Os atores de Hollywood entraram em greve pela primeira vez em 43 anos, paralisando diversas produções do cinema e televisão norte-americanos. A greve teve início depois que as negociações do sindicato dos atores Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) com estúdios, sobre melhores condições de trabalho e remunerações mais justas, terminaram sem nenhum acordo.
Um dos principais pontos de preocupação da categoria diz respeito ao uso de inteligência artificial (IA) pela indústria. Bem como no mundo da tecnologia especialistas advogam por uma regulamentação no desenvolvimento e uso de plataformas de IA generativa, os atores demandam regras claras para sua utilização.
Um episódio da última temporada da série Black Mirror, “Joan é péssima”, retrata um cenário distópico em que uma estrela de Hollywood (Salma Hayek) briga com uma produtora que usou uma versão de IA dela sem seu consentimento. Mas esses temores entre os artistas são reais, tendo em vista o rápido desenvolvimento dessa tecnologia.
Nova temporada de “Black Mirror” chegou em junho à Netflix – Imagem: Divulgação/Netflix
O sindicato alertou que “a inteligência artificial representa uma ameaça existencial para as profissões criativas” e disse que pretende aprofundar as discussões sobre o assunto. O Writers Guild of America (WGA), que representa os roteiristas e escritores de Hollywood, também participa da paralisação.
De um lado, atores e roteiristas reivindicam melhor remuneração e a regulamentação do uso de tecnologias de inteligência artificial. Do outro, os grandes grupos de mídia acumulam prejuízos bilionários, e buscam usar cada vez mais soluções de IA para reduzir os custos.
A indústria de games, os podcasts e as redes sociais também têm forte relação com isso. Em episódio do podcast Gadget Lab, da revista Wired, os apresentadores explicam como essas áreas são afetadas pela greve. Uma reportagem do The Wall Street Journal também abordou o assunto. Vamos às razões.
TikTok e influenciadores ganham espaço
Os estúdios de Hollywood estão buscando maneiras de promover lançamentos de grande orçamento – normalmente, atrizes e atores têm papel importante na divulgação. As estrelas de Hollywood ajudam a vender as produções participando das luxuosas estreias no tapete vermelho, publicando conteúdo nas redes sociais e dando entrevistas em programas de TV, por exemplo.
Os artistas que participam da greve deixaram de fazer isso. Na estreia de Oppenheimer em Londres, o elenco saiu do evento logo após o sindicato votar pela greve. Com a paralisação, as produtoras precisam preencher essa lacuna de publicidade e encontrar formas de estabelecer conexões emocionais com o público, o que é muito mais fácil com os artistas.
Para isso, os estúdios estão apostando na contratação de influenciadores digitais para participar de eventos e criar conteúdo sobre os lançamentos. Vários influencers estão aceitando trabalhos assim, já que as produtoras pagam uma boa remuneração em troca e esse é o ganha-pão dos criadores de conteúdo.
Outros se solidarizaram com a greve e preferiram não se envolver. Mas o TikTok e o Instagram estão desempenhando um papel importante na divulgação dos lançamentos de Hollywood.
Um exemplo é “Mansão Mal-Assombrada”, novo filme da Disney que estreia esta semana nos cinemas brasileiros. Andra Gogan, cantora, dançarina e criadora de conteúdo que conta com quase 11 milhões de seguidores no TikTok, pediu desculpas no Instagram esta semana depois de ser criticada por aparecer na estreia do longa.
Com a greve sem data para terminar, pode ser que as celebridades de Hollywood apostem mais em podcasts. Eles não podem promover os filmes e séries em que estão envolvidos, mas podem tirar proveito dos podcasts durante a paralisação.
Diversas estrelas de Hollywood já têm seu próprio podcast. Os programas apresentados por celebridades são comuns e fazem sucesso há anos. Um exemplo é o podcast de entrevistas WTF, do comediante e escritor Marc Maron, que faz parte do sindicato dos atores.
A indústria dos games também pode sofrer com os efeitos da greve. Muitos dubladores fazem parte do sindicato dos atores, e esses profissionais cumprem papel importante nos jogos modernos. Os pontos que levaram às greves do WGA e do SAG-AFTRA são ligados ao uso de IA e problemas de remuneração, questões também relacionadas à indústria de jogos.
Há anos, as produtoras de jogos já fazem uso da tecnologia para gerar os personagens que vemos na tela. Nos jogos que são guiados por um enredo, é comum usar dubladores reais para gravar as vozes. Com a paralisação, a longo prazo, é possível que as grandes produtoras de games recorram à tecnologia para replicar as vozes de atores de vivem personagens relevantes nos telões.
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