Ajuda entre telescópios: Hubble faz imagem infravermelha para o James Webb
Telescópios espaciais funcionam a partir de diferentes “filtros”, que os permitem olhar para cantos diferentes do Universo. Alguns deles são especialistas em identificar objetos celestes que emitem ondas de raios-X — caso do Chandra. Já outros, como o Fermi, focam em captar radiação gama, por exemplo. O Hubble, o mais prolífico telescópio da história, funciona na luz visível e em uma parte do espectro da radiação infravermelha
Explicado tudo isso, aí vai a notícia. Uma equipe internacional de astrônomos divulgou a maior imagem de galáxias já feita pelo telescópio Hubble na faixa do “infravermelho próximo”. O trabalho visa encontrar potenciais objetos de fora da galáxia para serem estudados pelo recém-lançado James Webb, assim como outros futuros telescópios espaciais.
Para fazer a foto, o Hubble utilizou a Wide Field Camera 3 (WFC3), uma câmera que tem um grande campo de visão e permite estudar objetos astronômicos em uma faixa de comprimento de onda mais ampla. O alvo foi uma região do céu de apenas 1,35 graus quadrados – o que equivale ao diâmetro de cerca de 6 luas cheias –, porém, ele contém milhares de galáxias distantes.
A produção da imagem contou com uma nova técnica, que permite fotografar um campo oito vezes maior do que o padrão usado até então pelo Hubble. Batizada de Drift And Shift (DASH), a técnica permitiu tirar oito fotos por órbita do telescópio espacial, em vez de apenas uma foto, como era feito normalmente.
Ao todo, foram necessárias 250 horas para compor as várias fotos que, posteriormente, foram unidas em um mosaico – da mesma forma como fazemos uma foto panorâmica no celular. Antes, um mesmo mosaico poderia levar 2.000 horas para ser feito. As galáxias antigas podem ser apreciadas abaixo:
A pesquisa ainda será publicada na revista científica The Astrophysical Journal, mas já está disponível para consulta no site arXiv.
Hubble captou galáxias de 10 bilhões de anos
Ao identificar potenciais alvos de estudo, o Telescópio Espacial James Webb poderá examinar com mais detalhes essas galáxias, graças ao seu espelho de 6,5 metros — que consegue coletar mais luz do que o Hubble.
Ao observar na faixa do infravermelho, os astrônomos podem ver as galáxias mais antigas e que estão mais distantes, com algumas delas mostrando como eram a cerca de 10 bilhões de anos atrás – quando a nossa galáxia ainda estava se formando. O mosaico permitirá o mapeamento de regiões de formação de estrelas e aprender como as galáxias mais antigas e distantes se originaram.
Além disso, o trabalho ajudará a identificar fenômenos raros, como as galáxias mais massivas do Universo, buracos negros altamente ativos e galáxias à beira de colidir e se fundir. “Isso nos dá uma prévia das futuras descobertas científicas e nos permite desenvolver novas técnicas para analisar esses grandes conjuntos de dados”, disse Ivelina Momcheva, chefe de ciência de dados do Instituto Max Planck de Astronomia.
Porém, para fazer imagens maiores de galáxias distantes que a feita pelo Hubble, será necessário aguardar o lançamento de telescópios espaciais de nova geração, como o Nancy Grace Roman Space, da NASA, e o Euclid, da Agência Espacial Europeia, programados para serem lançados em 2023 e 2027, respectivamente.
Em operação há mais de 30 anos, o telescópio espacial Hubble deverá continuar trabalhando até pelo menos junho de 2026. Já o James Webb já produziu suas primeiras imagens com qualidade científica. O material deve começar a ser divulgado a partir do próximo dia 12 de julho.