A saliva deste verme pode decompor plástico, revela novo estudo
Em 2017, uma cientista espanhola especialista em abelhas descobriu que a saliva dos vermes da cera consegue decompor sacolas plásticas em poucas horas. Agora, um novo estudo publicado na revista Nature na última terça-feira (4), identificou duas das 200 proteínas capazes de desintegrar o plástico na saliva desses insetos.
Segundo os autores, do Centro de Investigações Biológicas Margarita Salas, de Madri, essa descoberta indica que a saliva dos vermes da cera pode ser um depositário de enzimas degradantes – um passo importante para descontaminar ambientes poluídos.
O estudo relaciona as enzimas que reduzem o plástico ao habitat das larvas. Como os vermes da cera vivem e crescem nos favos de mel, esse pode ser o motivo pelo qual evoluíram suas enzimas da saliva.
Outra possibilidade é que as enzimas decompõem produtos químicos tóxicos produzidos pelas plantas como defesa, e que são parecidos com alguns aditivos dos plásticos.
A descoberta é importante porque comprova as investigações que já existem sobre como os vermes poderiam “quebrar” o polietileno em poucas horas à temperatura ambiente.
Isso pode representar uma forma econômica de reduzir a quantidade de plástico em decomposição no planeta. O polietileno está presente em 30% de todo o plástico produzido no mundo. Seu uso é bastante diverso – vai desde sacolas até embalagens e coletes à prova de balas.
O ritmo da produção não acompanha a reciclagem. Hoje a única forma de reaproveitar esse material em escala é através de processos mecânicos e na criação de produtos de menor valor.
Próximos passos
A identificação da composição química da saliva desses vermes pode criar produtos valiosos para decompor plástico e evitar que mais plástico seja feito a partir do petróleo – um processo poluente e cujo descarte inadequado prejudica bastante o ambiente.
Os pesquisadores esperam criar “cópias” sintéticas das enzimas da saliva dos vermes da cera e, assim, superar um gargalo na degradação do plástico: a quebra inicial das cadeias poliméricas.
Esse processo requer altas temperaturas, enquanto as proteínas dos insetos funcionam em temperatura ambiente, na água e em PH neutro.
Mas ainda é cedo para dizer quando o produto entrará no mercado, disseram os pesquisadores. A equipe entende que a pesquisa ainda não dá conta de uma estratégia completa para lidar com resíduos plásticos, mas que no futuro existirão grandes usinas de reciclagem com essas enzimas e até “kits” para reciclar sacolas plásticas em casa.
Uma pesquisa independente, também publicada na terça (4) pela revista Chem, é mais cética. O texto, assinado por pesquisadores chineses, aponta que criar enzimas sintéticas degradadoras de plástico significa altos custos e poucas chances de dar certo.
“A alta despesa de sintetizar quimicamente as enzimas de imagem espelhada provavelmente supera em muito qualquer benefício modesto de uma meia-vida aprimorada da enzima”, diz o artigo.