país recebeu jogadores, fãs e outras pessoas de todo o mundo.
[CDC – New York Times – Washington Post]
Foto por James Gathany/PHIL/CDC. Colaborou: Felipe Ventura.