Alta taxa de mortalidade de peixes-boi preocupa autoridades ambientais na Flórida

O crescimento descontrolado de algas marinhas vermelhas pode ser um dos fatores responsáveis por tantas mortes.
Foto: Eva Marie Uzcategui / AFP (Getty Images)

A Comissão de Pesca e Vida Selvagem da Flórida disse na semana passada que até 21 de maio quase 750 peixes-boi já morreram este ano. Isso significa que os peixes-boi, emblemáticos do estado americano, estão em perigo.

Ainda não está totalmente claro o que está matando os animais, mas há evidências de uma série de fatores envolvidos. Um grande problema para estes animais é que as ervas marinhas, sua comida favorita, estão morrendo, em parte devido à intensa proliferação de algas que assola a Flórida nos últimos dois anos.

O aumento de algas verde-azuladas — que são causadas pelo escoamento rico em nutrientes da agricultura e de outras indústrias — tem ocorrido regularmente nos corpos d’água em que os peixes-boi habitam.

O crescimento de algas vermelhas, uma ocorrência natural que é sobrecarregada por poluentes e outros fatores humanos, assolou todo o estado em 2018, matou vários peixes e fechou praias. A mudança climática também está aquecendo as águas, permitindo que as algas floresçam.

A proliferação de algas é uma notícia terrível para as ervas marinhas. Indian River Lagoon, um dos estuários (ambiente aquático de transição entre um rio e o mar) de maior diversidade biológica do país, que milhares de peixes-boi vêm visitar a cada ano, viu algas vermelhas mortais crescerem cada vez mais em seus cursos de água na última década.

Cerca de 58% das ervas marinhas na lagoa morreram desde 2009, disse o distrito local de gestão da água do rio. Os peixes-boi, que pesam em média 544 kg, precisam comer entre 27 e 54 kg de comida por dia. Com a escassez de ervas marinhas, parece que os peixes-boi podem estar literalmente morrendo de fome.

Quando as marés vermelhas invadem o habitat desses animais, as toxinas produzidas pelas algas podem se acumular nas ervas marinhas — outra forma de matar as pobres criaturas. Em 2013, uma maré agressiva matou mais de 200 peixes-boi. Também existem preocupações sobre os níveis de pesticidas nos próprios animais.

Um estudo publicado na Environment International avaliou o plasma dos mamíferos e encontrou glifosato, ingrediente ativo em herbicidas como o Roundup, utilizado para eliminar as plantas daninhas, em mais de 50% dos animais amostrados.

A pesquisa também descobriu que os níveis de glifosato nos bichos “aumentaram significativamente” entre 2009 e 2019, possível devido em parte ao cultivo de cana-de-açúcar em Everglades, Flórida. A exposição crônica ao glifosato, segundo o estudo, pode ter impactos nos sistemas renais dos peixes-boi e enfraquecer seus sistemas imunológicos, já que estão sendo expostos à proliferação de algas ou ao estresse causado pelo frio devido às mudanças de temperatura.

O recorde de mortalidade do peixe-boi atual foi estabelecido em 2018, quando 804 animais morreram. Contudo, este ano está caminhando para bater esse triste marco. Não temos nenhum peixe-boi sobrando: antes de 2021, havia apenas cerca de 7.500 peixes-boi das Índias Ocidentais na natureza. Essa população poderá sofrer um grande golpe se as mortes chegarem a mil ainda este ano, de acordo com a projeção de alguns especialistas.

A extinção dos peixes-boi é, obviamente, uma grande tristeza para os fãs das vacas marinhas. Mas também são notícias terríveis para o ecossistema da Flórida e até para a vida humana, como disse o diretor executivo do Save the Manatee Club, Patrick Rose, à CNN.

“Os peixes-boi são literalmente aquela espécie-sentinela, eles estão nos alertando sobre o que mais vai acontecer se não fizermos um trabalho melhor enquanto ainda há tempo para fazer algo a respeito. Se não o fizermos, nossas próprias vidas sofrerão.”

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