9 em cada 10 pais não leem termos de jogos e apps usados pelos filhos

Questionário foi respondido por 565 pais e tutores no Brasil durante a pandemia
Assistente de voz pode prejudicar desenvolvimento das crianças, diz estudo
Imagem: Kelly Sikkema/Unsplash/Reprodução

Texto publicado originalmente pela Agência Bori

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Mais de 75% dos pais e tutores de crianças com até 12 anos relatam aumento do uso de jogos e aplicativos digitais e da visualização de canais infantis durante a pandemia. Porém, apenas 10% leem os termos de consentimento de mídias e dispositivos utilizados pelos menores. Os apontamentos são de pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em artigo publicado na revista Cadernos EBAPE.BR na segunda (31).

Os pesquisadores aplicaram questionário online com 24 perguntas fechadas a 565 pais e tutores nos meses de setembro e outubro de 2020. 107 desses respondentes também preencheram uma questão discursiva opcional, com depoimentos, analisados de forma qualitativa.

Os autores observam que os pais atribuem a si mesmos a responsabilidade do uso dos dispositivos e mídias digitais pelas crianças. Apenas uma respondente menciona a ausência de leis para regular a publicidade em plataformas e jogos voltados ao público infantil. Mais da metade (56%) das crianças da amostra têm seu próprio celular, e alguns pais e tutores relatam controlar o tempo de uso de dispositivos pelas crianças como medida principal para restringir a exposição aos conteúdos digitais. Mas esse esforço individual não evita a disponibilização de dados do público infantil para as plataformas, aponta o artigo.

O pesquisador da FGV EAESP Fernando Vianna, um dos autores do estudo, destaca que a discussão sobre a relação entre usuários e plataformas ainda é incipiente no Brasil. São necessárias, segundo ele,  mais pesquisas com observações de campo em escolas primárias para entender o comportamento das crianças diante das tecnologias. O segundo passo, explica Vianna, é “compreender como as próprias escolas estão se relacionando tanto com as crianças quanto com as organizações proprietárias de plataformas, especialmente em um cenário de aparente tecnocracia, em que tudo o que é plataformizado acaba sendo tomado como garantia de bom e moderno”.

O autor aponta, ainda, a importância de analisar lacunas na efetividade de legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para a segurança dos dados de usuários. Isso se aplica à própria tecnologia do Estado para o tratamento de dados como os que passam por aplicativos de benefícios sociais ou de atendimento de saúde. “Há uma opacidade muito grande das plataformas. Ninguém fora delas consegue compreender, exatamente, seu funcionamento. E essa situação precisa ser analisada, já que elas se tornam sistemas sem controle externo efetivo, mas com total acesso aos dados dos seus usuários”, completa Vianna.

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